Cotidiano

Artistas criticam fim do MinC durante show em Salvador

SALVADOR – Depois de uma inauguração morna na sexta-feira, com shows das cantoras Maria Bethânia e Margareth Menezes de pouca interação com a plateia, a Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, virou uma arena de protesto na noite de sábado, durante as apresentações de Carlinhos Brown e do grupo Baiana System. Os shows fazem parte do festival “Eu sou a Concha”, que reabre o importante espaço cultural da capital baiana, tombado pelo Iphan e fechado para obras de recuperação há três anos.

Ao abrir a segunda noite do festival – que terá ainda o reencontro dos Novos Baianos na noite deste domingo – o músico Carlinhos Brown cantou hits como “A namorada”, “Já sei namorar” e “Toneladas de desejo”. Ao dirigir-se à plateia pela primeira vez, aproveitou para criticar diretamente o presidente interino, Michel Temer:

– Tá ouvindo, Michel? Devolva meu ministério da Cultura já! Se não fosse a cultura eu continuava semianalfabeto. Eu sou a favor da democracia, eu amo o Brasil do meu jeito – gritou Brown, ovacionado pela plateia, que carregava cartazes em favor do MinC, ministério agregado à pasta da Educação no novo governo.

Brown levou ao palco o músico Lazzo Matumbi, que reforçou o coro das críticas:

– A nossa cultura é a nossa identidade. E foram eliminiar justamente o órgão que nos representa, o Ministério da Cultura. Um país sem cultura é um país sem identidade. E eu não tô aqui cantando de graça. Eu estou aqui porque nós temos identidade – bradou Lazzo, também aplaudido.

Ao final do show de Brown, que durou cerca de 1h30, o vocalista da banda Baiana System, principal atração da noite, subiu ao palco provocando a plateia aos gritos de “golpistas não passarão”. Com domínio do público, que já sabia cantar todas as músicas do novo álbum da banda, “Duas cidades”, lançado no último mês, Russo Passapusso evocou o passado de resistência da arena, contando as inúmeras vezes em que sonhou em se apresentar naquele palco no início da carreira. Depois convidou o cantor Ney Matogrosso para subir ao palco, onde apresentou novas versões de músicas como “Sangue Latino” e “O tempo não para”, feitas especialmente para o espetáculo, com a característica guitarra baiana do grupo.

Ao longo do show, Russo Passapusso pediu para ver cada uma das bandeiras que o público levou (a maioria, pedindo a “devolução do MinC”), encorajando a plateia a levantá-las; bradou contra o fim do ministério da Cultura durante as músicas, e ao final, tendo extrapolado o tempo da apresentação da banda, durante o hit “Playsom”, teve o microfone cortado. As luzes da arena foram acesas e o show se encerrou às pressas, sob vaias da plateia.