Cerca de dois terços dos 600 mil motoristas da Uber no Brasil não dirigem veículos próprios, mas recorrem aos serviços das empresas de aluguel de carros para trabalhar. A informação foi repassada pela companhia aos executivos das locadoras de veículos ainda em 2019. O grande número de trabalhadores parceiros sem carro no país motivou a criação de uma ferramenta que permite reter os ganhos dos motoristas no aplicativo para o pagamento das locações, num esforço de evitar calotes.
A medida entrou em vigor em outubro do ano passado, em fase beta, valendo apenas para quem utiliza o serviço de aluguel de carros em SP e em Brasília. De acordo com o responsável pela área de soluções para veículos da Uber na América Latina, Caleb Varner, a ferramenta é apenas uma das ações que compõem o programa da empresa para locadoras. Outras facilidades incluem a criação de uma plataforma para conectar empresas menores de locação e motoristas e a criação de um canal de comunicação entre o aplicativo e as locadoras via WhatsApp.
Escolhido como como país-piloto para o projeto, o Brasil é o segundo maior mercado da Uber no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Na visão da empresa, o aluguel de carros é uma das principais tendências no que diz respeito à utilização de veículos nos próximos anos. “Vemos que o aluguel do carro é mais barato do que ter o próprio carro, é muito fácil e dá mais flexibilidade, e é muito clara a nossa intenção de incentivar o aluguel do automóvel”, disse a gerente sênior de veículos da empresa para a América Latina, Isabela Banduk, em declaração à Agência Estado.
A parceria da Uber com as locadoras, contudo, é criticada por uma parcela dos motoristas, que é contra a retenção de valores pelo aplicativo e argumenta que o preço do aluguel de carros já engloba eventuais prejuízos por calote. Os trabalhadores cobram da empresa mais medidas voltadas para garantir apoio e segurança aos motoristas.
Parceria entre Uber e locadoras pode prejudicar montadoras
Maior mercado doméstico de automóveis da América Latina, o Brasil pode estar virando território hostil para as montadoras, que vêem seus lucros diminuindo em favor dos ganhos dos aplicativos de carona e de seus parceiros, entre os quais as locadoras de veículos. De acordo com pesquisa apresentada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a possibilidade de usar novas formas de transporte é uma das principais razões que levam o brasileiro a deixar de comprar carros atualmente.
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