Agronegócio

Suinocultura regional: Exportações crescem 26% em detrimento do mercado interno

De janeiro a junho deste ano, a região exportou, entre carne e derivados, cerca de 70 mil toneladas

Suinocultura se consolida na região com plantel estático de 4,3 milhões de cabeças
Suinocultura se consolida na região com plantel estático de 4,3 milhões de cabeças

Medianeira – As exportações em alta da carne suína, que cresceram mais de 70% neste ano no Paraná, representam acréscimo de apenas 20% nas comercializações firmadas pelos fornecedores da região oeste com outros países considerando a quantidade de toneladas. O oeste é o maior produtor do Estado com um dos maiores plantéis estáticos do País, com cerca de 2,6 milhões de cabeças em mais de 5 mil propriedades integradoras, além de contar com as principais indústrias do ramo no Brasil.

De janeiro a junho deste ano, a região exportou, entre carne e derivados, cerca de 70 mil toneladas. Em 2018 haviam sido 58,4 mil toneladas, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Em volume financeiro, esse avanço foi de 26%: saiu de US$ 25,6 milhões no primeiro semestre do ano passado para US$ 32,4 milhões neste ano, revelam os dados da balança comercial. Entre as condições que mais chamam atenção é que, apesar da demanda superaquecida no mercado internacional, tendo em vista que a China vive uma intensa crise sanitária e já abateu 4 milhões de cabeças de suínos, as vendas regionais não tiveram incremento nos preços. Aliás, o que se vê é até uma diminuição no valor do quilo exportado. Em 2018, em média, o quilo da carne de porco ou de seus derivados foi comercializado por US$ 2,28. Neste ano, os contratos foram firmados em US$ 2,16, retração de 5%. Se comparada com as vendas de 2017, a redução é ainda maior. Nos primeiros seis meses daquele ano a média do quilo era vendida a US$ 2,57, o recuo em 2019 chega então a 16%.

Mas como explicar esse desempenho, diante de um mercado tão sedento pela proteína? Para o agrônomo especialista de mercado José Augusto de Souza, a explicação não representa demérito regional. Muito pelo contrário.

Segundo ele, o abastecimento interno, ou seja, do mercado brasileiro, está bem consolidado com a absorção de quase todo o produto originário do oeste paranaense, não deixando muitas margens para que os contratos possam ser expandidos para fora do País. Ao menos não de imediato nem sem um intenso planejamento. “A região tem um mercado bem consolidado, então ela abastece o consumo interno. O que vemos nas exportações, na maioria dos casos, são contratos firmados ainda no fim do ano passado, ou seja, não são acordos imediatos, isso justifica inclusive o preço que vem sendo pago pelo produto regional, foram valores acertados anteriormente, ainda no fim de 2018. Neste período a China segurava o máximo de informações possíveis sobre sua crise sanitária e o avanço da peste suína de modo que pudesse comprar o maior volume de carnes, para formar estoques, a preços competitivos. Só depois que as informações se espalharam com mais facilidade sobre a real condição por lá”, ressaltou Souza.

Uma China sedenta por todo tipo de proteína

Ainda em busca de formar estoques, o especialista reforça que a China, principal parceria comercial da região, está adquirindo todas as proteínas por todo o planeta e isso justifica o incremento expressivo às exportações de frango da região para o país asiático. “Ela ainda está compondo seus estoques, mas vai comprar a preços que sejam mais competitivos para ela e de mercados que tenham para abastecer e isso vale para todo tipo de proteína. O que tiver, vai ser vendido porque diferente do Brasil, lá se consome o que o governo determina que seja consumido”, considera o especialista de mercado José Augusto de Souza.

Questionado se os novos contratos prometem prever acréscimo nas vendas regionais especificamente da carne suína, José Augusto diz acreditar que não, justamente pelo fato de o oeste não ter capacidade para ampliação imediata de plantéis nem produção que possa abastecer os mercados interno e externo. “Por aqui estamos trabalhando no limite das nossas demandas”.

Somente as duas indústrias que mais processam derivados na região, uma de Toledo e outra em Medianeira, precisam diariamente de 350 a 400 toneladas de carne suína para os segmentos de presunto, salsicha e linguiça. “E o mercado interno remunera bem. Por outro lado, os frigoríficos preferem não optar por uma terceira escala de trabalho que gera custos e não se sabe como será o comportamento do mercado internacional no momento da renovação dos contratos, no fim do ano até fevereiro do ano que vem. Isso significa que o mercado brasileiro é certo, as exportações são mais volúveis”, completou.

Mudança de perfil

José Augusto de Souza reconhece que em poucos anos a suinocultura regional deverá desbravar com mais voracidade o mercado internacional, sobretudo com a conquista de novos mercados, o que promete vir com o selo ao Paraná de área livre de aftosa sem vacinação, o que dará mais credibilidade sanitária alcançando, assim, mercados que hoje ficam restritos ao estado de Santa Catarina, o único a ter esse status no País.

Projetos audaciosos têm a ampliação desses consumidores na mira. Entre eles está o novo frigorífico em construção da Frimesa, em Assis Chateaubriand. A obra, que vai custar R$ 1,4 bilhão, quando passar a operar, em 2027, promete dobrar a capacidade diária de abate da região, hoje fixada em 15 mil cabeças, chegando a 30 mil/cabeças dia.

Reportagem: Juliet Manfrin