Política

MP vê inconsistências em licitações de 66% das prefeituras do Paraná

Em Guaíra, por exemplo, a ferramenta identificou um caso de licitação com o mesmo objeto, valor e associação contratada para um “serviço de atendimento multidisciplinar a pessoas com sintomas respiratórios”, situação que indicava risco de terceirização ilícita de serviços de saúde

Laboratório Central do Estado - LACEN  -  Recepção  de amostras para teste do Coronavirus. 
Curitiba, 01/04/2020 - Foto: Geraldo Bubniak/AEN
Laboratório Central do Estado - LACEN - Recepção de amostras para teste do Coronavirus. Curitiba, 01/04/2020 - Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Curitiba – Desde o início da pandemia, em março do ano passado, os municípios paranaenses publicaram editais relacionados à contenção da doença que somam R$ 610.654.090,02 em seus portais da transparência. Nesse universo, o MP-PR (Ministério Público do Paraná) verificou 702 processos suspeitos, com indícios de superfaturamento ou terceirização indevida de serviços em contratações feitas por 263 prefeituras, o que equivale a 66% dos municípios do Paraná.

Esses dados constam no Painel Covid-19, sistema do MP-PR que permite o acompanhamento de licitações e valores dirigidos ao controle do coronavírus em cada cidade do Estado e que neste mês completa 11 meses de funcionamento.

Conforme dados dos Fundos Nacional e Estadual da Saúde, indicados no Painel Covid-19, os municípios paranaenses receberam R$ 1.242.100.038,68 em aportes federais para o enfrentamento da pandemia de covid-19, além de R$ 22.867.914 transferidos pelo Estado do Paraná.

O promotor de Justiça Leonardo Dumke Busatto, responsável pelo sistema no Centro de Apoio, explica que os agentes ministeriais dispõem ainda do recurso de “alerta de risco”, que aponta dados em desconformidade quanto a preço ou contratação de serviços. “São elementos que podem indicar irregularidades na condução dos recursos, que podem ser meras inconsistências de informação ou de fato ilegalidades na gestão desses valores. Por isso merecem atenção especial”, afirma. A partir desses indicativos, o Caop faz a sinalização às Promotorias, que podem abrir procedimentos específicos para verificar o que ocorreu.

Em Guaíra, por exemplo, a ferramenta identificou um caso de licitação com o mesmo objeto, valor e associação contratada para um “serviço de atendimento multidisciplinar a pessoas com sintomas respiratórios”, situação que indicava risco de terceirização ilícita de serviços de saúde. A Promotoria de Justiça da comarca foi alertada, abriu investigação e deliberou pela propositura de ação civil pública contra o Município, o Fundo Municipal de Saúde e a empresa contratada, na qual requer, entre outros pontos, o cancelamento do contrato firmado com a prefeitura.

A partir do cruzamento de dados dos Fundos Nacional e Estadual de Saúde e do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, o Painel Covid-19 já efetuou 702 alertas relacionados a processos de compras em 263 prefeituras, de 148 comarcas – essas comunicações se referem a procedimentos que somam R$ 75.188.853,39. Até o momento, esses avisos resultaram na instauração de 27 inquéritos civis, 201 notícias de fato e sete procedimentos administrativos pelas promotorias de Justiça responsáveis no MPPR.

 

O que é

Lançado em maio de 2020, o Painel Covid-19 é administrado pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público do MP-PR. A partir da ferramenta, os promotores de Justiça em todo o Estado e a própria população podem verificar quanto cada município recebeu de recursos federais e estadual para a gestão da pandemia, quantas licitações foram feitas, qual tipo de produto ou serviço foi contratado a partir disso, entre outras informações. “Trata-se de uma iniciativa do Ministério Público do Paraná dirigida ao acompanhamento da regular utilização dos recursos públicos durante o período de pandemia. No contexto atual de restrições econômicas que a sociedade enfrenta, mostra-se imprescindível que as instituições potencializem medidas que garantam uma gestão orçamentária cada vez mais proba, ética e eficiente”, avalia o procurador-geral de Justiça Gilberto Giacoia.