Agronegócio

Safra 2019/2020: Atraso na soja pode aumentar área de trigo

Por conta das geadas, houve uma perda de 1,3 milhão de toneladas de trigo no Estado.

Foto: Aílton Santos
Foto: Aílton Santos

Reportagem: Cláudia Neis

Cascavel – O atraso no plantio da soja, finalizado na última semana na região oeste, pode fazer com que a área de trigo ano que vem seja maior, afirma o engenheiro agrônomo Hugo Godinho, do Deral (Departamento de Economia Rural). “Ainda é cedo para afirmar o quanto esse plantio mais tardio da soja vai afetar o próximo plantio. Mas fato é que, com o atraso, muitos produtores podem preferir não fazer a safrinha de milho, mais sensível ao frio do que o trigo. Assim, esse atraso na soja poderia casar com uma possível antecipação do trigo e evitar que ele seja atingido pela geada na fase mais crítica”, explica Hugo.

Por outro lado, ele lembra que é uma decisão de alto risco, pois a maioria já vem amargando prejuízos há algumas safras e o preço da saca no momento não está nada atrativo: em média R$ 47 a saca de 60kg. “O valor da saca está próximo do custo. É claro que estamos em uma época de entressafra, mas, se analisarmos a situação da cultura no mundo, não dá para prever uma melhora considerável”, avalia.

Ele lembra que a importação do trigo argentino pode sofrer alterações com a eleição de Alberto Fernández para a Presidência. A política de exportação da cultura mantida por Mauricio Macri, que isenta o trigo da taxa de exportação, pode ser modificada. Caso a cobrança seja retomada, além da exportação ser reduzida no país, a área plantada também deve diminuir. A diminuição gradual da produção do grão nos Estados Unidos também é um fator a ser considerado. “Nós temos as situações dos EUA e da Argentina que podem diminuir a entrada do trigo no Brasil e mexer com os preços, mas também tem a situação da Rússia, que já exportou trigo para o Brasil em 2019 e existe uma tendência de aumentar esse volume. Por isso, não há grandes possibilidade de mudança no preço, porque não deve faltar trigo no Brasil”.

Safra 2019
De acordo com o balanço do trigo da safra 2019, divulgado pelo Deral, a área plantada está quase toda colhida e a produção chega 2,1 milhões de toneladas, volume 24% menor que na safra passada e 35% menor em relação ao potencial da cultura no Paraná. Por conta das geadas, houve uma perda de 1,3 milhão de toneladas de trigo no Estado.

Soja e milho
Ainda conforme o Deral, a safra de grãos de verão do Paraná 2019/20 pode ter produtividade de até 23,4 milhões de toneladas, 19% acima do mesmo período do ano anterior, quando foram colhidos 19,7 milhões de toneladas.
O plantio da soja ocupa 92% da área plantada em todo o Estado, com 5,4 milhões de hectares. A área total plantada com grãos de verão no Paraná atinge 5,98 milhões de hectares. O clima melhorou e muitas lavouras se recuperaram do período de falta de chuvas e excesso de calor que impediu o plantio, principalmente em setembro.
Já a primeira safra de milho está totalmente plantada e ocupa uma área de 335 mil hectares, 7% a menos que na safra anterior, com previsão de colher 3,1 milhões de toneladas.

Lavouras do oeste
Na região oeste, o plantio de soja e milho está finalizado. A falta de chuva, além de atrasar o cultivo, obrigou o replantio de algumas áreas. Números do Deral mostram uma diferença na qualidade das lavouras nas regiões de Toledo e Cascavel.
Das lavouras de milho da região de Cascavel, por exemplo, 20% estão em situação média e 80% boa. Na região de Toledo, há 10% em situação ruim, 10% média e 80% boa.

No caso da soja na região de Cascavel, 3% das lavouras são consideradas ruins, 22% são avaliadas como médias e 75% como em bom estado. Já na região de Toledo, há 12% da área de soja em situação ruim, 8% média e 80% boa.
A explicação pode estar no volume de chuva registrado e também na qualidade do solo. “Os solos têm composição diferente, mas, nesse caso, acredito que a diferença no volume de chuva registrado entre uma região e outra fez a diferença, especialmente nessa fase de germinação”, explica o administrador do Deral, Edmar Gervásio.

Edmar adianta que ainda é cedo para uma projeção da produção dessas áreas, pois as plantas podem se recuperar e, se o clima colaborar nas fases de floração e frutificação, a situação pode ser totalmente diferente do que se vê nessa fase inicial da safra.