Cascavel – Não fosse o Paraná, a semeadura de soja no Brasil estaria bem abaixo da realidade verificada hoje, em 2,4%. Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). No Paraná, o plantio já atinge 22% da área, conforme apuração feita junto ao Deral (Departamento de Economia Rural), ligada à Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento).
A estimativa de área para o plantio da safra 2024/25 no Paraná é de 5,8 milhões de hectares, similar à anterior. A expectativa de colheita é de 22,4 milhões de toneladas, isso representa 21% a mais do que na safra 2023/24. A expectativa ainda é boa, pois a semeadura está dentro da janela ideal de produção. O Oeste avançou na semeadura na última semana.
Mesmo assim, comparativamente ao mesmo período do ano passado, o Brasil ainda conta com um indicador bem inferior. No fim de setembro e começo de outubro de 2023, o índice era de 5,2% de avanço de plantio.
Essa condição mais favorável para o Paraná é atribuída principalmente ao clima e às precipitações pluviométricas. Nas regiões produtoras paranaenses, as chuvas favoreceram o período de desenvolvimento das plantas. Além do Paraná, outra região bastante importante no processo de evolução do plantio no Brasil foi o estado de Santa Catarina.
Na região de Cascavel, a saca da soja é comercializada em média a R$ 127. Já em Paranaguá, de acordo com o indicador CEPEA/ESALQ, a cotação está em R$ 139,02, em 30 de setembro de 2024. Ainda conforme o CEPEA/ESALQ, esse preço médio no Paraná é o maior do ano, com o patamar nominal recorde desde dezembro de 2023. A demanda das indústrias esmagadoras e as dificuldades com a resistência dos agricultores para negociar, são fatores que ajudam a explicar esse cenário, na visão de especialistas.
O atual índice de plantio no Brasil subiu 0,2% em relação à semana anterior. Já em outra região produtora do País, no estado do Mato Grosso, a semeadura já chegou a 2,6%.
MILHO
A exemplo da soja, o plantio do milho primeira safra também apresenta baixa evolução, com avanço de 21,6% da área prevista, ou seja, perfazendo um crescimento de 5,4 pontos percentuais, comparado aos 16,2% da semana passada e inferior aos 22,6% da mesma época em 2023. Em relação ao milho, o Paraná lidera a semeadura, com índice de 60%, seguido pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No Paraná, o milho primeira safra, a expectativa é de 257 mil hectares (13% menor que a safra anterior), com 74% da área semeada (concentrado nas regiões Sudoeste e Centro-Sul do Estado).
Sobre o trigo, o avanço da colheita chegou a 30,9%, superior aos 25,1% da semana anterior no Brasil. Entretanto, ainda está abaixo dos 35% verificados em igual período do ano passado. Principal produtor nacional do cereal, o Paraná já colheu 62% da área. Em virtude dos danos provocados pela estiagem, a queda na produção será de 29%.
Atraso ainda é predominante, diz coordenador do Programa Grãos
Em entrevista à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o coordenador estadual do Programa Grãos do IDR-Paraná, Edivan Possamai, aproveitou para tecer um comentário sobre o clima essa semana em Pato Branco, no Sudoeste do Estado. Na terça-feira, a oscilação térmica era predominante. Pela manhã, 14°C e no período da tarde, 32°C.
Na visão de Possamai, as chuvas foram determinantes para influenciar no avanço da semeadura no Estado. Porém, muitas regiões e municípios ainda enfrentam dificuldades para realizar o plantio da soja. “No Norte, Noroeste e na região beira lago, no Oeste do Paraná, ainda predomina a baixa umidade no solo”, aponta.
Em parte da região, no Sudoeste em direção ao Sul do Estado, tem chovido com mais frequência, o mesmo ocorrendo nas regiões próximas a Santa Catarina.
O grão de ouro
A soja, desde sua chegada a Santa Rosa, desempenhou um papel essencial na transformação do Brasil em uma potência agrícola e celeiro do mundo. O grão, que inicialmente era cultivado no Sul, expandiu-se para o Cerrado brasileiro nas décadas de 1970 e 1980, revolucionando a agricultura e a economia de estados como Mato Grosso, Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul. O desenvolvimento de novas tecnologias, como o plantio direto e a biotecnologia, possibilitou o aumento exponencial da produtividade, tornando o Brasil o maior exportador global de soja, responsável por cerca de 40% do comércio mundial do grão.
O avanço da soja no Brasil não se deu apenas por causa das condições naturais favoráveis. A pesquisa agronômica, liderada por instituições como a Embrapa, foi essencial para o desenvolvimento de variedades adaptadas ao clima tropical e para a criação de técnicas que preservam a sustentabilidade do solo. Essas inovações permitiram que regiões antes improdutivas se tornassem fundamentais na produção de grãos.
Apesar do significativo crescimento da produção ao longo dos anos de 1960, foi nos anos 70 que a produção da soja teve importante impulso e se consolidou como a principal cultura do agronegócio nacional, passando de 1.500.000 toneladas para mais de 15 milhões de toneladas, em 1979. Esse crescimento ocorreu não apenas no aumento da área cultivada – de 1.3 milhões para 8.8 milhões de hectares -, mas também com um expressivo incremento da produtividade, passando de 1.140 kg/ha, para 1.730 kg/ha. No final dos anos 1970, mais de 80% da produção brasileira de soja ainda se concentrava nos três estados da Região Sul, embora o bioma Cerrado sinalizasse que participaria como importante ator no processo produtivo da oleaginosa, o que efetivamente ocorreu a partir da década de 1980. Em 1970, menos de 2% da produção nacional foi colhida naquela região, tendo uma maior concentração no estado de Mato Grosso do Sul. Em 1980, essa produção passou para 20%, em 1990 já era superior a 40%. Em 2007, superou os 60%, com tendência a ocupar maior espaço a cada nova safra.