BUENOS AIRES ? Um dia depois de ter recebido em Washington a visita de Lilian Tintori e Patricia Ceballos, mulheres de dois dos principais presos políticos da Venezuela (Leopoldo López e Daniel Ceballos, respectivamente), o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, inaugurou nesta terça-feira uma série de debates sobre a situação política do país, em sua cruzada para aplicar a Carta Democrática do organismo contra o governo do presidente Nicolás Maduro. Após afirmar que na Venezuela ?não existe divisão de poderes? e que ?os venezuelanos perderam o direito a votar?, Almagro assistiu a representantes de ONGs venezuelanas que apresentavam dados sobre a delicada situação política, econômica e social do país.
? Hoje a Venezuela é uma ditadura, uma tirania ? assegurou o secretário-geral da OEA, que, em 14 de março passado, divulgou um relatório no qual detalha a deterioração da crise venezuelana.
Almagro pretende que o documento acelere os tempos do debate interno na OEA e convença os países que ainda defendem o governo Maduro sobre a necessidade de aplicar a Carta Democrática da organização.
Um dos participantes do debate desta terça foi o advogado Gonzalo Himiob, da Foro Penal, ONG que ajuda presos e perseguidos políticos.
? O governo fala em guerra econômica, até mesmo na guerra do pão… agora os inimigos são os padeiros. Antes foram os construtores, médicos, farmacêuticos, todos são consideramos criminais. É uma narrativa para justificar a perseguição ? disse Himiob.
Para a Foro Penal, o Palácio Miraflores usa os processos penais como ferramenta para castigar opositores.
? Temos pessoas que ficaram quase três anos presas por publicações em redes sociais. Suas audiências foram adiadas mais de 30 vezes ? comentou o advogado.
Na opinião de Mercedes de Freitas, diretora-executiva da Transparência Venezuela, ?na Venezuela o Executivo tem o monopólio do poder, controla o Judiciário e o poder Eleitoral?. Já Inti Rodríguez, do ONG Provea, referiu-se ao governo Maduro como ?uma ditadura do século XXI?.
? É um governo que foi eleito e usa instrumentos democráticos para eliminar a liberdade em nosso país ? assegurou Rodríguez, que comparou a atitude de Maduro em relação ao Legislativo à do ex-presidente do Peru Alberto Fujimori (1990-2000).
Em seu primeiro mandato, Fujimori dissolveu o Parlamento peruano.
? Depois de perder as últimas legislativas, o governo Maduro anulou a Assembleia Nacional e decidiu que não teríamos mais eleições ? criticou o representante do Provea.