Cascavel – As exportações em alta e o auge da colheita da safrinha de milho intensificam o tráfego de caminhões nas rodovias, mas uma constatação feita por concessionárias de pedágio coloca em alerta todos os que andam pelo Anel de Integração.
Direito adquirido após a greve dos caminhoneiros ano passado, a não cobrança de pedágios nos eixos suspensos em veículos vazios foi bastante comemorada tendo em vista que esse era um assunto discutido havia mais de uma década.
Só que a medida que está vigorando desde o ano passado pode esconder uma fraude que gera um grave risco à segurança de quem trafega pelas estradas e que pode pesar mais no bolso de condutores dos demais veículos na hora da formatação dos cálculos dos reajustes do pedágio.
Em muitas praças, em toda a região, caminhões carregados transitam com eixos suspensos para burlar o sistema de pagamento.
Segundo a Ecocataratas, concessionária que administra a rodovia BR-277 de Foz do Iguaçu até Guarapuava, situações como essas estão cada vez mais frequentes. Nos guichês, alguns atendentes chegam a questionar os condutores, que negam estar com carga máxima.
Aliás, essa já foi uma preocupação da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) há dez anos, quando o Superior Tribunal de Justiça reconheceu a legalidade do critério previsto nos artigos 4º e 5º do Decreto-Lei nº 791/69 para a cobrança do pedágio e afastou a tese de que os eixos levantados, à época, não deveriam ser contabilizados no cálculo do pedágio. A ANTT disse na ocasião que “esse critério daria margem a fraudes nas barreiras de pedágio, pois, mesmo quando totalmente carregado, os caminhões poderiam trafegar por pequenas distâncias com os eixos levantados”. É o que tem sido visto por todo o oeste.
10 em 26 caminhões com eixo suspenso
Há casos onde a carga é tanta que o eixo que estaria suspenso se estivesse vazio fica a pouquíssimos centímetros do chão e os demais pneus chegam a achatar contra a malha asfáltica, devido à sobrecarga.
O mesmo ocorre na cancela de pagamento automático, onde é feita a leitura do cartão do Via Fácil. Nesse caso, os sensores no chão contabilizam apenas os eixos que tocam o asfalto.
O presidente do Sintropar (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Oeste do Paraná), Wagner Adriani Pinto, classifica como uma “condição vergonhosa à categoria”. “Essa foi uma luta intensa, quem faz isso envergonha a classe e coloca em risco um direito alcançado por todos. Isso é algo inadmissível e que, caso o condutor do caminhão seja flagrado nessas condições, pode ser multado e deve mesmo receber multa”.
Fiscalização
Como a concessionária não tem poder de fiscalização, esta fica a cargo da PRF (Polícia Rodoviária Federal), mas outra artimanha usada pelos motoristas fraudulentos dificulta essa ação. Como as operações de fiscalização não ocorrem nas praças de pedágio, muito caminhoneiros param pouco depois de passarem pela cancela para baixar o eixo. E voltam a erguê-lo quando se aproxima a praça de pedágio. Segundo a concessionária que administra a BR-277, isso tem sido observado em todas as cinco praças que opera.
A reportagem do Jornal O Paraná ficou por cerca de meia hora em uma delas e o resultado impressiona: de 26 caminhões que passaram pelas cancelas que estavam visivelmente carregados, dez tinham eixos suspensos.
Funcionários relatam que há casos em que os motoristas mal fazem o pagamento e param na frente para baixar o eixo, numa ação que pode ser acompanhada e ouvida pelos trabalhadores que não podem fazer nada.
Há ainda os que se aventuram em rodar por quilômetros com o eixo suspenso, situação observada com frequência na BR-467, entre Cascavel e Toledo, pondo em risco a segurança dos demais motoristas, uma vez que o caminhão fica mais vulnerável a acidentes e incidentes, como quebrar no meio da pista por conta do excesso de peso sobre os eixos que estão no chão.
Na ponta do lápis: ação lucrativa
Do ponto de vista do proprietário do caminhão, a prática é lucrativa, mesmo que ela pese no bolso dos outros motoristas na hora da composição da tabela do pedágio ou dos reajustes anuais.
Para se ter ideia, nos pedágios de Cascavel, Laranjeiras e Guarapuava, a passagem de cada eixo custa R$ 11,40. Um caminhão de nove eixos e que passa com três deles erguidos, em vez de pagar R$ 102,60, paga R$ 79,80, economia de 22%. Em um caminhão de sete eixos – os mais comuns a trafegar pelas estradas da região – quando dois deles ficam erguidos, a tarifa baixa de R$ 79,80 para R$ 57, economia de 26%, o que significa que, ao passar por quatro praças de pedágio com eixos suspensos mesmo carregados, uma delas sairia de graça.
Reportagem: Juliet Manfrin