Não sei o que é a loucura ou a normalidade. Para escrever é importante fugir da norma. Mas duvido que isso seja a loucura. (José Luís Peixoto). Elio Cardoso de Carvalho, ou apenas Elio para os amigos, sofre de transtorno psiquiátrico. Há cerca de 10 anos faz um tratamento médico e frequentemente visita o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Toledo. Atualmente segue com quadro clínico estável, sendo o curso do transtorno mental atípico para um transtorno psicótico.
Aos 44 anos de idade, ele demonstrou interesse pela literatura numa das aulas da Oficina de Literatura no CAPS II. Passou a participar das orientações semanais dos poetas do Clube da Poesia, na Biblioteca Municipal, e bastaram dois anos para que Elio manifestasse o amor pela escrita.
Elio, que aprendeu a ler e escrever no Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Ceebja) se apaixonou pela literatura a tal ponto que se viu obrigado a comprar um computador para facilitar a escrita. Isso representou mais um desafio para ele: aprender a usar o computador. Para Elio nada é impossível e hoje ele se habilita abrir o Word e transpor suas ideias no meio digital. O poeta ainda ousa encaminhar tudo que escreve por email para a equipe do CAPS.
Ele se revelou um poeta da vida, das coisas do olhar, do sentir, do gostar.
Escreve com tal expressão e desenvoltura que não foi apenas aprendiz, mas, um emocionado companheiro das letras, que não se cansa de dizer o que sente e pensa, afirma a poetisa Edy Braun, integrante da Academia de Letras de Toledo.
A sensibilidade do paciente sempre marcou presença em todas as atividades, Elio sempre participou das Oficinas Terapêuticas Do Verde, Musicalização, Atividades Físicas, Reciclagem de Jornal e Pintura em Tecido.
A coordenadora do Projeto, Ironice Alves Mattos, acredita que as oficinas trazem a capacidade de viver bem do paciente. A recuperação da autonomia e independência possibilitam que ele volte a desempenhar seus papéis: familiar, social e profissional, incentivando o desenvolvimento de habilidades que possibilitem atividades produtivas, pontuou. Elio é um exemplo de que transtornos mentais graves podem ser superados. Além disso, pacientes podem ser reinseridos na sociedade, complementou.
O livro
O livro surgiu da parceria entre o Clube da Poesia e o Caps II, que através da iniciativa do profissional de Arteterapia, e o talento de Elio foi pensado e finalmente desenvolvido o livro Eu, Elio o Poeta. Acadêmicos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda que atuam na editora da Fasul, auxiliaram na editoração do material, tudo de forma gratuita. Um único exemplar saiu do forno e foi entregue ao CAPS II no dia 06 de janeiro.
A coordenadora do CPS II, Neuza Gripp, que durante todo o processo da elaboração do livro buscou apoio e ajuda e foi uma das grandes incentivadoras do projeto, revelou que o objetivo agora é disseminar o livro. No momento estamos procurando parcerias para imprimir mais exemplares. Precisamos dessa ajuda para que o maior número de pessoas conheça as poesias de Elio, concluiu Neuza. Eu, Elio o Poeta é uma obra que envolveu o trabalho de muita gente, teve muita dedicação e compromisso, e mais do que isso, Eu, Elio o poeta é uma obra de superação, de força de vontade e exemplo, afinal de contas não é todos os dias que uma pessoa com transtornos psiquiátricos se torna um escritor.