Cotidiano

Terra sem lei: Incêndios consomem a mata nativa

Queimadas para extração ilegal da madeira são ignoradas pelas autoridades

Terra sem lei: Incêndios consomem a mata nativa

Reportagem: Josimar Bagatoli

Quedas do Iguaçu – A fumaça que se ergue em meio a araucárias e outras vegetações nativas causada por incêndios criminosos é visível de longe entre os municípios de Quedas do Iguaçu e Rio Bonito do Iguaçu, sudoeste do Paraná. A situação gera preocupações ambientais e tem como origem áreas invadidas por sem-terra, principalmente no Assentamento Celso Furtado, no Acampamento Dom Tomás Balduíno e em propriedades vizinhas.

A situação é um dos temas de audiência pública que será realizada hoje (3) em Cascavel, na Associação Comercial e Industrial, às 9h.

O cenário de destruição já rotineiro é verificado dia a dia por quem vive nas redondezas e não tem o que fazer diante da ação criminosa. Os incêndios são provocados para a mecanização da terra e para a extração ilegal da madeira, inclusive araucárias. São dezenas de casos perceptíveis facilmente ao percorrer a região. “Dia e noite convivemos com essas queimadas. Todos os dias verificamos os incêndios provocados em meio à mata. É uma área ambiental importante para a nossa cidade. Nossa preocupação é com o meio ambiente e com essa ação criminosa que vem acontecendo”, diz um trabalhador rural que terá a identidade preservada pela reportagem de O Paraná.

Ele trabalha nas áreas atingidas pelos incêndios e aponta com certeza quem estaria por trás da destruição: “São os sem-terra. Eles colocam fogo sem preocupação alguma. Ninguém faz nada. Aqui virou terra de ninguém. É um lugar sem lei. A polícia não faz nada e o MST é quem manda, nós viramos reféns, por isso o medo de falar sobre o problema”, relata o trabalhador.

A reportagem do Jornal O Paraná esteve em contato com moradores e todos repetem a denúncia: os autores das queimadas são sem-terra, a maioria membro do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra). Eles inclusive loteiam áreas que não estão disponíveis para a reforma agrária. Terrenos são vendidos de R$ 10 mil a R$ 20 mil. E, ao adquirir as propriedades, os compradores recebem apenas autorização dos membros do MST.

As queimadas têm como propósito aumentar a área habitável. Como a polícia é impedida de entrar na área, o movimento atua na comercialização sem impedimentos.

 

Longa história

A invasão teve início em 2003, quando um silo da Araupel foi invadido pelo MST. Foram sucessivas ações até que a fazenda de reflorestamento da empresa foi tomada, em julho de 2014 – estradas foram bloqueadas impedindo o acesso à propriedade de 33 mil hectares. Mais de 3,4 mil famílias estão acampadas desde então na área. Reintegrações de posse foram determinadas pela Justiça, mas nenhum despejo foi feito. Situação que segue governo após governo. “Precisamos que a lei seja respeitada. Onde estão nossas autoridades? Queimam tudo, vendem a madeira e deixam um rastro de destruição e ninguém fiscaliza? Ninguém multa?”, questiona outro agricultor.

Dentre as áreas queimadas é possível constatar inclusive a extração de madeira – até pinheiros nativos foram derrubados.

Perigo aos animais

Outra área atingida fica em Três Barras do Paraná, no Parque Estadual do Rio Guarani, onde animais silvestres morreram devido às queimadas. “São muitos animais… macacos sobem nas copas das árvores e, sem saída, se jogam no fogo”, relata um morador entrevistado pelo Jornal O Paraná.

A área protegida ambientalmente fica às margens de afluentes que abastecem o Rio Iguaçu – acaba sendo um corredor de biodiversidade até o Parque Nacional do Iguaçu.

O Parque Estadual do Rio Guarani foi instituído em 2000 e é considerado refúgio para onças, quatis, macacos, tatus, jaguatiricas, répteis e aves. “Esses animais estão sofrendo com a situação. E vemos isso e não podemos fazer nada. Nossa região pede socorro!”, diz o agricultor.

Os municípios vizinhos já relataram a situação alarmante que se encontra a região. Além dos prejuízos ambientais, os moradores das áreas urbanas sofrem com o ar carregado pela fumaça.

Diante da situação, a reportagem recorreu ao IAP (Instituto Ambiental do Paraná) para verificar as fiscalizações e os registros de incêndios na região e até o momento ninguém se posicionou sobre o caso.

A reportagem também procurou o MPF (Ministério Público Federal) para verificar se há procedimentos instaurados diante dos danos ambientais, mas o órgão respondeu que até agora não recebeu denúncia.

As autoridades locais que atuam com o meio ambiente não sabem mais a quem recorrer. “Já foram contatados os órgãos ambientais e o governador [Ratinho Júnior] pela administração municipal. Há muitas queimadas, mas não é possível apontar os responsáveis. A preocupação é com a fauna e a flora. O Rio Campo Novo fica em uma área preservada de mata e o fogo está afugentando os animais”, afirma a engenheira ambiental Débora Aparecida de Oliveira.