
Cascavel e Paraná - A mobilidade urbana é um fator crucial para o desenvolvimento de uma cidade. Todos os atores que compõem esse grande cenário influenciam diretamente o processo de deslocamento diário das pessoas: do trabalho para casa, da casa ao supermercado, à escola ou aos locais de lazer. Ao longo do dia, cada indivíduo traça um verdadeiro mapa particular de transporte, percorrendo quilômetros e utilizando diferentes meios de locomoção.
Com carros, motos, bicicletas, transporte público ou os “elétricos”, cada pessoa busca a forma mais conveniente de se deslocar. Porém, há uma característica comum: todos somos pedestres. Ao estacionar o carro e atravessar a rua, deixamos de ser motoristas e assumimos a posição mais vulnerável no trânsito.
Nessa condição, qualquer descuido pode resultar em acidentes graves. A pressa, a rotina atribulada e a desatenção costumam ser fatores determinantes em ocorrências que ferem — e até tiram — vidas diariamente.
Um por dia!
O atendimento às vítimas de trânsito, em qualquer situação, tanto na área urbana quanto nas rodovias, especialmente no perímetro urbano, é realizado pelas equipes do Siate que se deslocam rapidamente a cada novo chamado. E, de acordo com dados do serviço, apenas nos últimos sete dias foram registrados oito atropelamentos envolvendo adultos e idosos — uma média de um caso por dia.
Sem nem perceber
Um dos casos que mais chamou atenção nesta semana ocorreu na noite de terça-feira (25), quando dois pedestres foram atropelados por uma moto ao tentar atravessar a marginal da BR-277. Pelas imagens que circularam pelas redes sociais, eles iniciam a travessia das via quando o motociclista segue em direção a ambos, não desvia e não reduz a velocidade, atingindo-os violentamente. Os pedestres ficaram feridos — um deles com fratura exposta e o outro com ferimentos leves. O motociclista também sofreu uma fratura no braço. Todos foram encaminhados a unidades hospitalares – um triste realidade da imprudência, da desatenção.
De janeiro até agora, o Siate atendeu 149 atropelamentos de diferentes naturezas, causas e vítimas. O número é um pouco menor que o registrado no mesmo período de 2023, quando houve 184 ocorrências. No total, duas pessoas morreram neste ano, frente a cinco mortes no mesmo período do ano passado. Apesar da redução, os casos seguem preocupando as autoridades.

Rua é coisa séria
Para a presidente do Cotrans (Comitê Intersetorial de Prevenção e Controle de Acidentes de Trânsito), Luciane de Moura, o aumento de acidentes que envolvem pedestres tem motivado ações de fiscalização e campanhas educativas. Segundo ela, atravessar a rua com desatenção é um risco real. “É importante estar atento, não usar dispositivos como fones de ouvido, não atravessar fora da faixa e evitar mexer no celular ao cruzar a via”, afirmou Moura, que também é educadora de trânsito da Transitar.
Moura lembra que muitos cruzamentos da cidade possuem botoeiras que permitem ao pedestre acionar o sinal semafórico, garantindo uma travessia mais segura. Ainda assim, a imprudência e a falta de atenção seguem entre as principais causas de atropelamentos. Motoristas também precisam redobrar o cuidado, reforça ela: “No trânsito, todo cuidado deve ser redobrado.”

Julgamento do caso Nando
O julgamento da motorista acusada de atropelar e matar Fernando Lorenzo Souza Gehlen, 44 anos, o “Nando”, ocorre na terça-feira, 2 de dezembro, às 13h50. O caso ganhou grande repercussão pela gravidade e pela mobilização da mãe, Mônica Moraes de Souza, que desde então luta por Justiça e conseguiu homenagear o filho com a criação da Praça da Paz.
O acidente aconteceu em 14 de junho do ano passado, no cruzamento da Rua Paraná com a Avenida Piquiri, quando a motorista avançou a preferencial, bateu em uma motocicleta e subiu na calçada. Nando, que estava com a mãe e um amigo, foi atingido e arrastado por alguns metros, morrendo na hora. A motorista foi denunciada pelo Ministério Público por homicídio culposo e lesão corporal culposa.
A Praça da Paz, na Avenida Piquiri com a Rua Tiradentes, foi revitalizada com parque infantil, grama sintética, área de convivência e uma estátua do menino. Para a mãe, o espaço simboliza amor e reforça a importância da educação no trânsito.
Travessia do perigo
Nas rodovias, o resultado de um atropelamento costuma ser ainda mais grave, devido à velocidade dos veículos e às condições das vias. Um dos casos mais marcantes deste ano aconteceu no fim de setembro, quando duas adolescentes morreram após serem atropeladas ao tentar atravessar a BR-369, no km 522, próximo ao Bairro Morumbi, em Cascavel. Maria Eduarda de Oliveira, 16 anos, e Emily da Silva Vieira, 15, foram atingidas por uma caminhonete Chevrolet S10 e morreram na hora.
As duas eram menores aprendizes em uma fábrica de energia solar localizada no bairro e estavam de mãos dadas ao atravessar. Equipes do Samu e do Corpo de Bombeiros foram mobilizadas, mas nada puderam fazer. O caso reacendeu o alerta sobre os riscos de travessias em locais de intenso movimento.

30 mortes em rodovias
De acordo com o inspetor da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Edir Veroneze, 30 pessoas morreram em atropelamentos registrados neste ano nas rodovias da circunscrição da delegacia de Cascavel. Foram 134 acidentes, com 53 feridos. “A gente pede aos condutores que trafegam diariamente ou em viagens ocasionais que tenham cautela e prudência”, disse.
A PRF intensificou operações na BR-369 entre Juranda, Mamborê e Cascavel, devido ao grande número de acidentes e à violência dos impactos. “Estamos realizando comandos e operações específicas, orientando, abordando e fiscalizando. As ultrapassagens em pistas simples têm sido muito perigosas, assim como as travessias em acessos”, ressaltou.
Ele lembrou ainda que na região de Cascavel, na BR-277 foram registrados 22 acidentes neste ano, com 16 feridos graves e seis mortes. Já a BR-369 teve dois acidentes, com uma pessoa gravemente ferida e três mortes. “Tem sido um ano acima do normal em termos de gravidade. São acidentes com impactos muito fortes, envolvendo colisões, ultrapassagens e agora atropelamentos”, afirmou.
Uma das principais preocupações é o trecho entre Cascavel e Corbélia, que não possui nenhuma passarela, o que leva pedestres a atravessarem a rodovia em pontos aleatórios, especialmente no perímetro urbano. Situações de pessoas correndo, pulando muretas ou arriscando travessias perigosas seguem sendo comuns, mesmo sendo extremamente arriscadas.