Cotidiano

Estado retoma eletivas sem saber quantas pessoas aguardam procedimento

Os procedimentos foram interrompidos devido à pandemia

Estado retoma eletivas sem saber quantas pessoas aguardam procedimento

Cascavel – Após um ano e meio suspensas, com breves intervalos de liberação sem efeito prático, os hospitais do Paraná estão autorizados a retomar as cirurgias eletivas (não urgentes) a partir de segunda-feira (12). Os procedimentos foram interrompidos devido à pandemia, medida para liberar hospitais e profissionais, além de medicamentos.

Com todo esse tempo sem operar, a fila que já era grande ficou gigante. Certo? Provavelmente. Isso porque a Secretaria de Saúde do Paraná não sabe quantas pessoas aguardam na fila. Por meio de nota, informou apenas que solicitou esse número aos municípios e que aguarda a lista com os nomes.

Segundo o deputado estadual Michelle Caputo, que já foi secretário de Saúde no Paraná, somente em 2020 a Sesa deixou de realizar 200 mil procedimentos. Ele estima que o Paraná tenha mais de 1 milhão de pessoas na fila de espera entre consultas, cirurgias e outros procedimentos médicos.

Na 10ª Regional de Saúde de Cascavel, a chefe Lilimar Mori confirma que também não tem esses dados e que irá trabalhar com os números que serão apresentados pelos municípios para ter noção de quem realmente precisa desses procedimentos. “Nós não conhecemos com propriedade, com bastante transparência o número de pessoas que precisam de procedimentos eletivos. Existem várias relações de pessoas que estão em fila de espera e essa é uma preocupação da secretaria de ter uma lista única, que eu possa saber que fulano de tal está lá em tal posição. Nós não temos isso, mas os municípios têm mais noção de quem precisa e essa discussão, esse trabalho, já começa semana que vem”, explica.

Tarefa que, a julgar por Cascavel, não será nada fácil. O secretário de Saúde de Cascavel, Miroslau Bailak, informou que a relação com nomes de pessoas que precisam de cirurgias eletivas é de responsabilidade da Secretária de Saúde do Paraná, que é quem paga pelos procedimentos, por isso, o Município não teria o controle dessa listagem.

Volta gradativa

Segundo Lilimar, a retomada dos procedimentos eletivos será gradativa, até porque nenhum leito de UTI Covid será desativado. “Vai ser um retorno lento, gradativo, um retorno muito programado, porque nós não desativamos nenhum leito covid, pelo contrário, eles foram novamente contratualizados por mais seis meses. É uma garantia de que a gente continue atendendo esses pacientes e aos pouquinhos nós vamos retomando nossa normalidade.”

Apesar da liberação das cirurgias a partir de segunda, Lilimar acredita que os procedimentos comecem a ser realizados apenas em agosto. “Dependendo do procedimento, necessita avaliação do paciente. Claro que isso não acontece do dia 12 para o dia 12. Nós vamos começar a chamar, autorizar, levantar o que a gente tem de AIH [Autorização de Internamento em Hospital], verificar qual hospital já pode fazer a cirurgia, quem tem espaço, quem tem leito que possa ser utilizado para isso… Então, tudo isso vai ser ajustado nestes próximos dias. Eu acredito que nós vamos começar realmente com os procedimentos mês que vem, mas esse preparo foi necessário.”

O governo do Estado ainda não informou os valores disponibilizados para a realização dos procedimentos.

Maiores demandas

Segundo Lilimar, mesmo sem lista de pacientes e procedimentos, na 10ª Regional, o maior gargalo de procedimentos eletivos é na área de ortopedia. “A ortopedia é uma das principais dentro dos procedimentos eletivos. A ginecologia está com uma demanda importante, assim como a parte de otorrino e oftalmo”.

Linha de frente

No fim do ano passado, foi cogitado de o Cisop (Consórcio Intermunicipal de Saúde do Oeste do Paraná) assumir a frente do retorno para organizar as cirurgias eletivas na microrregião de Cascavel. Essa conversa será retomada nesta semana. “O Cisop é uma reunião dos 25 municípios da nossa regional [10ª] e o que eles decidirem para esses municípios a Sesa sempre vai estar junto. Eles começaram a organizar esses procedimentos de uma forma muito prática, exequível, transparente, dentro do ponto de vista do que eles sabem que cada município precisa. Foi uma experiência pré-pandemia e será retomada”, informa Lilimar.

O diretor técnico do Cisop, Airton Simonetti, disse que o consórcio não havia sido avisado da liberação das cirurgias, mas que manterá o apoio na retomada dos procedimentos eletivos.

Retorno é alento para hospitais

A pandemia do coronavírus provocou um grande prejuízo aos hospitais, especialmente os privados. Por isso, a volta das cirurgias eletivas é um alento a quem é da área.

De acordo com o presidente da Fehospar (Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná), Rangel da Silva, esse retorno se deu graças ao avanço da vacinação e vai beneficiar não apenas os pacientes, mas também a saúde financeira dos hospitais privados que realizam esses procedimentos. “O avanço da vacinação trouxe um alívio para as internações, já demonstrada nos boletins do Estado, e faz com que possa ter essa antecipação do retorno das eletivas. Essa demanda está reprimida há muito tempo e a retomada gera benefício para os pacientes e também para os hospitais, principalmente para aqueles cujo carro-chefe são as cirurgias eletivas, que representam de 30 a 40% do faturamento”.

Transparência

Na segunda-feira (5), foi aprovada em primeiro turno na Assembleia Legislativa projeto de lei que obriga a divulgação da lista de espera das cirurgias eletivas no Paraná. Pela proposta, semanalmente deverá ser publicada na internet a listagem atualizada das pessoas que aguardam cirurgia e demais procedimentos.

De acordo com um dos autores, Michelle Caputo, a transparência desses dados serve como um instrumento direcionador ao gestor público, que poderá direcionar os recursos para as especialidades necessárias, além de dar transparência ao próprio cidadão que aguarda na fila. “Hoje a informação que chega ao cidadão é que ele está na fila, mas ele não sabe em que lugar. É importante para o paciente saber o que está acontecendo. Além disso, para o gestor, é um excepcional instrumento para direcionar os recursos para aquelas especialidades com maior demanda.”