Opinião

Efeito das mudanças climáticas sobre as araucárias

Opinião de Alvaro Boson de Castro Faria

Declínios de desenvolvimento e mortalidade natural em araucárias podem ocorrer nas árvores maduras e antigas. Os fatores que levam ao estresse crônico resultam em sinais como a diminuição de crescimento, a morte pelas copas e as murchas por ressecamento. Esse estresse também é conhecido como embolia (ou obstrução dos vasos) e ocorre devido à formação de bolhas de ar dentro no sistema hidráulico, causando tensões do transporte da seiva no momento em que exista tanto baixa umidade no solo quanto elevada demanda de evapotranspiração pelas árvores.

A maioria dos declínios está associada a algum tipo local ou regional de anomalia relacionada ao clima, que causam disfunção em partes específicas das plantas. Pesquisadores da Embrapa Florestas afirmam que as regiões onde os pinheiros são mais encontrados naturalmente estão sempre associadas a altitudes a partir de 500m e com temperaturas baixas ou amenas, evidenciando a preferência da espécie em se desenvolver em locais frios e úmidos. Eles subdividiram o Paraná em quatro regiões climáticas, destacando que regiões onde a oferta de água no inverno seja maior favorecerá a adaptabilidade das araucárias.

Os danos ambientais por conta das secas prolongadas evidenciaram os riscos das mudanças de clima. Há indícios de que o Brasil esteja ficando mais quente e seco, e que as chuvas na Região Sul poderão ficar mais intensas. A região norte do Paraná é a mais suscetível a períodos de estiagens. Chuvas sazonais são previstas no litoral e na região oeste. Já no centro do Estado existe uma zona de transição.

Duas hipóteses precisariam ser confirmadas para se crer nos efeitos das mudanças climáticas sobre o declínio em longo prazo das populações do pinheiro-araucária. A primeira seria a de que a falta de água estaria influenciando como causadora de estresse em árvores maduras com baixo poder de recuperação. A segunda hipótese é a de que o aquecimento da atmosfera já esteja expressando significativamente alterações na disponibilidade de água regionalmente.

Já as mudanças no clima causadas pelo aquecimento dos oceanos são cíclicas e independem da poluição. Padrões já foram verificados na região de Palmas, General Carneiro e Bituruna. Os invernos de 2009 e de 2015 foram estressantes às araucárias maduras dada a irregularidade na distribuição das chuvas e aos períodos de secas. Uma próxima estiagem prolongada poderá ser verificada até o inverno de 2021, causando um novo ciclo de declínio.

Acredito que o El niño estará no longo prazo influenciando o Paraná com invernos menos frios e com pancadas de chuvas mais intensas. A depender do comportamento da quantidade e distribuição das chuvas, novos ciclos de estresse poderão ser observados no sudoeste (campos de Palmas) e no oeste paranaense, que são zonas de transição entre a Floresta Ombrofila Mista e a Estacional Semidecidual. Existe risco sobre a saúde das árvores, com expectativa de aumento de mortalidade. Para o caso das matas como um todo, os declínios florestais poderão estar também relacionados à falta de manejo que favoreçam a regeneração natural de árvores do futuro. Tais intervenções poderiam contribuir com o equilíbrio ambiental, a fixação de carbono e a produção água e demais serviços ambientais para a humanidade.

 

Alvaro Boson de Castro Faria é doutor e engenheiro florestal, professor da UTFPR Câmpus-DV e conselheiro Aefos/PR