O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, apresentou uma nova versão da Proposta de Emenda à Constituição da Segurança Pública, com a incorporação de sugestões feitas por governadores estaduais e do Distrito Federal. A medida é apontada pelo governo Federal como uma das pautas prioritárias para 2025. As mudanças no texto tentam reduzir a resistência de governadores, que criticavam a medida por avaliarem que ela interferia na autonomia dos estados.
Originalmente, o texto havia sido apresentado no ano passado e, passou os últimos meses em debate entre governo Federal e os Estados. Ao todo, segundo Lewandowski, foram realizadas cinco reuniões de discussão da proposta, inclusive, durante o fórum dos governadores. Agora, a proposta será reapresentada pela pasta à Presidência da República, para posterior envio ao Congresso Nacional. Desde dezembro a pasta vem formulando o novo texto com foco em reforçar três pontos, que são: a não interferência do governo federal na autonomia dos estados para gerenciar os seus órgãos policiais; a restrição da Polícia Rodoviária Federal à atuação ostensiva e não judiciária; e a possibilidade de que representantes da sociedade civil integrem o novo Conselho Nacional de Segurança Pública.
Lewandowski afirmou acreditar que o novo texto tenha sanado a preocupação dos governadores. “Nós percebemos que a principal preocupação dos governadores, que entendemos que tenha sido atendida nessa proposta agora, que estamos enviando à Casa Civil, para depois ser enviada ao Congresso Nacional, é a suposta perda de autonomia dos governadores no que diz respeito ao comando das polícias civis, militares e dos corpos de bombeiros militares. Nós entendemos que sanamos isso”, afirmou.
A proposta
Com a proposta, o governo Federal pretende dar status constitucional ao Susp (Sistema Único de Segurança Pública). Além disso, quer levar para a Constituição Federal a previsão do Fundo Nacional de Segurança Pública e do Fundo Penitenciário, que atualmente estão estabelecidos em leis próprias. A nova redação deixa claro que os recursos desses fundos “serão compartilhados entre todos os integrantes da Federação, na forma da lei, vedado o seu contingenciamento“.
Polícia Viária Federal
O texto da PEC também aumenta as atribuições da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). No caso da PRF, na primeira versão da proposta, passaria a se chamar Polícia Ostensiva Federal, mas agora o governo sugere que o nome seja Polícia Viária Federal. “A atribuição ordinária da Polícia Rodoviária Federal, que vamos chamar de Polícia Viária Federal, será o patrulhamento ostensivo das rodovias, ferrovias e hidrovias federais“, observou o ministro.
Além dessas atribuições, a nova PRF poderia atuar em calamidades públicas e desastres naturais, bem como na proteção de bens, serviços e instalações federais, mediante autorização do ministro da Justiça. A força ainda poderia ser utilizada no apoio às polícias estaduais de segurança, desde que solicitado pelos governadores.
Reação governadores
Quando a proposta original foi divulgada, governadores de diversos estados reagiram à medida e afirmaram que a iniciativa seria uma tentativa de a União aumentar o seu papel na formulação de diretrizes para a área.
Inclusive, em novembro passado, durante a 12ª reunião do Cosud (Consórcio de Integração Sul e Sudeste), os governadores do Paraná, Ratinho Junior; Santa Catarina, Jorginho Mello; Espírito Santo, Renato Casagrande; Minas Gerais, Romeu Zema; Rio de Janeiro, Cláudio Castro; o governador em exercício do Rio Grande do Sul, Gabriel de Souza; e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, haviam manifestado preocupação com o texto.
Na oportunidade, os governadores assinaram a Carta de Florianópolis, uma carta de compromisso para o desenvolvimento de políticas públicas e medidas integradas para beneficiar os sete estados que compõe o grupo.
No documento, as lideranças estaduais do Sul e do Sudeste trouxeram ressalvas em relação à proposta. “Somos contra qualquer proposta que enfraqueça os Estados e reduza sua capacidade de agir de forma rápida e adequada às necessidades locais. A segurança pública deve ser construída com base na colaboração, no respeito às diferenças regionais e no fortalecimento das capacidades locais, e não por meio de uma estrutura centralizada que limita a eficiência e amplifica a burocracia”, afirmaram os governadores na oportunidade.
O Cosud ainda não se manifestou sobre o novo texto apresentado pelo Ministério da Justiça.