Cotidiano

Rumo propõe antecipar concessão e “engolir” estrutura da Ferroeste

A Rumo Logística, que detém boa parte das linhas férreas do Estado, quer antecipar a concessão no Paraná, que vence em 2026

Foto: Arquivo
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Reportagem: Josimar Bagatoli

Cascavel – Enquanto os pedágios das rodovias monopolizam as discussões, com as futuras concessões, outro grande negócio está em andamento e de forma bastante acelerada: a concessão das ferrovias no Estado.

A Rumo Logística, que detém boa parte das linhas férreas do Estado, quer antecipar a concessão no Paraná, que vence em 2026. Ontem, durante o Fórum de Logística do Cooperativismo Paranaense, Cristiano Donatti, da área de projetos estratégicos da Rumo, traçou as expectativas da empresa: apresentou os investimentos de R$ 2 bilhões feitos nos últimos dois anos, e outros R$ 6 bilhões em projetos prometidos em cinco anos, mas com uma condição: de que ocorra a antecipação da concessão.

Obras que potencializariam o transporte pelos trilhos no oeste do Paraná, aumentando em oito vezes o volume transportado, mas para isso “engoliria” a Ferroeste, hoje comandada pelo Estado. “É preciso definir o projeto necessário, mas a Rumo tem interesse em continuar”, disse Donatti.

Durante o encontro, ontem, ele afirmou que é preciso decidir: ou espera até o fim do contrato para só depois executar os projetos de obras consideradas de grande proporção, que levarão até quatro anos para ficarem prontas (em 2030) ou se decide pela antecipação da concessão. “O impacto passa a ser mais rápido. É possível executar um trecho mais curto de 200 quilômetros – hoje de 250 quilômetros – com uma velocidade maior para o transporte. Também temos interesse em uma ferrovia moderna no oeste para o transporte da produção do Paraguai por Guaíra, que carrega 12 milhões de toneladas até o Porto de Paranaguá”.

A pressão para acelerar a concessão é analisada com desconfiança pelo setor produtivo, que enxerga nesse interesse exagerado por parte da empresa uma verdadeira armadilha que tende a custar caro, assim como aconteceu com o contrato da concessão das rodovias em 1998.

Dilvo Grolli, presidente da Cotriguaçu (Cooperativa Central Regional Iguaçu), durante o evento, declarou que “não se pode comprar nada enlatado”, referindo-se ao pacote de ações apresentado pela Rumo.

Ele questionou os motivos pelos quais a empresa não fez esses investimentos durante o contrato vigente de 30 anos.

Ferroeste bilionária

Dilvo revela que nos últimos anos o investimento feito pelas cooperativas na área da Ferroeste – que estará inclusa no processo de concessão – chega a R$ 1 bilhão. A partir de 2037, as estruturas de terminal de grãos, contêineres, câmara fria e armazenamento passam para o domínio da Ferroeste. Se houver a concessão, a empresa passará a deter todo esse investimento. “Tivemos um grande prejuízo nas operações: em 2020, nossa meta era transportar 24 mil contêineres de Cascavel a Paranaguá; ano passado chegamos a apenas 7,3 mil. Falta eficiência. A meta era investir R$ 500 milhões, investimos apenas R$ 200 milhões e os associados vêm carregando o prejuízo do retorno que não aconteceu”, afirma Grolli, referindo-se ao aumento do volume transportado que não aconteceu.

Em todo o Estado, a produção transportada é de 9,4 milhões de toneladas pela Rumo.

Outros interesses

A Ferroeste detém o direito da estrutura ferroviária até 2099, no trecho entre Cascavel e Guarapuava. Se for incluída em algum pacote de concessão, a “vencedora” também terá posse desse direito.

Dilvo Grolli ressalta que os interesses da empresa vão muito além do transporte de cargas: “Em 2015, 50% das cargas transportadas eram de açúcar e em 2018, 29%… o que ainda é alto, diante de outros produtos como farelo de milho, soja e milho. Ocorre que a Rumo Logística é uma empresa do Grupo Cosan, que possui grande atuação na venda de açúcar”.

Carta “entrega” a Ferroeste

O governador Ratinho Júnior (PSD) recebeu do Instituto de Engenharia do Paraná uma carta assinada por diversas autoridades que manifesta apoio para que a Rumo antecipe a concessão. Conforme o documento, “a Rumo se comprometeu a incrementar as manutenções no trecho entre Guarapuava e Desvio Ribas e acrescentar ativos rodantes para aumentar o volume transportado em atendimento ao oeste, mediante um Contrato Operacional Específico”, o que surtiria efeito na próxima safra.

Consta ainda que, “para solução definitiva para o modal ferroviário no oeste do Paraná, a Rumo apresentou interesse em adquirir os direitos de concessão da Ferroeste”.

O documento foi rechaçado pelos cooperativistas do oeste do Paraná. “Querem fazer como fizeram nas rodovias. Não vamos aceitar, queremos transparência e que sejamos ouvidos”, ressalta Dilvo Grolli.


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