Saúde

Paraná pode mudar critério de risco para adotar "quarentena"

Com o avanço da pandemia, alguns grandes centros passaram a falar em lockdown, que, na prática, seria fechar praticamente tudo

Paraná pode mudar critério de risco para adotar "quarentena"

Cascavel – Quarentena, isolamento social e vertical, flexibilização, lockdown são alguns termos bastante usados desde que o novo coronavírus se instalou no Brasil. Para conter o avanço da ameaça, em março muitos municípios paranaenses decretaram o fechamento de todas as atividades não essenciais, ação que foi popularmente chamada de quarentena. Com o avanço da pandemia, alguns grandes centros passaram a falar em lockdown, que, na prática, seria fechar praticamente tudo.

Embora em situação mais “confortável” que outros estados brasileiros, o Paraná entra agora na fase mais crítica, com o início do inverno (dia 20) e o aumento da umidade, combinação que pode ser bastante perigosa para a proliferação do coronavírus. Tanto que o número de casos começou a subir rapidamente e muitos municípios, especialmente no oeste, discutem novas medidas de contenção. Situação que vem sendo acompanhada de perto pelo secretário de Saúde do Estado, Beto Preto.

O secretário, inclusive, prepara uma resposta ao Ministério Público, que pediu ao Estado uma revisão de critérios técnicos sobre a flexibilização das medidas de contenção, e ele antecipa que serão revistas algumas dessas medidas já a partir desta próxima semana. “Talvez tenhamos que fazer algumas restrições, sim”, frisa, mas reforça que “não dá para falar em lockdown”.

Beto Preto não quis antecipar a resposta ao MP, mas adianta que uma possível mudança sejam os critérios adotados para medir os riscos da pandemia. Hoje, a maioria das cidades monitora a ocupação de leitos e estabeleceu percentuais para aumentar ou flexibilizar a “quarentena”. Contudo, para o secretário, “é mais cabível monitorar pelo número de casos”.

“O serviço de saúde envolve pessoas. Temos na UBS, médicos, enfermeiros… no hospital, eles têm treinamento diferente, trabalham no limite da vida e da morte. Necessitamos desses profissionais de pé, preparados para trabalhar e não doentes”, analisa, e cita o caso do Hospital Universitário de Londrina, onde 80 funcionários estão afastados por causa da doença.

O secretário destaca ainda que há cenários diferentes em todo o Estado, com “clusters” que chamam a atenção. Ele cita como exemplo o caso de Coronel Domingos Soares, onde, em um canteiro de obras de uma hidrelétrica, 80% dos funcionários adoeceram, e um frigorífico em Paranavaí, que em poucas semanas registrou duas mortes e já tem 250 infectados com covid-19 em diversos municípios vizinhos.

E, assim como na Macro-Oeste, que inclui Cascavel, Toledo e Foz, onde houve uma aceleração de casos, ele destaca os aumentos em Curitiba nos últimos dias para explicar que as decisões devem ser regionalizadas.

“Sempre achei que teríamos um cenário até mais difícil; porém, tivemos a estiagem, fizemos a parada das aulas antes que outras iniciativas, testamos mais do que a média… Agora, essa pressão pela atividade econômica, os empregos, está ‘jogando’ um pouco o isolamento domiciliar, e, ao fazer isso, vamos ter aumento de casos”.

 

E o pico?

Para Beto Preto, o Paraná ainda não chegou ao ápice da pandemia. Ele evita falar em “pico”, mas destaca que a estiagem “ajudou” o Estado até agora, e que, com a chegada da chuva e maior umidade do ar, aumenta a transmissão do novo coronavírus. Além disso, há o início do inverno e a queda nas temperaturas. Assim, ele prevê que a situação vai se agravar nas próximas semanas.

“Não temos hospital de campanha. Trabalhamos com nossa rede porque acreditamos que daríamos um atendimento melhor”. E acrescenta: “Mas vejo que o frio e a umidade, e o não respeito efetivo ao isolamento podem gerar ampliação de casos. Não é o ápice [ainda]. Vínhamos com uma curva [de casos] mais suave, mas teve a movimentação do Dia das Mães, o pagamento do auxílio emergencial formou filas nos bancos… Agora, vai depender do comportamento do inverno”.

O secretário evita criticar a decisão dos prefeitos de afrouxar o isolamento, e lembra que a interrupção das aulas força um isolamento de 20 a 25% [da população]. Por isso, afirma ser contra a abertura das escolas neste momento: “A minha opinião é de que não abram [as escolas]. Não é o momento ideal. Se abrirem as escolas, teremos crianças portadoras assintomáticas (sem sintomas) e professores e servidores doentes; e vão levar o vírus para casa”. Segundo ele, a orientação do governador Ratinho Junior é que as aulas presenciais sejam retomadas apenas em agosto no Paraná.

Conforme Beto Preto, havia uma estimativa de 10 mil a 30 mil casos de covid-19 no Estado, que, nessa sexta (12), chegou a 8,7 mil confirmações.