LIMA O economista de centro-direita Pedro Pablo Kuczynski está muito próximo da vitória no segundo turno presidencial do Peru com quase 90% dos votos apurados e uma vantagem de apenas 1,04% sobre a rival Keiko Fujimori, um resultado que mostra como o país está dividido.
Com 89,53% das urnas apuradas, Kuczynski, ex-executivo de Wall Street e ex-funcionário do Banco Mundial, tinha 50,52% dos votos, contra 49,48% de Keiko, informou o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE). A diferença entre os dois candidatos seria de algo por volta dos 200 mil votos, de acordo com os cálculos de empresas de consultoria. Apesar de o voto ser obrigatório no Peru, o índice de abstenção chegou a 17,5%.
Nenhum candidato declarou vitória e, com a pequena margem de diferença, que poderia mudar com os votos das províncias mais afastadas, os dois lados optaram pela cautela.
Ainda não vencemos. É preciso esperar os resultados oficiais disse Kuczynski, chamado de PPK, acrônimo de seu nome e de seu partido, Peruanos Por el Kambio.
Ele estava na varanda de sua casa, em Lima, onde apareceu acompanhado dos dois candidatos à vice-presidência, de sua mulher e de duas de suas filhas.
Tomemos estes resultados preliminares com otimismo, mas com modéstia disse o candidato, que pediu aos seus seguidores que permaneçam vigilantes até o último voto, antes de acrescentar que no domingo os peruanos demonstraram que temos um país democrático.
Keiko também pediu prudência diante dos resultados apertados da votação e agradeceu aos 50% dos peruanos que votaram nela.
Nós nos sentimos plenos de emoção e de orgulho em saber que contamos com 50% do apoio da população disse a candidata, sorridente, ao se dirigir aos simpatizantes reunidos em frente ao hotel onde instalou seu quartel-general à espera dos resultados oficiais.
É uma votação apertada, sem dúvida comentou. Vamos esperar com prudência porque durante toda a noite chegarão os votos das regiões, do exterior e o voto rural, do Peru profundo. Por isto estamos otimistas.
Esta é a segunda vez que a filha do autocrata Alberto Fujimori, que governou o Peru de 1990 a 2000, disputa a eleição presidencial. Ela pode amargar a segunda derrota, apesar de ter sido considerada favorita durante quase toda a campanha. Em 2011 ela perdeu para o presidente Ollanta Humala. Na votação passada, Kuczynski ficou em terceiro lugar.
VOTAÇÃO TRANQUILA
Cerca de 23 milhões de peruanos votaram no domingo de forma tranquila para eleger o novo presidente, após uma longa campanha em que Keiko Fujimori era até poucos dias atrás a favorita para substituir Humala na presidência a partir do próximo 28 de julho. Na última semana, no entanto, Kuczynski a alcançou e pode tirar dela a vitória.
O fujimorismo luta para voltar ao poder 16 anos depois de o pai da candidata, Alberto Fujimori, ter fugido para o Japão e renunciado à Presidência por fax, pondo fim a um governo repressor e corrupto (1990-2000).
Durante a campanha, mais que propostas, houve troca de acusações entre os candidatos. Kuczynski começou a ganhar terreno na reta final da disputa, estimulado pelo bom desempenho no último debate presidencial, pelo apoio da maioria dos candidatos derrotados no primeiro turno incluindo a popular candidata de esquerda Verónika Mendoza e um protesto organizado por grupos civis contra a candidatura de Fujimori.
No caso de vitória de Kuczynski, ele terá que buscar consenso em um Congresso de maioria absoluta fujimorista 73 de 130 representantes , com apenas 18 legisladores de seu partido.
Vamos ter um governo de consenso, não mais lutas nem confronto afirmou Kuczynski no domingo.
O PAPEL DE KEIKO
Keiko Fujimori manterá o controle de sua bancada parlamentar, com uma importante força de negociação e o respaldo de 50% da população, o que lhe permitiria incluir na pauta inclusive a concessão da prisão domiciliar a seu pai, Alberto Fujimori, que desde 2009 cumpre uma condenação de 25 anos por crimes de corrupção e contra a humanidade. Esta possibilidade já havia sido mencionada pelo próprio PPK.
Keiko viu sua candidatura perder força nos últimos dias pelo vínculo de pessoas de seu entorno a denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro e narcotráfico.
Seus adversários conseguiram divulgar a ideia de que, em caso de vitória fujimorista, ficaria institucionalizado um narcoestado, com o retorno do clã ao poder.
Keiko reconstruiu sua imagem pública, com uma tentativa de divulgar novos valores e se distanciar da autocracia de seu pai, que em 5 de abril de 1992 deu um autogolpe, com o qual fechou o Congresso e assumiu o controle das instituições do Estado, com mais duas reeleições para a presidência.