RIO – Rafaella Chueke passou o ano na expectativa para dois grandes eventos: o Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) e sua festa de formatura no Colégio Israelita
Brasileiro Liessin, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Estava tranquila porque
ambos ocorreriam com um mês de intervalo entre si. Mas algo inesperado
aconteceu. Ela faria a prova neste fim de semana, na unidade Humaitá do Colégio
Pedro II, mas, como a escola está ocupada por estudantes em protesto contra
medidas do governo federal, Rafaella vai fazer o Enem nos dias 3 e 4 de
dezembro. Além de ter que esticar a maratona de estudos nessa reta final, será
obrigada a realizar o exame no fim de semana de sua festa de formatura.
? Mais um mês de estudo cansa. Vou procurar
continuar com meu ritmo de preparação, mas deveriam ter colocado os candidatos
para fazer a prova em outros lugares, nas mesmas datas. Fiquei chateada, porque
também comprometeu uma noite importante, da formatura ? lamenta a aluna, que
quer fazer faculdade de Administração e não cogita deixar a festa de lado para
se concentrar só no exame. ? Já paguei pela festa e estarei lá, mas não vou
poder aproveitar da mesma forma.
Rafaella pertence ao grupo de 191 mil
pessoas que fariam o Enem no próximo fim de semana, dias 5 e 6 de novembro, em
303 escolas de 126 municípios que foram ocupadas pelo movimento contra a PEC
241, que estabelece um teto para gastos do governo, e contra a Medida Provisória
de reforma do ensino médio. Os estados com o maior número de unidades ocupadas
são Paraná, com 74 escolas e 41.168 candidatos afetados, e Minas Gerais, com 59
ocupações e 42.671 participantes que farão o exame nos dias 3 e 4 de dezembro.
No estado do Rio, são dez escolas e 7.232 alunos prejudicados.
O estudante Raphael Pellerin, do Colégio
Notre Dame de Ipanema, na Zona Sul, está revoltado com o adiamento do Enem. Ele
teme, entre outras coisas, ser prejudicado em outro compromisso que pode ser
decisivo para sua trajetória. Na semana seguinte às novas datas do exame,
acontece a segunda fase do vestibular da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj).
Meu foco todo acabou, estou esgotado.
Enquanto todos estarão se concentrando na segunda fase da Uerj após o Enem deste
fim de semana, terei que me dividir entre as duas provas. Vou chegar cansado na
segunda fase ? queixa-se o aluno, que quer estudar Geologia. ? Fiz 13 provas do
Enem. Estudei todos os exames desde 2009 e até as provas aplicadas para os
presidiários (detentos inscritos no Enem realizam o exame com questões e datas
diferentes). Terminei toda a preparação no tempo certo para a prova, e aí vem
essa notícia.
Quando vi que o colégio onde eu faria a prova estava na lista de ocupados, bateu o desespero
Aluno do Colégio Andrews, no Humaitá, Ravi
Chvaicer ficou assustado quando viu na internet a notícia sobre o adiamento. Ele
também faria a prova no Pedro II do Humaitá.
? Fui pego completamente de surpresa.
Quando vi que o colégio onde eu faria a prova estava na lista de ocupados, bateu
o desespero. O governo deveria ter um plano B ? critica o estudante, que
pretende estudar Cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF). ? O lado
positivo é que terei mais tempo. Vou rever conteúdos de Ciências Naturais, tenho
dificuldade com biologia e química.
Cerca de 8,7 milhões de candidatos são
esperados no próximo fim de semana para o Enem, em mais de 16 mil locais de
prova espalhados por 1.727 municípios do Brasil. O exame é a principal porta de
entrada no ensino superior do país.
Ao comentar o adiamento para os 191 mil
participantes, a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, garantiu que as provas não
terão graus de dificuldade diferentes, uma vez que a Teoria de Resposta ao Item
(TRI), usada pelo órgão para comparar todas as questões, torna possível aplicar
avaliações equivalentes.
De acordo com o professor Renato
Pellizzari, coordenador de vestibular do Colégio Qi, a rede de ensino tem 50
alunos afetados pela mudança em suas unidades. Segundo ele, o principal conselho
é trabalhar o psicológico para não se deixar desmotivar. Para quem vai fazer
outros vestibulares, a dica é montar um bom planejamento.
Não é recomendado dobrar o tempo de
estudo. O aluno deve pensar bem no que precisa ser revisto, fazer uma lista de
tópicos. Sem aumentar a carga de estudos. O ideal é manter uma rotina
equilibrada ? comentou o professor do Qi, que vai bolar uma forma de auxiliar os
estudantes do colégio nessa situação. ? Temos que ajudar no planejamento, montar
grupos de alunos na mesma situação e motivar. Em um primeiro momento, a notícia
é ruim, mas, passando o sentimento de frustração, o aluno precisa lidar com
isso.