Brasil - A nova tarifação anunciada por carta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, caiu como uma bomba nos setores do agronegócio e da indústria brasileira. Dos 22 países que receberam a notificação, a tarifa imposta ao Brasil é, de longe, a maior: 50%. E o que isso significa para o País? Para entender melhor os efeitos provocados pela decisão americana, a reportagem do Jornal O Paraná ouviu representantes de vários setores, com ênfase no setor agroprodutivo, entre eles a FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), Frimesa, Coopavel, Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), SRO (Sociedade Rural do Oeste do Paraná) e Sindicato Rural de Cascavel.
Para o consumidor, é como se tudo que o brasileiro comprasse nos supermercados passasse a custar 50% a mais. E é isso que poderá ocorrer com os produtos brasileiros consumidos pelos americanos – produtos mais caros lá têm efeito negativo aqui.
FPA E ENTIDADES
Em nota, a FPA (Frente Parlamentar Agropecuária) disse que os impactos dessa medida serão sentidos no câmbio e no aumento do custo de insumos importados, afetando a competitividade das exportações brasileiras. Para os membros da bancada ruralista, a diplomacia é o caminho mais estratégico. Já a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) considerou a medida americana unilateral e injustificável pelo histórico das relações comerciais entre os dois países. “A economia e o comércio não podem ser injustamente afetados por questões de natureza política”.
A Abiec (Associação Brasileira dos Exportadores de Carne) destaca ser importante que as questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global. As exportações de carne aos Estados Unidos cresceram no último ano e hoje representam 12% do volume total. E a CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) disse, também em nota, que a sobretaxa é péssima para o setor e não afeta só o Brasil, mas toda a indústria de suco dos Estados Unidos que, há décadas, tem o Brasil como principal fornecedor externo. (Confira o infográfico)
EFEITOS NEGATIVOS
EsTa possibilidade de produtos mais caros nos EUA pode gerar um efeito em cadeia de inflação e nas taxas de juros dos dois países, além de aumento na cotação do dólar no Brasil. Para as empresas, afeta a expectativa de investimento dos empresários, prejudicando a qualidade e a quantidade de empregos no País.
O Jornal O Paraná ouviu o presidente da Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), Marcio Luiz Blazius. “A taxação de 50% sobre importações de produtos brasileiros, recém-determinada pelo Governo de Donald Trump, gera, sim, preocupações ao setor produtivo nacional. Mas, nesta hora e diante de tudo o que está em jogo, o melhor caminho é a diplomacia, o diálogo e a busca por entendimentos, tudo respeitando bases técnicas para que ambos os lados possam chegar à melhor solução sobre o tema”.
COOPERATIVAS
O presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, enxerga no diálogo, serenidade e bom senso a trilha para reverter a decisão americana. “Que se busque uma solução negociada, e de forma técnica, para essa situação que, certamente, não será benéfica a nenhum dos dois países. Como a situação ainda é muito recente, o agro e as cooperativas, a exemplo da Coopavel, estão avaliando quais serão os impactos das medidas anunciadas”, disse ao O Paraná.
O diretor-executivo da Frimesa, Elias Zydek, confirmou que a taxação de 50% sobre as exportações brasileiras tem um impacto em toda a cadeia de proteína animal. “Para a suinocultura, não há um reflexo significativo, visto que o Brasil exporta apenas 1.200 toneladas por mês para os americanos, gerando uma receita de R$ 3,5 milhões ao mês”. Ou seja, o impacto é cerca de 2% sobre as exportações totais de suínos no Brasil. A Frimesa não exporta para os Estados Unidos. Já do ponto de vista da cadeia de ovos, essa sim, sentirá os efeitos. Segundo ele, 61% das exportações de ovos são para os Estados Unidos e mais ainda no caso da tilápia, quando 81% das exportações dessa espécie alimentam os americanos. Já em relação ao gado, o Brasil exporta em torno de R$ 1 bilhão por mês, gerando um impacto robusto.
“Mesmo que para a suinocultura não haja um reflexo direto, para o conjunto da proteína animal será significativo, influenciando na oferta e demanda interna das proteínas, resultando na movimentação nos preços praticados, tanto no mercado interno como na exportação. Para Zydek, o momento é delicado e é preciso acompanhar todo o desdobramento dessa situação.
SRO E SINDRURAL
A taxação americana aos produtos brasileiros surpreendeu o presidente do Sindicato Rural de Cascavel, Paulo Orso. “Na verdade, o Brasil sempre foi um País que pregou a amizade, o relacionamento e, infelizmente, com essa taxação, o agro pode vir a sofrer muito, seja por meio do impacto direto ou indireto”, continuando: “Ainda não temos métrica para saber o quanto, mas realmente trará grandes problemas, não só para o agro, mas para a economia do Brasil como um todo”.
O presidente da Sociedade Rural do Oeste do Paraná, Devair Bortolato, o Peninha, ainda considera prematuro dizer se haverá ou não algum reflexo, até mesmo na questão do gado. “Até porque a nossa carne chega muito barata lá. Porém, se ele sobretaxar, os americanos vão sentir no bolso o custo da carne brasileira, gerando reações negativas e respingando na popularidade do Governo Trump”. A decisão ficou para 1º de agosto. “Ainda tem muita água para rolar debaixo da ponte. Ele [Donald Trump] pode mudar de opinião a qualquer momento e estamos cientes de que ele costuma recorrer ao blefe quando o assunto envolve mercado internacional”.
G7 Paraná pede agilidade
O G7 Paraná (Fecomércio, Faciap, Faep, Fiep, Fetranspar, Ocepar e ACP) cobrou agilidade diante do Governo Federal diante do anúncio da taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos a partir de 1º de agosto. O G7 recomenda que as autoridades federais abram canais de diálogo efetivos com o governo norte-americano, buscando a anulação dessa medida e, assim, evitando prejuízos imensuráveis para a economia nacional.
O grupo também está avaliando, junto a diferentes segmentos do setor produtivo estadual, os possíveis impactos para a economia paranaense. “Esperamos sensatez, agilidade e tato neste decisivo momento de negociação com os americanos, pois o Paraná, em especial, pode vir a perder competitividade com o aumento do valor dos produtos”, destaca o coordenador do G7, coronel Sérgio Malucelli.