Cotidiano

Atraso nas informações mascara cenário trágico da dengue no Paraná

Já preocupante, o cenário é muito pior e vem sendo “mascarado” pelo atraso no cadastro das informações pelos municípios. Levantamento feito pelo O Paraná na região revela que o total de registros nas cidades é 30% maior que o informado no boletim oficial do Estado.

 Foto: Ari Dias/AEN
Foto: Ari Dias/AEN

Reportagem: Cláudia Neis

Foz do Iguaçu – A dengue continua a avançar perigosamente no Paraná e, conforme o Boletim divulgado ontem (18) pelo Estado, já chegam a 26.692 casos confirmados da doença, 6.129 a mais que da semana anterior, aumento de 29,81%. Apesar de preocupante, o cenário é muito pior e vem sendo mascarado pelo atraso no cadastro das informações dos municípios. Levantamento preliminar feito pela reportagem do Jornal O Paraná é de que haja pelo menos 20% a mais de afetados que mostra o boletim oficial.

A diferença é reconhecida pela Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), que explica que, mesmo sendo unificado o sistema em que os municípios fazem o registro dos casos e que a informação chegue imediatamente, muitos municípios demoram para fazer o cadastro dos pacientes com dengue, causando um atraso na atualização dos dados. Isso ocorre devido ao grande volume de casos registrados diariamente e por falta de pessoal.

A reportagem pesquisou os números de sete prefeituras – algumas de cidades em epidemia – e a diferença entre os números informados no boletim estadual e os divulgados pelas cidades chega a 23%, mas o número é maior, pois alguns dos números repassados pelos municípios são da última semana.

Guaíra está em epidemia. Até a semana passada tinha 1.171 casos confirmados, mas o Boletim desta semana informa 1.076. Quatro Pontes confirmou 319 casos e no Estado o registro é de 225. Nova Aurora tem 284 confirmações e aparece com 201 no Boletim. Já Marechal Cândido Rondon, além de ter 103 casos e aparecer com 83 no Boletim, registrou a primeira morte pela doença, a qual não foi incluída no Boletim desta semana.

Até as cidades maiores figuram com defasagem. Em Foz do Iguaçu foram confirmados 1.217 casos, mas no boletim tem 752 casos, uma diferença de 61%. Cascavel tem 140 registros, mas aparece com 106 no informe do Estado. E, Toledo, tem 65 confirmações oficiais e 44 no Boletim.

Considerando apenas esses casos, a divergência de dados é de 30%: 3.236 confirmações dos municípios e 2.487 divulgadas no Boletim da Dengue.

dengue

O Boletim da Dengue desta semana informa mais dez mortes causadas pela doença, chegando a 23 vítimas. Duas delas são da região oeste, uma em Jesuítas e uma Foz do Iguaçu. Ontem foi confirmada uma morte em Marechal Cândido Rondon, mas não aparece nesse boletim.

Segundo a Sesa, a atualização do número de casos confirmados de dengue pode sofrer atraso de até duas semanas, já o registro das mortes pode passar de um mês, uma vez que é necessária uma investigação mais criteriosa e diversos exames.

Na semana passada, por exemplo, foi confirmada uma morte registrada em dezembro do ano passado, o que leva a crer que o número de mortes pode ser bem superior que o registrado até agora.

De acordo com a Sesa, os dez óbitos são principalmente de pessoas idosas, portadoras de outras doenças, e aconteceram nos municípios de: Alto Paraná, um homem de 62 anos, portador de hipertensão e outro de 82 anos com diabetes e hipertensão; Foz do Iguaçu, um homem de 76 anos, com doença crônica no fígado; Medianeira, um homem de 90 anos, com insuficiência renal crônica; Douradina, uma mulher de 81 anos, com hipertensão arterial e doença cardíaca; Xambrê, uma mulher de 80 anos, portadora de hipertensão; Terra Rica, um homem de 65 anos, portador de diabetes e pressão alta; Santa Mônica, uma idosa de 73 anos; Sarandi, uma mulher de 26 anos, sem comorbidades; e, em Maringá, uma menina de 7 anos sem comorbidade associada.

Notificações e dengue grave

A escalada da dengue deve continuar por mais algumas semanas. O número de notificações chegou a 76.285, crescimento de 17,5% em uma semana, e atinge 325 dos 399 municípios paranaenses. A lista das cidades em epidemia também cresceu, chegando a 78 municípios. Outros 40 municípios estão em estado de alerta.

O boletim desta semana traz também 64 municípios que apresentam casos de dengue com sinais de alarme. Isso significa que as pessoas infectadas estão sendo acompanhadas clinicamente para que a doença não evolua para a forma grave.

Os sintomas da dengue clássica são febre alta súbita, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, náuseas, tonturas e extremo cansaço, entre outros.

Quando o caso evolui, mostra os chamados sinais de alarme, como dores abdominais fortes e contínuas, vômitos persistentes, palidez, sangramentos pelo nariz, boca e gengivas.

Normalmente, os sinais de alarme ocorrem entre o terceiro e o quinto dia da infecção, no chamado período crítico da dengue. É tratado com hidratação e medicação.

“Estamos trabalhando fortemente para o combate. Mas, mais do que materiais instrutivos, mais do que a minha fala e as orientações técnicas, é preciso tocar a consciência de cada um: a dengue é evitável e a ação de cada um é fundamental para evitarmos que mais pessoas adoeçam e que morram. E nós da gestão em saúde, como secretário de Estado, como ex-prefeito e como médico temos o dever de alertar e de adotar as medidas de prevenção”, afirma o secretário da Saúde do Paraná, Beto Preto.

Fumacê e ações de combate

A Sesa informou que o novo inseticida para combate ao mosquito, chamado Cielo, só deve chegar ao Estado em março e então será distribuído às Regionais de Saúde que encaminharão aos municípios.

Agora, os municípios têm recebido o antigo inseticida malathion. O Estado recebeu em janeiro 19 mil litros referentes a um pedido antigo do Ministério da Saúde, mas o volume não é suficiente para atender a todos os municípios, por isso é aguardada a chegada da nova substância que tem princípios ativos diferentes do malathion, pois vem pronto para uso em UBV (Ultra Baixo Volume), que é popularmente conhecido como “fumacê”.

As duas substâncias também podem ser aplicadas manualmente com o uso de bombas costais. A escolha do método cabe ao município. Na região oeste, Nova Aurora deve começar nesta quarta-feira (19) a aplicação por fumacê de 650 litros de inseticida. Em São Miguel do Iguaçu a aplicação também já foi iniciada.

Clique aqui e confira o boletim completo.