Saúde

Estudo indica papel de comorbidades no agravamento da Covid-19 em idosos

Pesquisa com 142 pacientes constatou que eles apresentaram níveis mais elevados de dois marcadores sanguíneos em comparação aos pacientes com menos de 65 anos

Estudo indica papel de comorbidades no agravamento da Covid-19 em idosos
Uma pesquisa realizada com 142 pacientes internados com Covid-19 no Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Carlos, interior do estado de São Paulo, indicou que a presença de comorbidades – como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares – é de especial relevância para o agravamento da doença em pessoas idosas.
O estudo foi aprovado e deve ser publicado nos próximos dias na revista Cytokine, periódico oficial da International Cytokine & Interferon Society.

O estudo foi realizado a partir de amostras de sangue coletadas de 142 pacientes, internados entre julho e outubro de 2020, e investigou a associação entre marcadores sanguíneos de inflamação e a gravidade da doença, conforme a faixa etária dos pacientes e a presença de comorbidades.
Os resultados mostraram que idosos com Covid-19 apresentam níveis séricos mais elevados dos marcadores sanguíneos IL-6 e IL-10 (citocinas), em comparação com pessoas abaixo dos 65 anos.

O marcador IL-10 está independentemente associado à idade e à gravidade da doença, mas, no caso de IL-6, os níveis séricos não se mostraram diretamente associados à idade. O índice de comorbidade parece ser o principal responsável, estando significativamente associado aos níveis de IL-6 em pessoas com 65 anos ou mais, além da gravidade da doença.

“O estudo traz novas evidências de que a resposta inflamatória desbalanceada parece ser devida mais ao número de comorbidades que à idade em si”, afirma Henrique Pott-Junior, docente do Departamento de Medicina (DMed) da UFSCar e um dos autores do estudo. Integram a equipe junto com Pott-Junior o também docente do DMed Rafael Luís Luporini; Márcia Cominetti, docente do Departamento de Gerontologia; e Fernanda de Freitas Aníbal, do Departamento de Morfologia e Patologia, além de pesquisadoras de pós-doutorado da UFSCar – Joice Rodolpho e Ana Carolina Martin – e de Lauro Tatsuo Kubota, docente no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A produção desbalanceada de citocinas – frequentemente identificada como “tempestade de citocinas” – tem sido identificada em cerca de 20% dos pacientes infectados com Covid-19 e, frequentemente, está associada ao agravamento da doença e maior risco de morte. “Nosso estudo vem se juntar a outros indicando o papel dos níveis de IL-6 e IL-10 como preditores de gravidade da doença e, também, mortalidade. No entanto, a maior parte das pesquisas não fazem esta análise de possíveis fatores que intervêm nessa relação, como idade, gravidade da doença e, especialmente, comorbidades”, pondera Pott-Junior.

“Esta lacuna situa a relevância da nossa análise, no sentido de indicar a importância de considerar esses fatores na avaliação de risco da Covid-19 em pessoas idosas e, também, de evitar estereótipos que podem, até mesmo, comprometer os cuidados aos quais essas pessoas têm acesso”, situa o docente.

Como as interleucinas 6 e 10 (IL-6 e IL-10) têm papéis diferentes e complementares nos processos inflamatórios que acontecem no corpo humano, os autores sugerem que a relação entre os níveis das duas substâncias também pode ser uma ferramenta útil na predição da gravidade da doença, o que precisaria ser confirmado em outros estudos. Outro tópico sugerido é a investigação das vias que regulam a síntese e produção de IL-6, bem como do papel de IL-10 na gravidade da Covid-19.

O estudo do HU-UFSCar segue sendo realizado, e o grupo responsável busca financiamento para investigar estas e outras questões.
A pesquisa já realizada contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).