Saúde

Por medo do covid-19, pacientes com doenças da retina estão interrompendo tratamento – o que pode levar à cegueira

Devido ao isolamento social decorrente da pandemia de corona vírus, a frequência de pacientes em centros de referência em oftalmologia do Paraná diminuiu significativamente

Por medo do covid-19, pacientes com doenças da retina estão interrompendo tratamento – o que pode levar à cegueira

A pandemia de coronavírus fez com que a rotina de inúmeros brasileiros mudasse significativamente, já que para controlar a transmissão do vírus é necessário o isolamento social. Isso impacta não só o dia a dia de trabalho, mas também diversas outras atividades, como a própria frequência em consultas médicas. Porém, alguns motivos para sair de casa, sempre respeitando as medidas de segurança, ainda devem ser considerados essenciais. Um exemplo é a continuação do tratamento para doenças da retina, como a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) úmida e o Edema Macular Diabético (EMD).

O problema é que centros de referência do Paraná vêm percebendo uma queda significativa da frequência de pacientes para seguir o tratamento destas doenças, o que pode implicar numa piora dos casos e até mesmo levar à cegueira. De cerca de 500 pacientes com doenças da retina que estavam em tratamento no Hospital da Visão, em Curitiba, apenas 250, em média, seguem com a regularidade necessária – ou seja, houve uma redução importante, de 50%.

“Dois importantes exemplos de doenças da retina são a DMRI úmida e o EMD. A primeira, relacionada ao envelhecimento, já é a causa número 3 de cegueira no Brasil1, enquanto o EMD, que acomete pessoas com diabetes, atinge cerca de 21 milhões de pessoas no mundo2. Ou seja: o assunto é sério e precisa ser priorizado. Caso contrário, as consequências podem se tornar irreversíveis”, explica Dr. João Guilherme Moraes, médico oftalmologista especialista em retina e vítreo e chefe do setor de retina do Hospital da Visão em Curitiba.

Existem opções de tratamento como laser e medicamentos injetados nos olhos que podem impedir a progressão dessas doenças e, consequentemente, evitar a cegueira. “A aplicação, via injeção, é muito precisa, segura e indolor. “Inicialmente, o tratamento é realizado com doses mensais, e depois o intervalo pode ser aumentado de acordo com a orientação médica”, completa.

Um estudo publicado recentemente pela Academia Americana de Oftalmologia3 apresentou dados que mostram os possíveis impactos dessa suspensão em pacientes com DMRI úmida. “De 434 pacientes que suspenderam o tratamento com a terapia antiangiogênica, a reativação da lesão no primeiro ano após a suspensão do tratamento foi de 41%, com aumento estimado de 79% ao final do quinto ano”, explica Dr. João Guilherme. Os dados mostram que mesmo em pacientes que respondem bem ao tratamento, permanecendo estáveis por três meses ou mais, a suspensão da terapia pode resultar na perda de resultados visuais obtidos desde o início.

O médico também destaca o benefício do tratamento gratuito para os pacientes. “A disponibilidade do tratamento pelo SUS não deve ser desperdiçada, especialmente num país em que nem sempre é fácil ter acesso ao tratamento destas doenças. Portanto, minha dica aos pacientes é: falem com seus médicos ou liguem para os centros de referências para obter as orientações necessárias para que a continuidade do tratamento seja garantida. Essa é a chance de manter a saúde dos olhos em dia e sem riscos de novos problemas”, completa.

1 As Condições de Saúde Ocular no Brasil – 2019, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia

2 American Journal of Managed Care

3 Outcomes of Suspending VEGF Inhibitors for Neovascular Age-Related Macular Degeneration When Lesions Have Been Inactive for 3 Months – American Academy of Ophthalmology – Retina 2019;3:623-628 ª 2019 by the American Academy of Ophthalmology