Política

“Precisamos quebrar com a panelinha”

Nesta semana entrevistamos o candidato a prefeito de Cascavel, Paulo Porto (PT-PCdoB)

“Precisamos quebrar com a panelinha”

Neste ano, Cascavel tem oito postulantes à chefia do Executivo, o que aumenta a possibilidade de a disputa ir para o segundo turno. Para manter a tradição da ampla cobertura das eleições municipais em Cascavel, o Jornal O Paraná entrevista esses candidatos.

A coligação Coligação Democrática e Popular: Cascavel da Gente (PT-PCdoB) traz Paulo Porto como candidato a prefeito e Margarete Rozatti a vice, representando a esquerda nestas eleições.

Paulo Porto, inclusive, reforça a ideologia da esquerda em suas propostas, defendendo um Estado amplo e fortalecido, sendo o protagonista para a recuperação econômica do País frente à pandemia do novo coronavírus. Ele se apresenta como a opção para “quebrar a panelinha” que sempre governou Cascavel. A íntegra você confere no site do jornal (oparana.com.br).

 

O Paraná – O que te motivou a disputar um cargo para gestor?

Paulo Porto – Eu estou em Cascavel há 20 anos, local que escolhi para viver, formei minha família, me formei como professor e trabalhei em várias instituições privadas antes de ir para a Unioeste. De 2004 a 2008 eu me tornei secretário do Governo Lísias Tomé, no cargo de Assuntos Comunitários, e tive a oportunidade de conhecer uma Cascavel que poucos conhecem, a Cascavel dos bairros. Em 2012, eu me elejo vereador, agora estou caminhando para o final do segundo mandato. Eu tive o privilégio de conhecer os dois lados dessa mesma moeda que é a cidade de Cascavel. Ou seja, a Cascavel na perspectiva da máquina pública, de secretário/gestor, e na perspectiva do Legislativo, que você tem um papel diferente, de fiscalizar a acompanhar as ações do Executivo. Esse conhecimento que tenho por Cascavel e o profundo amor que tenho por essa cidade me apontaram a necessidade de me alçar a candidato a prefeito de Cascavel. Mas deixando claro também que isso não pode ser um projeto pessoal. Esse projeto hoje é um projeto coletivo, a partir do PT, do PCdoB, de companheiros do Psol que não estão conosco mas estão conosco na rua, companheiros da Rede…

 

O Paraná – Vocês são os únicos representantes da esquerda?

Porto – Hoje temos oito candidatos a prefeito, se avaliar os oito, sete deles, sem sombra de dúvida, estão alinhados a um determinado espectro político: Ratinho/Bolsonaro. Nossa candidatura vai dar ao eleitor cascavelense que não se identifica nem a Bolsonaro nem a Ratinho a ter opção de voto. Cascavel sempre foi governada a partir de uma panelinha, que vou chamar de patronato. Tanto que já foi chamada de “Fazenda Iluminada”… Desde sempre tem sido assim, ou você elege prefeitos ligados ao patronato, ou o próprio patronato. Cascavel tem que romper essa panela com candidaturas não alinhadas ao patronato, mas alinhadas aos interesses da coletividade, e, quando digo coletividade, digo todos os cascavelenses. Cascavel é uma cidade rica, nosso PIB é de R$ 7,5 bilhões, segundo o Ipardes, nosso orçamento municipal é de R$ 1,3 bilhão, somos uma cidade rica, com IDH alto, renda per capita alta. Agora, tem dados que nos assustam: 86 mil pessoas, dos 340 mil cascavelenses, estão no Cadastro Único, que, todos sabem, são pessoas que necessitam de auxílio federal, estadual e municipal para sobreviver, para poder comer. E 15% da população vive em pobreza extrema, com menos de US$ 1 por dia. Ou seja, você tem 15% da população cascavelense que ganha uma passagem de ônibus por dia para comer, beber, vestir seu filho e pagar aluguel. Ou seja, somos uma cidade rica, pujante, mas ainda com bolsões de pobreza. Precisamos debater isso de maneira assertiva. A gente pensa Cascavel a partir de três eixos: um eixo político, que é romper essa panelinha; um eixo socioeconômico, debater as questões e as contradições de Cascavel; e uma perspectiva de sustentabilidade ambiental: vivemos numa das cidades que mais consomem agrotóxicos do mundo, temos hoje uma crise hídrica se avizinhando, segundo a Sanepar nos próximos 20 anos teremos problemas de potabilidade de água, e Cascavel tem 1.272 fontes georreferenciadas, dessas 30% tem alguma proteção e só 2% proteção ideal. Para proteger todas, custaria R$ 5 milhões em quatro anos. Quero colocar tudo isso em debate nestas eleições para que o cascavelense possa optar que gestão ele quer, que Estado que ele quer.

