Opinião

Educação precisa corrigir erros e acertar o passo

Opinião de Valmor Bolan

O Ministério Público Federal pediu a suspensão do SiSU, do Prouni e do Fies por erros do Enem. O ministro da Educação e o presidente do Inep vieram a público minimizar os danos ocorridos, mas o fato é que – mais uma vez – a situação expôs as falhas de gestão de Abraham Weintraub, reforçando o que boa parte da sociedade pensa a respeito.

O ministro precisa trabalhar mais objetivamente e deixar de lado os arroubos ideológicos para obter resultados mais efetivos.

O especialista João Marcelo Borges, diretor de estratégia política da entidade que realiza pesquisas sobre o ensino básico “Todos pela Educação”, diz que a falha ocorrida no Exame Nacional do Ensino Médio foi muito grave, afetando quase 6 mil alunos. Foram mais de 75 mil mensagens de reclamações logo que os erros foram divulgados.

Para João Marcelo Borges, “é a primeira vez que a gente tem um erro de correção de prova. Qualitativamente, esse é um dos erros mais graves da história do Inep, porque ele afeta não exatamente aspectos logísticos ou de segurança do exame, como nas edições anteriores, mas o cerne desse instrumento, que é a correção”.

Tudo isso evidencia que o MEC ainda não acertou o passo, decorrido um ano desde a posse do presidente Jair Bolsonaro. O estilo agressivo de Abraham Weintraub, olavete de plantão, reforça a influência ideológica do núcleo duro do governo, ligado ao filósofo Olavo de Carvalho, que fomenta que seus alunos batam de frente nos opositores, acusando todos os adversários de serem comunistas e de esquerda, e, com tal reducionismo, acirra uma polarização ideológica que não condiz com a realidade e só traz problemas ao governo.

O que o ministro da Educação tem que se preocupar é com a parte técnica da gestão, ser mais prático e procurar resolver problemas e não avolumá-los com celeumas inócuas. O ministro deveria, por exemplo, preocupar-se com o combate ao analfabetismo (e também o analfabetismo funcional) etc.

Há muito o que fazer em termos de oferecer melhores condições de trabalho aos professores, com um plano de carreira mais adequado, buscando equacionar investimentos em infraestrutura como em formação humana.

Outra questão que o ministro até agora parece não ter se preocupado é com o Fundeb, que tem prazo para ser votado ainda neste ano, no Congresso Nacional, para saber se irá ou não continuar. O ministro deveria estar fazendo um grande debate com os especialistas para ouvir as bases, e ter uma posição clara sobre os destinos do Fundeb.

É assim que percebemos que o Governo Bolsonaro, na área da Educação, está a desejar. É preciso avaliar com muita seriedade o que ocorreu no primeiro ano de mandato e buscar – ainda em tempo – corrigir os erros. Não podemos continuar fazendo testes. O tempo urge e requer alto profissionalismo e competência. Por isso, ou o governo troca de ministro, ou Abraham Weintraub deixa de lado as bizarrices do guru Olavo de Carvalho e começa a trabalhar, com mais eficiência e objetividade.

Há bons ministros no governo que Weintraub poderia se espelhar, como a ministra Teresa Cristina (da Agricultura) ou o ministro Tarcísio Gomes de Freitas (da Infraestrutura), que são gestores técnicos, que trabalham firme para obter resultados e não se deixam levar pelo alvoroço ideológico.

Esperamos que o governo tome providências para colocar a Educação no trilho certo, pois Educação e Cultura são estratégicas para promover o verdadeiro desenvolvimento do Brasil.

 

Valmor Bolan é doutor em Sociologia; professor da Unisa; ex-reitor e dirigente (hoje membro honorário) do Conselho de Reitores das  Universidades Brasileiras