Cotidiano

Fotos de família, presentes de fãs, vista para o mar: como é a casa de Flora e Gil

RIO – Os expressivos olhares, em preto e branco, de Flora e Gilberto Gil estão pendurados sobre a cabeceira da cama do casal. No comprido corredor percorrido até o cômodo, a parede é engolida por retratos de família. Além deles, Preta, Bela, José, Bem, Marília, Nara e Maria e seus respectivos filhos figuram nas fotos em várias composições e cores. Na porta de entrada do apartamento, em São Conrado, outro mosaico. São imagens dos anfitriões, novinhos. Sala, escritório e quartos também são povoados por imagens emolduradas em porta-retratos ou estampadas em peças, como um pufe, que ganhou o registro de uma festa junina.

? Olha o Gil rasta! Esta foto é bem antiga ? aponta Flora, enquanto faz um tour pelo apartamento. ? A Bela grávida, o último Natal em Araras… O painel só vai crescendo.

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Apoiado sobre uma bancada do escritório, uma foto ? o retrato dos pés ? da artista plástica Adriana Varejão.

? Ela deu de presente para o Gil. Fez pensando na música ?Andar com fé?.

Uma infinidade de bibelôs que o casal ganha de fãs e amigos ocupa as estantes distribuídas pela casa, feitas sob medida. Numa caixa dourada, um fone que o músico Quincy Jones entregou a Gil repousa sobre uma prateleira ao lado de três cavaquinhos, um deles, verde-claro. Todos são presentes. Em outro cantinho, objetos de cristal e peças trazidas de viagens ? como um carrinho da Jamaica, um relicário do México, um tabuleiro de xadrez de sândalo da Índia e um orixá da Bahia ? dividem espaço com pilhas de livros.

? Livro tem muito. O Gil ganha um por dia ? conta Flora.

Apesar da coleção de miudezas ser imensa, a matriarca jura que não é acumuladora. Ao contrário: toda Lua minguante, repete um ritual de desapego.

? Será que tem alguma coisa que me acompanha desde que o samba é samba? Acho que não, eu sou uma pessoa que doa as coisas. É a melhor coisa que tem ? diz.

A arrumação da casa é impecável graças a Cleo e Célia, parceiras de Flora e Gil há quase 30 anos. A primeira é a ?dona? da cozinha, cômodo que serviu como cenário da primeira temporada do programa ?Bela na Cozinha?, do GNT, e segue intacto. Enquanto isso, a segunda é incumbida de pôr em ordem a bagunça causada pelas festas que o casal celebra em casa. Um almoço de família reúne de 20 a 25 parentes e agregados. Uma comemoração, Flora arrisca, chega a 200 convidados.

? Eu tenho TOC, detesto bagunça. Você pode vir aqui no dia seguinte de uma festa que estará tudo arrumado ? promete.

2016 906700934-201605021947220217.jpg_20160502.jpgA mesa de jantar da sala é rodeada por dez cadeiras. O aparador é uma invenção de Flora, que comprou uma placa de pedra em Tiradentes, colocou um tampo de vidro em cima e dois pés de ferro como suporte. A parede de madeira é revestida com sobras do desmonte de uma fazenda mineira. Em outra parede, estão duas fotos antigas de São Conrado. A Pedra da Gávea, escancarada numa delas, aliás, é apreciada da janela dos quartos do apartamento.

? Adoro usar madeira antiga, trabalhar com reciclagem. E isso é a cara deles ? comenta a arquiteta Marcia Müller, que trabalha com a filha Manu, e assina os projetos das casas do Rio e de Araras do casal.

A varanda da sala, onde Flora e Gil costumam tomar café da manhã e observar os voos de asas-deltas e parapentes, nos fins de semana, é debruçada sobre o mar. Refletida em espelhos dentro do cômodo, a vista enfeitiça os olhos de qualquer ângulo do cômodo. Ou melhor, de qualquer um dos espaçosos sofás de quatro, cinco, seis lugares, de couro e de linho.

? As peças foram feitas e escolhidas com a participação dos donos ? explica a arquiteta.

Por todos os lados, raras são as peças de fora do país. Um tapete colorido veio na mala de uma viagem ao Oriente Médio, e o tecido estampado que estofa um dos sofás é da Ralph Lauren. E só. O mobiliário é equipado também com peças de madeira como uma escadinha, um baú e um banco garimpados no antiquário de Arnaldo Danemberg. Assim como as luminárias. À noite, a sala quase sempre fica apagada.

2016 906700861-201605021947010214.jpg_20160502.jpg? Ficamos lá para dentro (no quarto). Quase nunca puxamos o telão para ver televisão na sala. E, quando damos festas, gosto de iluminar com velas.

A TV do escritório também passa mais tempo desligada do que acesa. Uma cena que traduz o espírito do cômodo: Gil acorda ao meio-dia e senta em uma poltrona, espécie de cadeira cativa, para ler todos os jornais, enquanto Flora, com as pernas para o alto, não desgruda do computador. Finda a leitura, Gil dedilha um violão. Tantos são os instrumentos que eles próprios perdem a conta.

? É o ritual do Gil ? diz Flora.

À exceção das flores artificiais em garrafas apoiadas no móvel vizinho à cama de Flora e Gil (uma rosa vermelha ao lado dele e uma salmão ao lado dela), a casa respira plantas. Orquídeas, astromélias, espadas-de-são-jorge, hortaliças e até um limoeiro colorem o jardim de Flora.

? Uma coisa que não pode faltar na minha casa é planta ? ela diz.

Outro item que tem de sobra são camas. Os antigos quartos de José e Bela, que têm plaquinhas de identificação divertidas nas portas, foram herdados pelos netos do casal. O de Preta cedeu lugar ao escritório.

? Às vezes, conseguimos a proeza de nos reunir numa data que não é nada. Temos um grupo no WhatsApp para combinar os encontros e decidir se vai ser feijoada, cozido… Todo mundo que vem tem casa no Rio, mas alguém sempre acaba dormindo aqui. Então, tem que ter cama para todo mundo. Ô, família unida! ? vibra Flora.