Cascavel sempre foi governada a partir de uma panelinha, que vou chamar de patronato. Tanto que já foi chamada de “Fazenda Iluminada”

O Paraná – Como está sendo montado o plano de governo?

Porto – Nós montamos grupos temáticos, grupo de 15 servidores da saúde municipal, servidores da cultura, do esporte… sentei com economistas da Unioeste para pensar um plano sobre geração de emprego e renda. O ano que vem será um ano muito difícil para os pequenos empresários. Ou a gente tem um programa muito assertivo de auxílio a essas pessoas ou a crise vai se agudizar. A impressão que temos é que a ajuda não virá do governo federal, e caberá aos municípios serem os indutores da economia. Por isso, sentamos com amigos, professores e técnicos para apresentar um projeto factível, não demagógico.

 

O Paraná – Como pretende formar seu secretariado?

Porto – Privilegiar a própria máquina pública. Pensar os técnicos da prefeitura, tem que ser um secretariado técnico. Claro que quando você pensa em secretariado você pensa nas forças políticas que estão com você. Não porque são aliados, mas porque pensam como você. Você monta um grupo que tem uma afinidade política de proposta de governo. O programa tem que ser executado, e para ser executado, temos que trazer pessoas que entendam esse programa, que defendam esse programa. Tem que ter um projeto que seja uma teia que rege todas essas secretarias.

Paulo Porto emenda na resposta algumas propostas de governo…

Porto – Qual a proposta que nós temos: geração de emprego, de renda e fortalecimento de políticas públicas aos mais vulneráveis. Como se faz isso? Muitas vezes com uma canetada. Temos na merenda escolar, R$ 13,5 milhões por ano que, chova ou faça sol, a prefeitura gasta com nossas 37 mil crianças. Um dinheiro que já existe. Desse valor, R$ 11 milhões não ficam em Cascavel. São licitações, transparentes, que vão para empresas alimentícias de Curitiba, Maringá, grandes empresas… Inclusive apresentei essa lei ao [prefeito Leonaldo] Paranhos três anos atrás, porque é uma lei do Executivo, em que você obriga que o Município gaste, por exemplo, 75%, R$ 10 milhões, em Cascavel, com o pequeno agricultor. Temos demanda para isso. Temos oferta para isso. Você ia garantir duas coisas: primeiro que o dinheiro fique em Cascavel. Imagine R$ 10 milhões na economia local, na mão do pequeno agricultor, você gera emprego e gera renda. Segundo, você garante comida mais saudável na mesa das crianças. Não é difícil. É você gerar renda, gerar emprego, com recursos públicos.

Outro exemplo: sábado livre (sem tarifa de ônibus). Quando você coloca tarifa zero no transporte, o primeiro efeito é no comércio, porque as pessoas consomem. As pessoas vão tomar sorvete, vão comer pizza, visitam lojas e acabam comprando. E, com aumento do comércio, para o Município é bom. Tem coisas que se retroalimentam. O ex-presidente Lula falava uma coisa que eu achava genial: “A solução da economia está no pequeno”. Você investe no pequeno e a economia anda, a riqueza se distribui. Esse é o conceito que a gente quer debater, quando falo em legislação de emprego e renda e garantia de direitos, porque, ano que vem, vamos ter que manter as políticas assistenciais funcionando, todas. Vamos tem que avançar na geração de emprego e renda. Se a gente conseguir criar mecanismos de induzir, ou seja, garantir que parte dos recursos públicos chegue aos pequenos, que vão gerar emprego e renda, volta para a máquina pública.

 

O Paraná – Mesmo com programas que se retroalimentam, é preciso que o primeiro passo, ou seja, a injeção de recursos inicial, seja do poder público. Como fazer isso se o Estado diz que está falido?

Porto – Vou responder de maneira assertiva. Vamos falar de IPTU, um debate popular. Hoje nós arrecadamos R$ 10 milhões a mais que Toledo e R$ 102 milhões a menos que Maringá. Precisamos debater o IPTU. Precisamos debater uma carga tributária mais justa para Cascavel. Passa por esse debate. Passa pelo debate de prioridades.

A impressão que temos é que a ajuda não virá do governo federal, e caberá aos municípios serem os indutores da economia

O Paraná – Cidades vizinhas destinam parte do orçamento para emendas impositivas definidas pelos vereadores. Pretende adotar algo semelhante em Cascavel?

Porto – Sim e não. Eu sou contra, porque o papel do vereador é fiscalizar, é ser vocalizador das demandas do Executivo e fazer leis. Não é para destinar recursos. Agora, por outro lado, faremos o orçamento participativo. Destinar parte do orçamento municipal para a comunidade debater. Ir aos bairros de Cascavel e dizer: para essa região o Executivo tem para destinar tantos milhões, como é que vocês querem: mais um Cmei, revitalizar posto, o que vocês pensam? Traz a população para governar com você.

