Cotidiano

Grupo preso em Vitória planejava nova paralisação da polícia, diz MP

VITÓRIA ? Mulheres e familiares de policiais militares do Espírito Santo organizavam uma nova greve com fechamento de batalhões e unidades da Polícia Militar, segundo as investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual (MP-ES). Uma operação do MP-ES, em parceria com a Força Nacional de Segurança e a Corregedoria da Polícia Militar, prendeu nesta quarta-feira quatro pessoas. O objetivo foi “prevenir novas articulações que levem o policiamento a uma possível paralisação”.

Segundo o MP-ES, o Gaeco investiga “os integrantes de uma organização criminosa que, sob pretexto de reivindicar aumento salarial e outros benefícios aos policiais militares, valem-se de atentados contra serviços de utilidade pública, apologia a fatos criminosos, motim/revolta, ameaças a autoridades, dentre outros crimes”, afirmou o órgão.

Foram presos o policial militar Leonardo Fernandes Nascimento, o ex-soldado Walter Matias Lopes, além de Cláudia Gonçalves Bispo (mulher de PM) e Ângela Souza Santos (mulher de um PM). O ex-soldado Walter é acusado, junto ao capitão da Reserva e ex-deputado Lucínio Castelo de Assumção, de estimular o movimento que paralisou a PM no Estado no mês passado. A juíza da 4ª Criminal de Vitória, Gisele Sousa de Oliveira, que determinou as prisões, também convocou 17 pessoas para prestar depoimento e mandou cumprir 24 mandados de busca e aprenssão na Grande Vitória.

Conversas telefônicas interceptadas com autorização da justiça revelam que Ângela Souza Santos, em uma ligação datada da última quinta-feira, afirma já ter passado nos batalhões e combinado o fechamento das unidades, alegando que os policiais estariam de acordo com a medida. Acusada de liderar o movimento, Ângela disse também, na gravação, que precisaria de mais mulheres nas ações de obstrução das unidades policiais e marcou uma reunião em sua casa para acertar os detalhes da atuação do grupo. Já em outra parte da conversa, a líder do movimento assumiu que, durante protesto realizado na última quinta-feira, dia 16, a atuação do grupo teria atrapalhado o trânsito no entorno da Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória.

Em sua decisão, a juíza destacou “as consequências nefastas do movimento paredista da Polícia Militar em nosso Estado, culminando com duas centenas de mortes, uma onda de saques e furtos a estabelecimentos comerciais, suspensão de aulas, da atividade comercial, do transporte público e até das atividades do próprio Poder Judiciário”.

A juíza relatou ainda em sua decisão: “Nesse período, a sociedade capixaba ficou abandonada à própria sorte, com seus cidadãos trancafiados em suas residências, impedidos, pela onda de violência, de exercer o direito constitucional de ir e vir. Tratou-se de situação até então nunca experimentada, naquela dimensão, pela sociedade capixaba. Aliás, creio não existir na literatura jurídica e nem na jurisprudência produzida pelos nossos Tribunais, outro exemplo de situação que melhor encarne a justificativa de garantia da ordem pública, considerando essa como “a necessidade de preservação da boa convivência social”.

Em fevereiro, o Espírito Santo ficou sem policiamento porque protestos de familiares impediram a saída de policiais militares dos batalhões e quartéis do estado. A onda de violência causada pela falta de polícia nas ruas registrou 127 homicídios, segundo o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol). Homens das Forças Armadas e da Força Nacional foram convocados pelo governo para combater uma série de assaltos, arrastões e saques.