Saúde

Low carb não prejudica quem tem hipotireoidismo

A low carb vem se mostrando uma estratégia alimentar das mais eficazes

Low carb não prejudica quem tem hipotireoidismo

De acordo com evidências científicas, a low carb vem se mostrando uma estratégia alimentar das mais eficazes não só para quem deseja o emagrecimento e o controle de peso, mas combater doenças como diabetes, obesidade e síndrome metabólica. Contudo, há uma questão relacionada à falta de eficácia ou prejuízo gerado pela adoção dessa dieta por pessoas que sofrem de hipotireoidismo e tireoide de Hashimoto.

Segundo o diretor-presidente da Associação Brasileira de LowCarb (ABLC), médico José Carlos Souto, se o hipotireoidismo estiver sendo tratado com medicamentos, não será essa doença responsável pelo paciente não conseguir perder peso, logo, a estratégia alimentar low carb funcionará adequadamente para ela como funciona para qualquer pessoa que esteja livre dessa condição.

A desconfiança que existe com relação ao uso da estratégia low carb em pessoas que sofrem de hipotireoidismo se refere ao fato da verificação de que uma dieta desse tipo interfere nos hormônios tireoidianos – a triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) -, cujo papel é de alta relevância não apenas na regulação do metabolismo como na função de diversos órgãos do corpo humano.

O que é

Resumidamente, o hipotireoidismo acontece quando há queda na produção de T3 e T4, ocasionado a diminuição do metabolismo, e consequentemente o ganho de peso. Outros sintomas como cansaço, intolerância ao frio, alterações intestinais, pele seca, sintomas depressivos, diminuição da frequência cardíaca, queda de cabelo, podem ocorrer. Em crianças, pode ocasionar prejuízo ao crescimento e ao desenvolvimento mental.

O que muda

Depois de começar uma dieta low carb, algumas pessoas realmente costumam verificar uma alteração na concentração dos hormônios de tireoide. De acordo com o médico endocrinologista, diretor científico de Medicina da ABLC, Rodrigo Bomeny, isso se relaciona a diversos fatores, entre os quais o de que pessoas que fazem dieta com baixa ingestão de carboidratos, mas rica em gordura e proteínas, tendem a se saciar com mais facilidade, comer menos e emagrecer. “Diante desse cenário, o corpo responde diminuindo os hormônios T3 e T4, a fim de baixar o metabolismo e evitar mais perda de peso”, explica Bomeny, destacando que essa resposta hormonal não é exclusividade da low carb, podendo acontecer com qualquer dieta que cause perda de peso.

O diretor científico de Medicina da ABLC explica que, mesmo quando não há restrição de calorias, ou seja, mesmo quando a adesão à estratégia low carb não leva à menos ingestão de alimentos, esse tipo de dieta mostra-se associada a níveis mais baixos do hormônio T3 no sangue. “Olhando superficialmente e levando em conta apenas números, essa redução do T3 tem sido considerada uma evidência de que a restrição de carboidratos prejudica a função da tireoide”, afirma.

Conforme o médico endocrinologista, a explicação para a diminuição desse hormônio pode residir no fato que ele também é utilizado para metabolizar a glicose no sangue. Assim sendo, em uma dieta baseada na restrição do consumo de carboidratos e consequentemente de glicose, é natural que o hormônio T3 diminua.

No entanto, segundo Bomeny, os níveis de T3 no sangue não são a única forma de avaliar a ação dos hormônios da tireoide no organismo. Isso pode ser feito por meio da taxa metabólica basal.

De acordo com o diretor científico de Medicina da ABLC, estudos mostram que pessoas adeptas da estratégia low carb, mesmo apresentando menores níveis de T3, mantêm constante a taxa metabólica basal. Uma hipótese para isso é de que o corpo se torna mais responsivo devido a mudanças benéficas na estrutura e função celular. “Em outras palavras, uma dieta low carb poderia resultar em uma melhora de sensibilidade dos hormônios tireoidianos. Mas isso é apenas uma hipótese”, afirma.

Diagnóstico

O critério atualmente empregado pelos especialistas para diagnosticar se as pessoas sofrem de problemas na tireoide é o Hormônio Estimulante da Tireoide, em inglês, TSH (Thyrois Stimulating Hormone). É ele que controla o T3 e o T4 no sangue: aumenta quando esses hormônios diminuem e abaixa quando eles estão em excesso. Em outras palavras, se é verificado um acréscimo de TSH no organismo, estabelece-se o diagnóstico de hipotireoidismo e o tratamento com medicamentos é iniciado.

O diretor científico de Medicina da ABLC, Rodrigo Bomeny, enfatiza que, mesmo tendo em vista esse critério, diversos estudos randomizados já foram feitos com pacientes em low carb sem que se determinasse neles aumento da incidência de hipotireoidismo.

Por fim, Bomeny explica que, não obstante uma estratégia alimentar com baixa ingestão de carboidratos influenciar na baixa dos hormônios T3 e T4 e consequentemente no indicador do hipotireoidismo, não se  verifica, após sua adesão, os sintomas ocasionados pela doença. “As pessoas que seguem a dieta low carb, na sua maioria, sentem-se dispostas e emagrecem, ou seja, apresentam os sintomas opostos da falta de hormônio da tireoide”, ressalta.

Excesso de açúcar afeta ação dos hormônios da tireoide

Entre os hormônios tireoidianos, o T3 é o chamado hormônio ativo, sendo o responsável por desempenhar o papel principal no ritmo do funcionamento dos órgãos humanos. Apesar de aparecer em maior quantidade no sangue, o T4 é menos potente e acaba se convertendo em T3 durante seu trajeto pelo corpo.

Mas para que a ação efetiva do hormônio T3 ocorra é necessário que este atravesse a membrana celular pelos canais transportadores. “De nada adianta produzir hormônio tireoidiano, se este ficar no sangue, do lado de fora da célula”, esclarece o diretor científico de Medicina da ABLC.

Por sua vez, a entrada do hormônio na célula depende da energia (ATP) produzida pelo corpo, sendo que qualquer distúrbio limitante da produção de ATP prejudica esse mecanismo. Segundo Rodrigo Bomeny, uma das substâncias que afetam a produção de energia e limitam essa entrada é a frutose.

Para corroborar sua afirmação, o médico cita um estudo publicado pela American Physiological Society, em 1994, no qual se demonstrou que, em humanos, a frutose induz ao aumento do ácido láctico e do ácido único sérico, acarretando a diminuição da produção de energia intracelular e dificultando consequentemente a entrada dos hormônios da tireoide na célula. “E não se engane, a principal fonte de frutose na dieta das pessoas não são as frutas e sim o açúcar”, alerta.