Cotidiano

Cadeirante não consegue isentar transporte público

Gerson não consegue andar e usa uma cadeira de rodas para se locomover

Foto: Aílton Santos
Foto: Aílton Santos

Em junho do ano passado a vida de Gerson Ribeiro Afonso mudou drasticamente. Durante o expediente, ele caiu sentado segurando uma caixa de frango de aproximadamente 18 quilos. Com a queda, fraturou um osso da coluna: “Eu bati a coluna na esteira. Além da fratura, cinco cartilagens se romperam porque elas já estavam gastas”.

Desde então, Gerson não consegue andar e usa uma cadeira de rodas para se locomover. Ele depende do transporte público para ir até o local onde faz fisioterapia, pegar remédios na farmácia básica e ir ao posto de saúde.

Como está sem trabalhar desde o acidente e recebendo apenas um salário mínimo pelo auxílio-doença, Gerson já tentou isentar a tarifa do transporte público três vezes e recebeu três nãos.

Ele levou o laudo médico até a ValeSim, que encaminhou o pedido de isenção à Cettrans (Companhia de Engenharia de Transporte e Trânsito) de Cascavel, que negou a solicitação.

Gerson gasta cerca de R$ 60 por mês só em deslocamentos. Para ele, dinheiro que faz falta: “Eu não consegui me aposentar por invalidez. Com um salário mínimo preciso comprar alimentação, aluguel e os remédios”.

A morfina é um dos remédios que ele consegue pegar na farmácia básica, mas nem todos estão disponíveis, como as cartilagens. Cada caixa custa R$ 120 e Gerson precisa de três caixas por mês, mas não tem dinheiro para comprá-las.

“Se eu conseguisse andar, não estaria lutando para isentar o valor da passagem. Eu estou pedindo socorro para quem puder me ajudar”.

Na Justiça

A Lei Municipal 3.500/2002 assegura que pessoas com deficiência têm direito ao transporte público gratuito. Quando questionada, a Cettrans informa que o pedido foi indeferido três vezes em razão de o solicitante não se enquadrar nos critérios previstos em lei, mediante os laudos médicos apresentados. Acrescenta ainda que, caso o requerente tenha alguma indagação sobre o processo, deve procurar a Cettrans ou questionar judicialmente.

Sem alternativa, Gerson pretende recorrer à Justiça.

Exames

A condição de Gerson Afonso é agravada pela própria lentidão do sistema público. Ele aguarda há oito meses para fazer dois exames pelo SUS: uma eletroneuromiografia, que custa R$ 800, e uma ressonância magnética, que custa R$ 600. Segundo ele, esses exames vão apontar em qual parte da coluna está o problema: “Só depois que eu fizer os exames é que os médicos poderão passar o tratamento na parte específica em que há a lesão”. E, então, ele poderá até voltar a andar.

Enquanto aguarda os exames, Gerson prepara uma rifa para tentar pagar a eletroneuromiografia, solicitada com urgência pelo médico.

Os exames também determinarão se ele precisará de cirurgia. “Por enquanto, os médicos descartaram a cirurgia, porque tem 95% de chance de não dar certo e eu posso continuar sem andar ou até ficar paraplégico”.

Reversível

A esperança de Gerson Afonso é também seu principal problema. É que até agora os laudos indicam que a possibilidade de reverter o quadro e ainda não está descartado que ele volte a andar. Mas, para isso, precisa dos exames e do tratamento, prejudicados pelo próprio poder público.

Assim, a resposta que Gerson obteve da Cettrans é que, “considerando que o laudo informa que a deficiência apresentada não acarretou a perda da função motora definitiva e irreversível, a Comissão Partidária do Passe Livre decide pelo indeferimento do pedido”.

Reportagem: Milena Lemes