Saúde

Miopia: 2,6 bilhões têm dificuldades para enxergar

Dia Mundial da Saúde Ocular chama atenção para aumento significativo nos diagnósticos de miopia

Miopia: 2,6 bilhões têm dificuldades para enxergar

O Dia Mundial da Saúde Ocular, celebrado em 10 de julho, chama atenção para o aumento significativo nos diagnósticos de miopia nos consultórios oftalmológicos. Os dados são alarmantes e apontam para uma epidemia da doença. A estimativa é de que até 2020 cerca 2,6 bilhões de pessoas, um terço da população mundial, terá dificuldade para enxergar de longe. Caso não haja medidas preventivas e as previsões se confirmem, até 2050 serão 5 bilhões de míopes ao redor do planeta.

A doença é definida como um distúrbio de refração em que os raios luminosos formam o foco antes da retina. “Por conta dessa característica, uma pessoa míope consegue ver objetos próximos com nitidez, mas os distantes parecem borrados. Apesar de se tratar de uma doença relativamente simples, quando leve ou moderada, a miopia pode ter desdobramentos severos em alguns casos, com risco de descolamento da retina, catarata precoce, degeneração macular e glaucoma”, explica a médica oftalmologista Tania Schaefer, da Clínica Schaefer, de Curitiba.

Não por acaso a prevalência da miopia no Brasil e no mundo tem sido fonte de grande preocupação para os profissionais da saúde, pelos impactos trazidos aos portadores e à economia como um todo.

Causada por hereditariedade ou aspectos ambientais como medicamentos e alimentação, a miopia tem uma relação provável com o excessivo esforço visual para enxergar de perto. Há evidências de que o uso exagerado das novas ferramentas tecnológicas pode induzir e acelerar a evolução da miopia.

Outro fator relacionado à vida contemporânea, a redução do tempo de atividades ao ar livre e consequente menor exposição da visão a uma luminosidade natural, também pode ter relação no expressivo crescimento do número de casos da doença.

E considerando que um esforço visual excessivo vem sendo a marca das novas gerações, com o uso desde a infância de tablets, smartphones e computadores, o alerta de oftalmologias é para a importância do diagnóstico precoce da doença: “Crianças devem ser examinadas antes dos três anos de idade e, caso sejam constatadas alterações visuais, é fundamental acompanhar se a doença evolui de maneira lenta ou acelerada. Apesar de a miopia geralmente se instalar a partir da juventude, por volta dos dez anos de idade, muitas crianças que nem sequer têm predisposição genética vêm sendo diagnosticadas precocemente com miopia”, alerta Tania Schaefer.

Prevalência no mundo

No Brasil não há pesquisas detalhadas acerca do crescimento do número de diagnóstico de miopia. Nos Estados Unidos, a miopia atinge 25,7% da população de 12 a 17 anos e 42% da população adulta. Estudos recentes indicam que houve um aumento de 62% na prevalência da miopia em jovens na Ásia.

Investigações revelam uma tendência semelhante à prevalência nas sociedades ocidentais, com um aumento de 70% em apenas uma geração, indicando que a causalidade ambiental é um fator determinante na progressão da miopia.

Prevenção, controle e tratamentos

Estimular atividades ao ar livre de crianças e jovens, além de controlar o uso exagerado de celulares e demais dispositivos tecnológicos podem servir como coadjuvante no controle do aumento dos casos de miopia.

Uma atenção ao uso de óculos com a devida proteção aos raios ultravioletas também é essencial no caso de exposição ao sol.

Ainda falando preventivamente, os pais devem assegurar que os filhos sejam examinados antes dos três anos e façam o devido acompanhamento da progressão da doença, como já citado anteriormente.

No caso de pacientes com diagnóstico de miopia, há opções de tratamentos e cada uma é adequada para um perfil de paciente. “O uso de colírios de atropina, em dosagens mínimas e rigoroso controle do médico oftalmologista, tem sido descrito como uma das terapias mais efetivas no controle e no desenvolvimento da doença. Esse medicamento, por razões ainda não definidas, determina um relaxamento da musculatura do olho e exerce um controle no crescimento do globo ocular. Infelizmente, o medicamento apresenta efeitos colaterais em alguns pacientes e não é recomendada para todos”, explica a oftalmologista Tania Schaefer.

Óculos com lentes bifocais também podem ser adotados para controlar a miopia, com devido acompanhamento sobre a evolução da doença, para evitar problemas na vida adulta. Infelizmente, a indicação é limitada e específica para alguns casos. Assim, não são todas as crianças que podem se valer dessa opção para controlar a doença.

Tratando a miopia durante o sono

Um tratamento médico que permite a correção visual da miopia enquanto o paciente dorme é o que vem sendo apontado como excelente opção para o controle efetivo da doença. É a ortoqueratologia, uma terapia corretiva temporária da miopia que consiste na adaptação de lentes de contato de curva reversa, com a finalidade de alterar o formato da córnea do paciente. Estudos demonstram que o tratamento contribui para um retardo no crescimento axial do olho, resultando em uma correção temporária da miopia.

Esse tipo de terapia corretiva, que começa a ganhar espaço no Brasil, existe há décadas nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. Mas foi a partir da evolução dos materiais das lentes de contato que a ortoqueratologia passou a ser considerada uma opção viável para trazer mais qualidade de vida a milhares de pacientes portadores de miopia.

Atualmente, existe apenas uma lente disponível para esse tratamento no Brasil, mas outros laboratórios já estão em processo de aprovação na Anvisa, ampliando a gama de opções para pacientes no País.

A rotina dos pacientes que adotam a ortoqueratologia como tratamento da miopia inclui colocar as lentes durante a noite e tirar ao levantar. O resultado é uma visão nítida durante o dia sem ajuda de óculos ou lentes de contato.

Cuidados tradicionais com lentes, como limpeza e acompanhamento médico também devem fazer parte da rotina do usuário.

Com tais características, o controle da evolução da miopia através da ortoqueratologia é bastante eficiente, seguro e inócuo.

Mas essa opção não é recomendada para quem sofre de secura ocular extrema ou outra patologia oftalmológica grave. Pacientes com mais de seis dioptrias de miopia ou 1,75 dioptrias de astigmatismo também não têm indicação.