RIO ? O ex-governador Sérgio Cabral fez um pedido ao entrar na cela de 16 metros quadrados que vai ocupar por tempo indeterminado em Bangu 8: escolheu dormir na cama de baixo de um dos beliches. Ele passou a primeira noite na prisão na companhia de cinco velhos conhecidos e, segundo o Ministério Público Federal (MPF), integrantes do mesmo esquema de corrupção que desviou R$ 224 milhões dos cofres públicos. Estão no mesmo ambiente o ex-assessor Paulo Fernando Magalhães; os operadores Carlos Emanuel Miranda, o Carlinhos, e José Orlando Rabelo; o ex-secretário de Obras Hudson Braga; e Luiz Paulo Reis, apontado como laranja de Braga. Todos cumpriram o ritual de entrada no sistema carcerário e tiveram os cabelos raspados.
Para passar o tempo, Cabral optou pelo livro ?Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e nos islamismo?, de Karen Armstrong. A obra, que analisa as origens do extremismo religioso nas três religiões, foi levada pelo ex-governador na mochila que carregou para o presídio. Até o início da tarde desta sexta-feira, ele ainda não havia recebido visitas. A cela tem ainda um chuveiro, uma pia e um dispositivo sanitário no chão.
A cerca de um quilômetro, o também ex-governador Anthony Garotinho ? ex-aliado de Cabral e hoje adversário político ? ocupa um leito, que também tem grades, como uma cela, no hospital penitenciário. Garotinho demonstrou irritação ao chegar ao Complexo, assim como já havia feito na saída do Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio. Assim que tiver alta, será levado para o presídio José Frederico Marques, porta de entrada no sistema. Caso apresente diploma de curso superior, irá também para Bangu 8. Se não comprovar a formação universitária, o destino será alguma das outras 25 unidades que compõem a estrutura de Bangu. Garotinho não cumprirá a prisão preventiva em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, como chegou a ser cogitado. A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) entende que a estadia de Garotinho em Campos poderia provocar tumultos, já que a cadeia fica muito próxima à rua, o que não acontece em Bangu.
Titular da Seap, o coronel Erir Ribeiro da Costa Filho nega que os dois ex-governadores tenham regalias. O secretário desta ainda que as galerias não foram esvaziadas para a chegada de Cabral, como chegou a ser divulgado nas redes sociais. Segundo ele, Bangu 8 tem capacidade para receber 154 presos, e hoje tem 130. O cardápio é o mesmo dos outros presos ? arroz, feijão, macarrão e uma carne no almoço e jantar; pão e café pela manhã ?, e há a autorização para familiares levarem alimentos, em plásticos transparentes, desde que não seja nada ?imoral?, como lagosta e camarão. Cabral fez as duas refeições que já foram oferecidas desde que chegou à cadeia.
? Eu sigo as regras. Quem ingressa no sistema é tratado igual a cada um dos internos que já estão lá ? assegura o secretário.
Nesta sexta, Garotinho vai receber a visita da esposa, Rosinha Garotinho, e do cardiologista particular ? há também um médico da Secretaria acompanhando o caso. O ex-governador fará um cateterismo na segunda-feira para verificar se há obstrução nas artérias. Caso o destino de Garotinho seja mesmo Bangu 8, após a alta médica, a hipótese de ele e Cabral ocuparem o mesmo espaço está descartada.
? A cela já está cheia ? diz Costa Filho.