RIO ? A estrada do Violins é longa. Remonta ao começo da década passada, quando ainda se chamavam Violins And Old Books e cantavam suas músicas profundamente influenciadas pelo rock britânico no idioma do Radiohead. De lá para cá, a banda de Goiânia lançou oito elogiados álbuns, anunciou inúmeros hiatos (e consequentes reuniões) e rodou o Brasil. Faltava, porém, vir ao Rio. Em 13 anos desde o lançamento de “Aurora prisma”, seu primeiro disco em português, nesta sexta, pela primeira vez, o Violins toca num palco carioca, como parte da programação do festival Transborda, que começa quinta no Oi Futuro de Ipanema. Links Ampli
? Essa história é uma grande novela, viu? Também queria entender por que nunca tocamos no Rio, é um mistério. E o curioso é que o Transborda é um festival produzido por um pessoal de Minas Gerais ? brinca Beto Cupertino, vocalista e principal compositor da banda, que toca ao lado do tecladista Pedro Saddi , do baixista Thiago Ricco e do baterista Fred Valle.
Sem lançar um novo disco desde “Violins”, de 2012, a banda também está afastada dos palcos desde o ano passado ? se for contar os shows fora de Goiânia, lá se vão três anos. Dessa vez, não foi uma pausa premeditada e anunciada, como tantas outras. Apesar da trajetória longeva, todos, com exceção de Fred, que vive da música, têm outros ofícios (Beto e Pedro são funcionários públicos concursados, Thiago é designer e empresário) e, por causa da experiência, dizem ser bem “seletivos”.
? Às vezes, decidimos ficar um tempo sem fazer show, sem gravar disco. Como não vivemos da banda, não temos uma rotina com ela, de ensaiar e produzir regularmente. A gente já se meteu em muita roubada, já tocamos em muito lugar tosco. Quando recebemos um convite, avaliamos as condições e, se todo mundo animar, a gente faz. Esse era um dos casos que não dava para negar, isso estava encravado na nossa história: a gente já tocou em tudo quanto é canto, mas no Rio nunca.
Para sua estreia na cidade, o show promete ser um passeio pela carreira da banda ? com exceção de “Aurora prisma”, o único que Beto diz não gostar nem de ouvir (“a produção me incomoda, os vocais são muito afetados, foi importante, mas não curto”). Spotify – Violins
? Só tivemos dois ensaios porque o Fred estava de férias, então não temos como tocar na mais obscuro do nosso repértório. Como é a nossa primeira vez no Rio, vamos tocar as músicas mais representativas de cada disco, algumas delas a gente está até cansado de tocar, mas estamos devendo (ouça acima uma playlist montada pelo vocalista).
Além do breve retorno com o Violins, Beto, que no momento se divide entre uma segunda faculdade e o trabalho, está gravando um disco solo, “Tudo arbitrário”, previsto para ser lançado em novembro. Além disso, já planeja o próximo álbum com o Violins, para ser gravado no ano que vem.
? O clima no país está muito estranho, e por isso mesmo eu tenho voltado mais à música. É uma forma de fugir e de me expressar ? diz ele, que apesar de liderar uma das bandas mais aclamadas do indie nacional, renegou cedo o sonho de ser rockstar e não se arrepende ? A gente nunca viveu da banda, e eu poucas vezes tive essa pretensão. Decidi viver a música de uma forma mais livre: eu não dependo de ter aceitação ou viabilidade financeira, faço o que dá na telha, quando dá a vontade de fazer. É como um namoro à distância, não tem aquele ranço da rotina. Não tenho nenhuma frustração, foi uma escolha muito consciente.