 

O Paraná – A prefeitura tem hoje 13 secretarias, mais Procuradoria-Geral e seis órgãos de administração indireta. Pretende manter essa estrutura?

Porto – A princípio sim. O que eu mudaria? Não deu certo fundir esporte com cultura. Está provado que não foi bom. Nem para a cultura nem para o esporte. Foi criada a fundação de esporte e cultura para captar recursos. Fiz um requerimento perguntando quanto captaram. Resposta: nada! Ou seja, deu errado e deu ruim.

O Paraná – Sendo do PT, como lidar com todos os escândalos que aconteceram no cenário nacional envolvendo o partido?

Porto – Temos que debater isso e me interessa essa pergunta. Tem partidos com mais problemas com o PT, só que existe uma certa perseguição com relação ao Partido dos Trabalhadores. Vamos falar de corrupção. Se você pegar os partidos que têm mais políticos cassados, não é o PT. Primeiro é o PP, depois o DEM, o PSDB, o PT está lá embaixo. Se você pensar nos escândalos nacionais, o PT participou de alguns como todos os partidos participaram. Mas, a partir de 2014, 2015, houve uma certa disputa política no Brasil por concepção de Estado. O PT defende um Estado mais amplo, fortalecido. O PT com todos os seus erros e acertos tirou 36 milhões da miséria. O PT, com todos os seus erros e acertos, fez muito pelo Brasil em relação à classe trabalhadora e também aos empresários. A diferença entre o PT e os demais partidos é que o PT erra como todos, mas o PT tem um legado para apresentar, os outros não têm.

 

O Paraná – Como fazer para voltar as aulas?

Porto – Vamos ter que pensar em duas alternativas. Primeiro, potencializar alguns canais de comunicação remota. Acho que isso veio para ficar. E não é ruim; temos que aprender a lidar com isso. E segundo, vamos ter que ter mais servidores na educação, salas mais amplas, ter mais instalações e contratar mais gente.

 

O Paraná – Isso não se resolve em quatro meses…

Porto – Pode-se pensar pra frente. Não tem receita. Quem falar que está resolvido ou está fácil, não está fácil. Creio que vamos ter que lidar melhor com essa comunicação remota, e sei que é muito difícil… Nem toda criança tem acesso confortável a uma aula remota, não tem notebook, não tem lugar para estudar em casa, está um problemaço isso… Essas crianças vão ter que voltar para a sala de aula uma hora… As salas de aula vão ter que receber; vão ter que ser salas mais amplas, ter mais professores, salas com menos pessoas, é isso. Não tem como! Vamos ter que nos adaptar e adaptar, nesse caso, voltamos à conversa inicial: cabe ao Estado fortalecer, não tem como fugir disso, por isso a grande lição da pandemia: a importância do Estado e das políticas públicas. Por isso é importante defender sempre servidor público, políticas públicas, estado ampliado, ao contrário do que alguns defendem “tem que enxugar, tem que enxugar a máquina, tem que gastar menos dinheiro”…

Está um problemaço isso… Essas crianças vão ter que voltar para a sala de aula uma hora… As salas de aula vão ter que receber

O Paraná – Por que o eleitor deveria votar em você?

Porto – Se você defende um estado fortalecido, que os mais vulneráveis necessitam do governo, uma Cascavel mais inclusiva, uma Cascavel que quebre a panelinha dos que sempre mandaram na cidade, uma Cascavel que seja mais próxima dos pequenos agricultores, dos pequenos empresários, uma Cascavel que combata a pobreza e a miséria de maneira sincera, cujo único comprometimento seja com o trabalhador e o pequeno empresário, com quem gera riqueza em Cascavel, nós somos a opção.

Coligação: PT-PCdoB

Chapa: COLIGAÇÃO DEMOCRÁTICA E POPULAR: CASCAVEL DA GENTE

Candidato a prefeito: Paulo Porto

Candidata a vice: Margarete Rozatti

perfil

Paulo Porto é casado com a professora Liliam, pai da Laura, do Caetano e do Hildo. Professor da Unioeste, tem doutorado em Educação. Trabalha como indigenista desde a década de 1990, foi assessor de Assuntos Comunitários de Cascavel no Governo Lísias Tomé. Em 2012 foi eleito vereador e reeleito em 2016.

Margarete Vizcineski Rozatti tem 52 anos, mora na Comunidade de São Salvador, casada com José e mãe de Marcos, Victor e Maria Vitória. Foi coordenadora da Pastoral da Criança, agente comunitária de Saúde da Família e Saúde Preventiva, e hoje atua como agente educacional I na Escola do Campo São Salvador.

Assista a entrevista completa: