Saúde

Transplante hepático dá nova chance de vida a bebê de um ano

No Paraná, nenhuma outra instituição está transplantando crianças nessa faixa etária e ainda este ano a previsão é de que o Pequeno Príncipe realize mais dez cirurgias

O pequeno Mathias voltou para casa após 15 meses de espera
O pequeno Mathias voltou para casa após 15 meses de espera

Logo em sua primeira ida ao pediatra, com dez dias de vida, Mathias Fernandez Baião Wagner, hoje com um ano de idade, foi encaminhado para um hospital em Foz do Iguaçu, onde ele mora. A cor amarelada do bebê revelava problemas no fígado, diagnóstico confirmado 30 dias depois em outro hospital de Curitiba, onde passou por uma cirurgia na tentativa de corrigir o problema. O procedimento, no entanto, não trouxe o resultado esperado e o bebê se tornou candidato ao transplante de fígado.

Começava então uma dramática espera e uma intensa torcida, que teve fim no início deste ano.

Por volta das 10h do dia 27 de janeiro de 2020, Mathias deu entrada no Centro Cirúrgico do Hospital Pequeno Príncipe para receber parte do fígado do seu pai, Vitor Fernando Wagner, de 19 anos.

Foram sete horas de muita angústia, até que a equipe médica pôde dar a boa notícia à família de Mathias: o transplante havia transcorrido sem intercorrências.

O procedimento do pai foi realizado na Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, a dois quilômetros do Pequeno Príncipe, que, por ser exclusivamente pediátrico, não pode realizar a retirada do órgão de doador adulto.

O jovem decidiu fazer a doação mesmo sabendo que a avó materna também era compatível. “É o papel do pai, a gente sempre quer ver o filho melhor e aí faz de tudo, o mais importante é ele”, disse.

De volta ao lar

Após algumas semanas, o pequeno mostra boa recuperação e, para alegria de todos, na última quarta-feira (19), Mathias recebeu alta depois de esperar 15 meses pelo transplante.


Hospital retoma serviço e prioriza menores de dez anos

 

O procedimento, que deu novas perspectivas à família do pequeno Mathias, marca também a retomada do Serviço de Transplante Hepático pelo Pequeno Príncipe. O hospital vai atender crianças e adolescentes, mas a prioridade será o atendimento a crianças menores de dez anos.

No Paraná, nenhuma outra instituição está transplantando crianças nessa faixa etária e ainda este ano a previsão é de que o Pequeno Príncipe realize mais dez cirurgias. “Já temos sete pacientes com indicação para o transplante hepático”, informou a responsável técnica pelo Serviço, a cirurgiã pediátrica Giovana Camargo de Almeida.

Para esse momento histórico, o hospital recebeu o cirurgião Rodrigo Vianna, diretor do Miami Transplant Institute (MTI) – o maior hospital de transplantes dos Estados Unidos.

Além de dirigir a instituição, o médico é reconhecido internacionalmente pela técnica que reduziu substancialmente o tempo de duração das cirurgias de transplante de fígado e, em 2019, bateu o recorde mundial de transplantes realizados em um ano: 747. “Para mim, participar dessa retomada dos transplantes de fígado nessa instituição foi muito importante. Porque sou curitibano, o Pequeno Príncipe é um lugar que mora no meu coração”, disse Vianna.

Assim como nos Estados Unidos, a equipe criada para fazer os transplantes no Pequeno Príncipe é multiprofissional. Ao todo, são 22 profissionais entre cirurgiões, hepatologistas, anestesistas, intensivistas, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. O hospital também mantém condições técnicas e equipamentos semelhantes ao MIT. “Mas sabemos que os pacientes brasileiros têm uma condição social nem sempre tão favorável, quando comparado aos norte-americanos. Por isso, precisamos fazer um trabalho bastante cuidadoso e amplo, para assegurar que, no pós-operatório, esse paciente tenha condições de se recuperar em um ambiente adequado”, ressaltou a responsável técnica pelo Serviço.

A alegria da família de Mathias é imensa, porque o bebê poderá viver com uma qualidade de vida muito melhor. “Foi um ano de caminhada até o transplante. Mas a cirurgia foi bem-sucedida e fico muito feliz em saber que mais crianças terão a mesma oportunidade que o Mathias”, disse a avó materna, Josefina Diaz Fernandez Baião.