Economia

Sem opção: MEIs crescem 116 vezes em uma década

A maioria recorre à formalização como alternativa ao desemprego

Foz do Iguaçu – Há dez anos, quando a Lei Complementar 128/2008, que mudou a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, começou a vigorar, ficando conhecida como a Lei do MEI (Microempreendedor Individual), os trabalhadores olhavam com cautela para a nova formatação que tinha a promessa de tirar milhares de pessoas da informalidade, tornar mais acessível e menos burocrática a abertura de uma empresa e, por fim, reduzir expressivamente os custos de uma empresa legalmente constituída.

Em dezembro de 2009, o oeste contava com 571 microempreendedores individuais, uma média de um para quase 2 mil habitantes.

O tempo passou, a lei se consolidou e, como o emprego não reagiu, ser MEI virou opção por alguns motivos. O principal, sobretudo a partir de 2015 por conta da crise econômica, reforçou um modelo muito típico do empreendedorismo: aquele feito por necessidade.

Lá se vão quatro anos desde que o período econômico difícil chegou, e pouca coisa mudou na questão do emprego. Em algumas salas do empreendedor da região, a avaliação é que, para cada microempreendedor que nasce por oportunidade, existem outros três que chegam pela necessidade.

A empreendedora Sueli Tavares perdeu o emprego em 2015. Ela trabalhava na linha de produção de um frigorífico em Toledo. A demissão soou quase como um desespero. “Fiquei desesperada com dois filhos para criar e separada… era a única fonte de renda da casa. Aí pensei em vender bolachas, pão, cuca… Comecei de porta em porta e não é que o negócio deu certo?”, conta, entusiasmada.

No ano seguinte ela se tornou uma MEI. Começou empreendendo com aquilo que o mercado chama de necessidade, quando a pessoa fica desempregada ou precisa complementar a renda utilizando a habilidade e transformando-a em negócio. Aos poucos ela viu sua necessidade virar oportunidade. Os produtos são feitos diariamente e entregues na casa do cliente. São 100 pães por semana e pelo menos 300 pacotes de bolachas. Desistir ou voltar para uma indústria? Isso não está mais nos planos de Sueli.

Sendo por necessidade ou por oportunidade, na metade do ano passado a região já contava com quase 52 mil MEIs, o que equivale a uma formalização para cada 25 habitantes.

Agora, ao completar dez anos da legislação, a região soma mais de 60,6 mil MEIs nos 50 municípios, média de um para cada 22 habitantes, ou seja, número 116 vezes maior que o registrado fim do primeiro ano da legislação.

O município no oeste que mais tem MEIs é Foz do Iguaçu, onde, até o fim do mês passado já havia 13.430, seguido por Cascavel, com 12.935, e, Toledo, com 6.881.

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A legislação que desburocratiza

Para a consultora do Sebrae em Cascavel Kellen Oliveira, a legislação veio como uma das principais agregadoras no processo de formalização por todo o País. “Ela se tornou a principal porta de entrada para a maioria das pessoas que quer empreender. É o segmento em que se pode testar um produto ou um serviço, testar suas habilidades e ver como é a recepção dos clientes sem tanta burocracia nem entraves jurídicos”, explica.

Ao avaliar o contexto regional, a consultora considera que não são raros os casos em que o empreendedor enxerga uma necessidade, um mercado não atendido, e investe, profissionaliza-se nele. “Mas em momentos de crise, como ainda estamos vivendo, a maioria chega mesmo por necessidade em vez da oportunidade e com características bem específicas. Alguns só querem superar a crise e se recolocar no mercado com carteira assinada, outros se encontram na vida empresarial e permanecem nela”.

Hoje os MEIs podem se encaixar em mais de 600 áreas/profissões. No oeste, a maioria está em dois segmentos: nos serviços, como as manicures, os eletricistas, os pintores e os pedreiros, e no comércio, como o exemplo da Sueli Tavares, com a venda de porta em porta.

E depois da crise?

Uma pergunta que talvez você se faça é o que vai acontecer quando a crise virar passado. O número de MEIs deverá cair? A resposta é não. A consultora do Sebrae Kellen Oliveira destaca que a lei foi tão bem aceita, desburocratiza, dá tanta agilidade à vida de quem quer ser dono do próprio negócio que a tendência é se consolidar. “Além disso, o trabalho que desenvolvemos com as consultorias é para que esse empreendedor não seja sempre um MEI, que seu negócio possa evoluir e logo ele possa migrar para uma pequena empresa ou microempresa”, completou.

Enquanto isso, Sueli Tavares segue trabalhando pesado porque o sonho é dos grandes. No ano que vem ela quer abrir uma panificadora e em dez anos espera já ter sua própria rede. “Às vezes quando algo que parece ser ruim acontece com a gente, pode ser só um empurrãozinho, um sinal que aquilo vai te levar para onde você não imagina, mas que é muito melhor”, revela.

Número de aprendizes cresce 13,6% no semestre

São Paulo – O número de aprendizes encaminhados pelo CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) às empresas cresceu 13,6% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. O total de aprendizes somou 247.679 de janeiro a junho, de acordo com o Boletim Estatístico do CIEE divulgado nessa segunda-feira (22), em São Paulo. Em relação aos estagiários, o total foi 868.468 pessoas encaminhadas, com crescimento de 3,8%.

Nos primeiros seis meses deste ano, de acordo com a pesquisa, 68,8% dos aprendizes eram jovens já formados no ensino médio, enquanto 26% ainda estavam cursando o ensino médio. O estudo revelou também que 4,6% dos aprendizes estavam no ensino fundamental. Quanto aos estagiários, 77,4% são do ensino superior, 18,9% do ensino Médio e 3,3% do ensino técnico.

A pesquisa apontou que houve alta de 6,6% no número de vagas abertas, passando de 203.062 vagas no primeiro semestre de 2018 para 216.462 no mesmo período deste ano. Já as contratações aumentaram 3%, subindo de 176.028 contratos fechados nos primeiros seis meses de 2018 para 181.248 até junho deste ano.

O estudo mostrou que estudantes do sexo feminino são maioria no mercado, respondendo por 65% das vagas ocupadas de estágio e 52,7% das vagas de aprendiz.

Os cursos com maior número de estagiários no país são direito, pedagogia, administração, ciências contábeis, engenharia civil, tecnologia em análise e desenvolvimento de sistemas, psicologia, educação física, ciência da computação e arquitetura e urbanismo, nessa ordem.

Reportagem: Juliet Manfrin