RIO ? Amigo pessoal de Fidel Castro, o escritor Frei Betto recebeu com surpresa a notícia da morte do ex-presidente cubano e líder da revolução comunista no continente americano. Betto esteve com Fidel em Havana nas comemorações do aniversário de 90 anos do ex-presidente, em 13 de agosto. Foi a última vez que o encontrou.
? É um momento de perda de um amigo íntimo e ao mesmo tempo de uma figura que representava o último grande líder político do século XX, que logrou resgatar a dignidade da nação cubana. Seja contra ou a favor a revolução, o fato é que a pequena ilha do Caribe nunca mais passou despercebida da opinião pública mundial. E Fidel soube comandar esse processo com tamanha habilidade política ? afirmou Frei Betto ao Globo. ? Cuba sobreviveu a queda do muro de Berlim, ao desaparecimento da União Soviética e hoje, junto com o Brasil, é o único país que recebeu recentemente quatro visitas papais.
O escritor recordou o bom estado de Fidel no seu aniversário de 90 anos:
? Ele estava inteiramente lúcido, embora com o corpo debilitado. Mas não tão debilitado que o impedisse de caminhar sem apoio da entrada do teatro Karl Marx até a cadeira na primeira fila, onde foi apresentado um espetáculo em sua homenagem, um espetáculo protagonizado por crianças ? relembrou o religioso.
Betto diz que não esperava que Fidel fosse partir já neste ano. Durante sua visita à casa do ex-presidente, o escritor contou que Fidel não tirava os olhos da TV para acompanhar a Olimpíada.
? Achava que ele ainda teria anos de vida pela frente. Fidel continuava estudando, lendo e inteiramento ligado ao noticiário. Naquele período de agosto, não tirava os olhos da TV interessado nos Jogos Olímpicos. Fidel era esportista: praticou natação, pesca submarina e basquete.
Segundo Betto, a morte de Fidel significa a ?perda de um líder mundial num mundo carente de liderança, onde a única figura de expressão internacional respeitável é o Papa Francisco?.
? É a perda de uma referência de um homem que teve profunda coerência na vida com suas ideais e convicções. E nesse mundo onde vários dirigentes progressistas se deixam levar pela corrupção, é hora de lembrar a frase de Fidel: ?Um revolucionário pode perder tudo, até a vida, menos a ética?.