Cotidiano

Discurso de Yellen divide analistas sobre momento da alta dos juros

2016 934615594-201608261215172900_AP.jpg_20160826.jpgRIO – Analistas de Wall Street tiveram diferentes entendimentos sobre o pronunciamento de Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, na manhã desta sexta-feira.

Em seu aguardado discurso, ela destacou que aumentaram as razões para subir os juros no país: melhora no mercado de trabalho e às expectativas de crescimento econômico mais rápido. Por outro lado, dedicou boa parte de seu discurso a apresentar como o Fed pode lidar com futuras recessões, como compras de títulos e orientação futura para flexibilizar as condições.

Nas últimas semanas, outras autoridades do Fed vem sugerindo que já é hora de considerar seriamente a alta de juros, alertando os agentes de mercado sobre a crescente probabilidade de isso acontecer no curto prazo. A autoridade monetária terá encontros, neste ano, em setembro, novembro e dezembro.

Após o pronunciamento, o Barclays mantém sua aposta de alta dos juros para setembro. O Goldman Sachs vê 40% de chances de elevação em setembro e, caso isso não se consolide, 40% de chances em dezembro, somando 80% de chances de alta neste ano.

MÃO DUPLA

Mas James Athey, gerente de renda fixa do Aberdeen Asset Management, chama a atenção para a falta de uma sinalização específica dirigida a setembro, que pode desfavorecer as apostas numa alta de fato no próximo encontro.

Economista do banco Goldman Sachs, Jan Hatzius avaliou que as observações de Yellen aumentaram as chances de uma alta dos juros em setembro, informou o ?Financial Times?.

?Ainda que nem os comentários de Yellen nem de seus subordinados tenham explicitado o momento preciso, isso pode refletir uma mensagem de disciplina à frente do relatório de emprego de agosto, que sairá na próxima semana?, disse Hatzius ao ?FT?.

?De nosso ponto de vista, se o relatório de emprego continuar indicando melhora do mercado de trabalho, o Fomc (Comitê de Política Econômica do Fed) pode bem elevar as taxas no encontro de setembro. Por isso, elevamos nossas apostas de uma alta no encontro do mês que vem de 30% para 40%?, explicou o economista.

Ele afirmou ainda: ?Também vemos agora uma chance de 40% de alta da taxa em dezembro, caso o comitê não o faça em setembro. Assim, nossas apostas acumuladas para ao menos um incremento neste ano sobem de 75% para 80%?.

Economista-chefe para os EUA do Barclays, Michael Gapen também entendeu, no discurso de Yellen, a sinalização para uma alta no curto prazo. ?Notamos que a presidente não fez nem uma menção aos riscos destacados por ela no discurso de junho, incluindo preocupações com a resiliência da demanda doméstica, a sustentabilidade do crescimento chinês nem a questão da saída do Reino Unido da União Europeia?, declarou ao ?FT?.

Em relatório, o Bank of America Merrill Lynch frisou que Yellen deu indicações de concordar com seus colegas de Fed sobre a alta de juros ainda neste ano, dizendo que ?o cenário para uma alta de taxa pelo Fed se fortaleceu nos últimos meses?, com a inflação e o nível de emprego se aproximando das metas da BC americano. Mas Yellen também apontou alguma incerteza nos dados econômicos e não deu prazos para o aperto. ?Ao nosso ver, o discurso aumenta marginalmente o risco de uma elevação em setembro, mas nosso cenário base ainda é para uma elevação em dezembro?, apontaram os analistas do banco.

O banco avaliou a percepção do mercado, sobre a fala da economista, como pendente para o aperto, posto que ela mencionou o potencial para elevação do juro nos próximos meses. Contudo, destacam os analistas, ?ela reinterou que a perspectiva depende de dados?. O mercado continua estimando em 60% as chances de alta da taxa em dezembro, o que parece apropriado para os especialistas do Merrill Lynch. Eles sublinharam ainda que Yellen mencionou outras ferramentas de flexibilização no kit do Fed, incluindo compra de ativos, para lidar com uma contração moderada do crescimento.

O FATOR FISCHER

?Parece que o Fischer veio a público corrigir a interpretação do mercado sobre a Yellen?, disse à Reuters o operador de um banco internacional.

Em princípio, os mercados financeiros haviam interpretado que Yellen deu sinais de que os juros não subiriam tão cedo na maior economia do mundo, levando a apostas majoritárias deste movimento em dezembro.

Assim, o dólar chegou a cair mais de 1% sobre o real, batendo R$ 3,1898 na mínima do dia, acompanhando a reação de outros mercados no exterior.

?A mensagem de que os juros podem subir neste ano não é nova, já vinha das últimas semanas. O que é novo é que, pelo jeito, Yellen está mais próxima daqueles que querem um aumento no fim do ano do que daqueles que querem um aumento agora?, havia afirmado mais cedo o operador da corretora B&T Marcos Trabbold.

As taxas de juros futuros dos Estados Unidos mostraram nesta manhã, segundo o FedWatch, chances um pouco maiores de 50% de o Fed subir os juros em dezembro.