Em entrevista ao ?Le Parisien?, da França, o presidente da Fifa, Gianni Infantini, mostrou ser um entusiasta do uso de recursos tecnológicos para evitar erros na marcação de impedimentos no futebol. Ele citou equipamentos de localização por GPS (Sistema de Posicionamento Global, em português, tecnologia de localização por satélite) e cogitou limitar os impedimentos a partir dos 16 metros da linha de fundo. Para especialistas, a mudança é viável, apesar de ressalvas.
Coordenador do Centro de Referência e Inteligência Empresarial da Coppe-UFRJ, Marcos Cavalcanti questiona se o sistema é a melhor opção:
? Não faz o menor sentindo usar a tecnologia de GPS existente, que não tem precisão comprovada e pode ter uma margem de erro de 2,5 metros, o que para o futebol é muito. Em geral, a precisão não chega a meio metro. Além disso, você pode ter problema de transmissão com chuvas e trovoadas.
Para ele, distribuir sensores é uma ideia mais plausível.
? Os sensores têm que estar nos jogadores e também na bola, já que depende de quando ela sai dos pés do lançador. Isso é factível e até barato hoje. Um sensor custa US$ 5 ? afirmou Cavalcanti, que faz considerações. ? O melhor e mais simples são as câmeras, que já existem e são utilizadas no tênis, vôlei e futebol americano, com o pedido de desafio. É uma tecnologia barata e já disponível.
A pesquisadora pós-doutoral especializada em inovação no esporte Maureen Flores, que mantém o blog ?Esporte e Inovação? no site do GLOBO, lembra que a tecnologia já é usada para a avaliação de rendimento dos atletas, e lança perguntas.
? Haverá visualização em tempo real no telão das arenas? Isso seria perfeito, pois reduz combinações de resultado e corrupção ? explicou. ? Os árbitros modernos serão qualificados, e os antigos continuarão gritando que a tecnologia não substitui o homem. A questão não é substituir, mas dar transparência.
Diretor de marketing na América Latina da holandesa TomTom, empresa especializada em tecnologia GPS, Júlio Quintela não acredita em dificuldades para implementar a geolocalização.
? O conceito não está no GPS, mas na geolocalização. Isso já existe, só precisa adequar para o futebol. Não há dificuldade, as empresas estão prontas. Basta adaptar e otimizar ? disse Quintela. ? A tecnologia em si não é cara, ainda mais se pensarmos em escala. Quantos jogos são disputados todos os dias? O preço unitário será diluído.
Quintela completa:
? Não devem faltar empresas que não estão no futebol e que gostariam de associar suas marcas caso houvesse transparência e honestidade. O custo seria facilmente absorvido, seja por patrocinadores ou companhias de tecnologia.
DINÂMICA NA BERLINDA
Apesar de considerar a implementação da tecnologia no futebol algo inevitável, Antônio Carlos de Moraes, professor da faculdade de Educação Física da Unicamp, questiona o recurso.
? Tem que ser pensado o que pode causar. Em determinados campeonatos e países, vai ter a tecnologia, mas em outros, não. Isso fatalmente vai acontecer. São dois pesos e duas medidas, esse é o X da questão. A regra no futebol tem como princípio ser universal ? lembrou, citando outra dificuldade. ? O impedimento é uma situação que pode acontecer poucas ou muitas vezes num jogo. Imagina se você tiver uma demora de 30 segundos para cada tomada de decisão. Com oito impedimentos já se vão quatro minutos.