Educação

Já falou algum palavrão hoje? Professor fala sobre “tendência”

O palavrão tem deixado de ser propriamente "palavrão".

Já falou algum palavrão hoje? Professor fala sobre “tendência”

Já parou para pensar por que em nossa sociedade é comum o uso de palavras de baixo calão – os chamados palavrões? Segundo o professor Carlos André, autor dos livros “A nova ortografia da língua portuguesa” e “Na ponta da língua”, pesquisador pela UFMG e reconhecido linguista brasileiro, esse questionamento tem uma natureza de ciências humanas, e, portanto, há estudos e teorias para tentar explicá-lo. “Historicamente, havia todo um rito para a fala, pensado a partir da teoria iluminista. O chamado ‘lugar de fala’ pertencia aos intelectuais, mas hoje o que se nota é uma mudança sobre este aspecto.”

“Com as redes sociais, as pessoas tidas como comuns também passaram a ter um lugar de fala, de si. Antigamente, só intelectuais podiam falar. Agora, todo o mundo pode. E já que a voz está aí, uso dos palavrões torna-se um ponto de disrupção com o modelo anterior, uma vez que doravante, então, diz-se o que quiser. O palavrão seria, portanto, uma espécie de questionamento à sociedade e aos seus aspectos formais, oriundos da cultura Iluminista e pós Revolução Francesa”, expõe Carlos André.

Outro aspecto importante a ser observado e discutido sobre essa temática é que, em algumas sociedades, o palavrão tem deixado de ser propriamente “palavrão”. “Em muitos dialetos, diz-se palavrão como se diz bom-dia. O que ocorre é que, nesses casos, a carga semântica da palavra “perdida”. Há uma ruptura em seu núcleo”, avalia Carlos André. “É nesse contexto que vem a expressão ‘ligue o foda-se’, mas não como um xingamento, e sim como uma ruptura de padrões e empoderamento dos lugares de fala, aliados à cópia da cultura bad boy estadunidense, de dizer aquilo que penda à gíria e que tem sido cada vez mais comum na apropriação dos dialetos cotidianos, fato que tem se tornado cultural, inclusive”.