Cotidiano

Greve no Estado: Entidades organizam assembleia conjunta

Vários sindicatos se manifestaram ontem mesmo contrários à proposta

Curitiba – As primeiras reações ontem ao anúncio do governador Ratinho Junior para reajustar em 5,09% os salários do funcionalismo estadual, dividido em quatro parcelas até 2022, foram negativas (leia mais sobre o assunto na página 4). E só pioraram na medida em que as contas eram refeitas.

Vários sindicatos se manifestaram ontem mesmo contrários à proposta, mas agora as entidades costuram uma assembleia geral conjunta para unificar a mobilização para uma greve geral. O FES (Fórum Estadual dos Servidores) – que reúne todas as entidades associativas e sindicais do funcionalismo – e as entidades que representam as Polícias Militar e Civil e os agentes penitenciários organizam a união dos servidores. A APP-Sindicato e os professores das universidades deflagraram greve no último dia 25 de junho.

Em nota distribuída à imprensa ontem à noite, a APP disse que, na prática, a proposta de reposição salarial para o funcionalismo público representa apenas 0,25% de data-base. “A data-base dos servidores vence anualmente no dia 1º de maio e a revisão dos salários tem como base a inflação, que nos últimos 12 meses foi de 4,94%. Já a proposta propagada pelo governo é pagar 0,5% só a partir de outubro, sem retroativo. Com esse atraso, de acordo com o Fórum das Entidades Sindicais (FES), na prática, a reposição equivale a 0,25%. O cálculo considera o período integral da data-base, de maio 2019 a abril de 2020”, detalha.

O presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, criticou: “Isso é inaceitável. Com esse índice, uma funcionária de escola não compra nem metade de um pacote de arroz, não paga um quilo de tomate. Mais uma vez o governador desrespeita os trabalhadores”.

Um dos pontos que mais pesaram para a contrariedade dos servidores diz respeito ao parcelamento do índice. Segundo os líderes sindicais, o percentual a ser dividido entre 2021 e 2022 não está garantido, já que foi condicionado ao crescimento mínimo de 6,5% e 7%, respectivamente, da arrecadação de impostos. “A data-base é anual, para recompor as perdas da inflação. Esse é um direito de todos os trabalhadores. O que o governo divulgou hoje para a imprensa não é uma proposta, é a retirada de direitos. A greve continua”, disse a integrante da coordenação do FES, Marlei Fernandes.

De acordo com o comando da mobilização, a greve continua. O movimento quer uma proposta que contemple pelo menos a inflação dos últimos 12 meses e a negociação dos atrasados. Os salários do funcionalismo estão congelados desde 2016. A defasagem acumulada passa de 17%.

A entidade contesta ainda os números do Estado. Segundo estudos orçamentários do FES, a reivindicação pode ser atendida e não oferece riscos às contas públicas. Com base em dados da Secretaria da Fazenda, a despesa com pessoal é a menor dos últimos dez anos. Em março, a imprensa oficial divulgou que o Paraná lidera o ranking nacional de saúde financeira.

Em Curitiba, servidores seguem acampados em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo.

“Proposta lamentável”

De acordo com o presidente da AVM (Associação da Vila Militar), coronel Washington Alves da Rosa, a proposta do governo foi recebida com indignação e frustração: “Depois de meses e inúmeras reuniões com a estrutura do Estado, esperávamos reconhecimento. A greve do funcionalismo somente não ganhou maiores proporções devido ao voto de confiança que foi dado pelas associações das categorias policiais, ampliado o prazo para a divulgação dessa lamentável proposta. Infelizmente, novamente acreditando na boa vontade do governo, fomos traídos”.

O coronel destacou que, embora a AVM não tenha a vocação estatutária de entidade representativa da classe, ele, na condição de presidente da maior Associação da PMPR, não pode deixar de lutar pela categoria: “Ordeiramente e dentro da lei, respeitando as autoridades constituídas, seguimos até aqui, porém, não tivemos a mesma consideração por parte do Estado. ‘Quem planta vento, colhe tempestade’ já diziam nossos decanos da PMPR, então, vamos nos reagrupar, nos reorganizar, definir novas estratégias e vamos à luta para que tenhamos nossos direitos reconhecidos. Chega de falácias e promessas infundadas”, declarou.