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O que significam os pesadelos?

Apesar das discussões, o mais comum é entendê-los como emoções e reações inconscientes que se manifestam durante o sono profundo

O que significam os pesadelos?

Ainda que o cenário dos sonhos agradáveis seja utópico, o dos pesadelos é aterrador, porque parecem descrever um perigo real (ameaça de morte do sonhador, de uma pessoa próxima, da integridade do corpo, de abandono, etc.). Muitas vezes, a sorte está em acordar antes do sonho se acabar, mas outros são tão longos e intensos que se tornam inesquecíveis, fazendo com que o fato se torne tão temido quanto o pesadelo.

Segundo os neurologistas, os sonhos acontecem sempre no período mais longo do sono, o chamado REM. Esta fase, que os investigadores atuais conseguem provocar com a ajuda de anestesias, acontece espontaneamente no ciclo regular com a emissão de acetilcolina no cérebro. Para consegui-la, no entanto, a pessoa que dorme precisa sentir-se segura: não pode ter fome, sede, frio ou calor.

No REM, porém, aspectos externos podem colaborar para os pesadelos: quando um acontecimento fortuito perturba o sono, cujo corpo está relaxado em relação ao mundo exterior, ou ainda uma febre ou uma mudança na temperatura, eles impedem a tranquilidade da pessoa, transformando as imagens aprazíveis do sonho em um pesadelo. Isso acontece porque, durante um desses sonhos ruins, a pessoa não está em um sono profundo, mas em estado de vigília.

Antes de ser estudados pela psicanálise, os pesadelos eram considerados previsões de catástrofes em diversas culturas do mundo. O que se aprende nas faculdades de psicologia de todo o mundo hoje foi impactado pela teoria do austríaco Sigmund Freud, autor do livro Interpretação dos Sonhos, publicado em 1900. Na obra, o médico neurologista diz que os sonhos são, na verdade, expressão de uma área até então desconhecida da mente humana: o inconsciente.

Segundo a teoria freudiana, os pesadelos são a forma escolhida pelos nossos sonhos mais obscuros para expressar uma angústia reprimida ou um desejo tão inaceitável que se camufla como castigo: o conteúdo imoral do pensamento se é censurado e se substitui pela horrível imagem de um sonho ruim. Dessa forma, entre os dois e cinco anos de idade, quando se sofre com o Complexo de Édipo, uma criança enfrenta muitos pesadelos: o desejo simbólico da morte de um dos pais (o do seu mesmo sexo) se realiza no sonho por meio de imagens que aterrorizam.

Gary Fireman, pesquisador do Departamento de Psicologia da Universidade de Suffolk, em Massachusetts (EUA), afirma que existem pesadelos e sonhos perturbadores: enquanto os primeiros são sonhos assustadores que sempre acordam quem está dormindo, os segundos não chegam a despertar. Assim, é possível dizer que os pesadelos têm um impacto psicológico muito maior, cujo medo nem sempre é a emoção principal: em vez disso, um sonhador pode sentir tristeza, culpa, nojo e confusão.

Para o professor estadunidense, os pesadelos são uma forma de processar emoções e experiências que não foram compreendidas enquanto desperto. Então, durante o sono, o cérebro tenta proteger a pessoa de sentimentos percebidos conscientemente como nocivos, deixando-os “presos” no inconsciente. Ali também estão os desejos reprimidos e as sensações como raiva.

“Enquanto dormimos, a ‘porta’ que divide a parte consciente do nosso cérebro da parte inconsciente se abre, possibilitando um contato entre essas duas partes. É a partir do encontro entre o racional e o reprimido que os sonhos e pesadelos são formados, fazendo com que a gente consiga fazer conexões diferentes e mais criativas do que aquelas que fazemos enquanto acordados. Só que o inconsciente não funciona como o consciente: ele se comunica por meio de símbolos. É por isso que os sonhos raramente são literais, e interpretá-los pode ser uma parte importante de um processo de terapia, por exemplo”, explicou.

A temática dos sonhos e dos pesadelos, porém, pode ser provocada por um acontecimento aparentemente pequeno que se produz no dia em que o sonho foi experimentado. Esse acontecimento, que tem uma função de catalisador, desperta no inconsciente uma memória reprimida ou uma angústia esquecida, mas raras vezes é a verdadeira causa do pesadelo.

Os sonhos ruins que se repetem muitas vezes ao longo de uma vida podem ser recordações traumatizantes que remontam à infância e que estão completamente sepultados como fatos. Um dos clássicos é o medo de água, possivelmente por alguma experiência em um banho quando bebê. Também é possível tratar de uma lembrança de uma situação violenta (guerras, violação, atentado, incêndio, deportação, etc.), que ressurge, durante o sonho, e se transforma em imagens distintas: para suportar a vida presente, a pessoa tenta esquecer o trauma. Durante os períodos de vigília, a consciência expulsa esse trauma da memória e o enterra no inconsciente.