Cotidiano

Ferrovia: Paraná quer ser hub da América Latina e oeste visa ser corredor de exportação

O projeto está inserido dentro de um novo planejamento ferroviário do Estado, cujos estudos se iniciaram em 2019

Foto: Jorge Woll/DER/SEIL
Foto: Jorge Woll/DER/SEIL

Cascavel – O Paraná dá passos consistentes para se transformar em um hub logístico de transporte ferroviário da América Latina e a região oeste terá papel preponderante nesse processo. Essa é a síntese do encontro on-line de diretores e a comissão de ex-presidentes da Caciopar (Coordenadoria das Associações Comerciais e Industriais do Oeste do Paraná) com o presidente da Ferroeste, André Luiz Gonçalves, e o coordenador do Plano Estadual Ferroviário, Luiz Henrique Fagundes.

O projeto está inserido dentro de um novo planejamento ferroviário do Estado, cujos estudos se iniciaram em 2019.

André informou que a atuação e a reestruturação da Ferroeste, ferrovia que se transformou em uma das históricas bandeiras da região, observa moção da Caciopar. Por meio dessa solicitação, a Coordenadoria pede investimentos que possam dar mais dinâmica e resultados à ferrovia, melhorando a integração dela à rede já existente e também ampliando seu fluxo com conexões ao interior do Mato Grosso do Sul e ao Paraguai.

Novo traçado

As informações técnicas sobre o novo planejamento ferroviário e o Corredor Oeste de Exportações foram repassadas por Luiz Fagundes. Ele disse que o traçado pretendido cria uma condição excepcional à região e ao Paraná, que responde por fatia considerável do PIB da América Latina. “Reunimos situação excepcional e com as conexões a partir da Ferroeste, vamos ligar três grandes centros produtores de riquezas: Mato Grosso do Sul, Paraguai e Paraná”.

Os estudos para encontrar as melhores alternativas trazem informações preciosas, de acordo com Luiz, a exemplo de oportunidades escondidas.

Ele falou de duas, que dão uma ideia do enorme potencial que o novo traçado ferroviário do oeste tem.

O Paraguai há cinco anos não utiliza a BR-277 e o Porto de Paranaguá para escoar suas riquezas. Eles empregam o Rio Paraná e seguem por barcaças por 2,2 mil quilômetros até o porto argentino e de lá vão para o mundo. São exportadas 8 milhões de toneladas de grãos por ano e importados cerca de 100 mil contêineres. “E aqui, em Paranaguá, temos o melhor terminal de contêineres do Brasil com capacidade ociosa”, reforça.

Queimando dinheiro

Outra oportunidade vem do oeste do Mato Grosso do Sul. Uma operação extrai 2,2 milhões de toneladas de minério de ferro por ano que, em função da ausência de ferrovia, são transportadas de caminhão até o Rio de Janeiro. “Estamos queimando dinheiro porque, pelo modal ferroviário, o resultado desse esforço imenso seria muito maior”, explica Luiz.

O técnico citou também a própria condição do oeste do Paraná, que é mal atendido pela linha férrea. Menos de 5% do que a região produz segue ao Porto de Paranaguá por esse sistema de transporte.

Dar capilaridade ao modal é outra intenção do plano em estruturação e, segundo Luiz, há inúmeras possibilidades de rotas, a exemplo de uma em direção a Chapecó, no interior catarinense.

América do Norte

Uma situação em particular torna ainda mais palpável o propósito de fazer do Estado um hub de logística ferroviária para a América Latina. O Paraná quer ser pioneiro na modalidade de autorização, sistema responsável por recuperar a importância do sistema ferroviário na América do Norte. O Congresso debate a lei que poderá tornar isso realidade no Brasil. Por meio da autorização, que repassa trechos de novas conexões ferroviárias a empreendedores, a capilaridade estará garantida, bem como tornar o segmento comercialmente muito mais atrativo.

Vida nova à Ferroeste

O modelo de trabalho empregado pela equipe comandada por André Luiz Gonçalves permitiu saltos fundamentais à Ferroeste. “Conseguiram, ao se dedicar de forma absolutamente competente ao desafio proposto, provar que um trecho pequeno pode dar bons resultados”, afirma. “O que queremos com esse projeto é dar vida a uma nova Ferroeste, que cumpra de maneira ainda mais competente com o seu propósito. Não atendendo apenas o Oeste, mas o Paraná e o Brasil”, de acordo com André Gonçalves.

O presidente da Ferroeste lembrou que 2019 foi um ano especial à empresa, que pela primeira vez fechou com resultado financeiro positivo.

De olho no potencial do Paraguai e na construção da segunda ponte entre os dois países, há estudos do governo estadual com Itaipu de construção de um terminal multimodal, que poderá ser fluvial, em Foz do Iguaçu. “Com isso, esse processo de integração vai facilitar o transporte e, assim, atrairemos mais cargas do país vizinho”.

Há também especial interesse do Mato Grosso do Sul no êxito da reestruturação ferroviária paranaense, incluindo a Ferroeste, devido às boas condições do Porto de Paranaguá, que recebeu milhões em modernização.

Privatização

Os líderes também debateram questões ligadas à concessão ferroviária e tudo o que ela implica. André informou que o diálogo segue na tentativa de estabelecer um alinhamento que seja o melhor possível a todos os atores. A responsabilidade de analisar e decidir o melhor a fazer está nas mãos do ministro dos Transportes, Tarcísio de Freitas, e de sua equipe.

É fundamental, observa André, que os interesses governamentais e do setor produtivo estejam alinhados: “E, para dar certo e que os resultados sejam o esperado, é imprescindível que todos participem e acreditem no projeto”.

Etapas da nova ferrovia

O estudo de viabilidade técnica para a construção da nova ferrovia foi iniciado em 2019 e segue com aprovação do plano de desenvolvimento ferroviário (fevereiro de 2020), consórcio vencedor do Evetea J e inclusão no PPI do governo federal (junho de 2020), publicação de decreto criando o Plano Estadual Rodoviário (junho de 2020), contratação ao EIA/Rima (agosto de 2020), novo marco legal do transporte ferroviário (junho de 2021), licença ambiental provisória (agosto de 2021) e leilão na B3 (novembro de 2021).