“Tenho 73 anos, nasci em Baltimore, Maryland. Meu pai me deu uma câmera quando eu estava na creche, e eu tiro fotos desde então. Sou uma fotógrafa freelancer há 50 anos, e minha especialidade é retratar arte de rua. Já tirei fotos no mundo inteiro, e trabalhei para tantas empresas que não teria tempo de falar sobre todas.”
Conte algo que não sei.
Recentemente, fiz um projeto comparando fotografias de um bairro em Baltimore chamado Sowebo (South West Baltimore) com fotografias de Soweto (na África do Sul). Trabalhei duro nesse projeto, e ele me marcou muito. Sowebo foi batizado assim por causa de Soweto. Uma pessoa achou que o bairro se parecia com a cidade sul-africana, mesmo sem nunca ter ido lá. Imagino que na favela carioca eu também encontre coisas que me lembrem de Baltimore.
O que espera ver?
Não sei, vou ficar com a mente aberta (risos). Para mim, essa é a maior alegria da fotografia: procurar sem saber o que tem pela frente. Fotografar é como uma caça ao tesouro. Para falar a verdade, é muito parecido com “Pokemón Go” (risos). A diferença é que os prêmios do jogo são os próprios Pokemóns, mas todos são conhecidos. Por outro lado, ao sair para fotografar não sei o que verei. Então, você busca o desconhecido.
E qual seria o “prêmio”, ou o “tesouro”, da sua atividade? Já o encontrou?
Encontrei pequenos pedaços de tesouro, digamos assim. Tirar uma boa foto é um tesouro para mim. O que me motiva é a ideia de que, em algum lugar, há uma grande foto, e que um dia irei encontrá-la. Mas, obviamente, não sei qual será, porque ainda estou procurando.
Você foi a primeira a fotografar grafite nas ruas de Nova York, na década de 1970. O que motivou os artistas a começarem o movimento?
É difícil responder. Não eram só crianças pobres, havia muitas de classe média, também. E elas escreviam o nome delas. Escrever seu nome é algo muito poderoso. Gostamos de ver o nome no nosso trabalho. Gosto de ver o meu publicado em livros, ou como crédito das minhas fotografias; entendo o poder que isso tem. E você também deve gostar de ver o seu nas suas reportagens. Acredito que seja simplesmente uma forma de mostrar que eles estão ali, como um logotipo. Mas posso falar melhor do que me interessou em tirar fotos daquilo.
E o que foi?
O fato de alguns garotos fazerem arte para eles próprios, que não estava à venda, e que era secreta. Eu era fotógrafa do “New York Post”, e procurava crianças fazendo coisas criativas. Um dia, um garoto me pediu para tirar fotos do grafite. Eles se denominavam “escritores”, e não artistas, e faziam uma arte secreta. Bom, já não é mais secreta. Falamos de um movimento artístico gigantesco que, para alguns, é o maior da história, pois está em todos os lugares.
O que viu acontecer com alguns artistas?
Muita coisa. Eles tinham que estar preparados para tudo: brigas físicas, fugas de policiais… Alguns morreram ao serem eletrocutados pelo trilho enquanto tentavam grafitar o metrô. Um dos artistas que fotografei perdeu um braço assim, e continuou grafitando depois disso.
Hoje é mais difícil conseguir uma boa foto do que quando você começou?
Sim, porque há 30 anos eu tinha condições de passar a noite inteira em claro para tirar uma foto. E eu era a única fotógrafa a registrar aquilo. Agora, há centenas, e alguns fazem até transmissões ao vivo pela internet. Além disso, agora os próprios artistas são ótimos fotógrafos. Todos os escritores de grafite têm as próprias contas nas redes sociais, e não precisam mais de mim. Essa é a diferença.