Cascavel – Os conhecidos problemas na região oeste do Paraná com a infraestrutura de logística – falta de aeroporto adequado, ferrovias deficitárias e pistas simples nas principais rodovias federais – desestimulam os empreendedores, que precisam optar pela facilidade de logística em Curitiba e garantir competitividade.
É isso o que mostra a apuração anual da Jucepar (Junta Comercial do Paraná): o interior perdeu espaço na abertura de novas empresas. Em 2017, 69% das empresas paranaenses eram abertas no interior; já em 2018, esse percentual caiu para 42%.
Curitiba acabou abocanhando a maior parte dos novos empreendimentos, respondendo por 45,2% das aberturas. Para ter uma dimensão dessa mudança, em 2017 a Capital possuía uma proporção de apenas 18%.
Apesar do crescimento significativo das promissoras cidades polo, os municípios do interior sentiram a crise econômica de uma forma mais direta e, com isso, deixaram o empreendedorismo de lado ou optaram para a informalidade para fugir da carga tributária. “Existe um processo de polarização, tanto da capital quanto de microrregiões do interior. Ocorre que, apesar do crescimento das grandes cidades regionais, as pequenas estão perdendo espaço no Paraná, que são basicamente de setores primários, gerando pouca renda e emprego – em proporção a Curitiba. Qualquer crise acaba afetando as empresas”, explica o economista Vander Piaia.
Jucepar
O órgão responsável pelos dados informa que essa concentração de novas empresas em Curitiba está relacionada ao avanço de um sistema interligado com setores responsáveis pelas liberações de novos empreendimentos.
Além disso, a localização territorial estratégica de Curitiba é atrativa para novos empreendedores: “A região tem maior concentração populacional. Muitas empresas abrem suas sedes em Curitiba e expandem por meio de filiais no interior. Na Capital existem eixos rodoviários e também o Porto de Paranaguá, ou seja, a logística é estimulante”, explica o advogado Ardisson Naim Akel, que deixou essa semana a presidência da Jucepar.
Ecossistemas
Para o consultor do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) em Foz do Iguaçu Luiz Marcelo Padilha, existe uma diferença muito grande no ambiente de atuação do interior na comparação com a capital. “São ecossistemas empreendedores diferentes, logo, os fatores que influenciam o desempenho das empresas são diferentes. Não somente a infraestrutura impacta no desenvolvimento empresarial, mas podemos citar o comportamento do empreendedor, as alianças empresariais, as redes de apoio empresarial e associativas, apoio governamental e suporte institucional”, lista Padilha.
Mais de 117 mil empresas fecharam as portas
Analisando os últimos cinco anos, é possível visualizar claramente a crise que trouxe reflexos no setor produtivo. Entre 2014 e 2015, o aumento das falências chegou a 40% – 27.717 em 2014 contra 38.459 em 2015. O percentual fica ainda mais desastroso na comparação com 2018, quando 43.606 empresas fecharam as portas, 57% a mais que o observado em 2014. Como resultado, nos anos intensos da crise, entre 2015 e 2018, um total de 117.173 empresas deu baixa na Jucepar.
Passado o período mais crítico, em 2018 já foi possível ver alguma estabilidade. O número de abertura de empresas foi praticamente igual ao de 2014: 45.810 ano passado contra 45.721 em 2014.
Os números de 2018 revelam a recuperação ante 2017, quando foram abertos 43.204 novos negócios. “Houve redução considerável na extinção de empresas, o que significa que a crise está passando também para quem está no interior”, avalia o economista Vander Piaia.
Curitiba avança na simplificação de abertura de empresas
Em tempos de desburocratizar, quem melhora seus sistemas leva vantagem. É o caso de Curitiba, que avançou em relação às demais regiões do Estado na adequação do sistema de abertura e fechamento de empresas com a Junta Comercial e implantou a Redesim (Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios). O dispositivo conta com dados da Receita Federal desburocratizando a vida empresarial.
Conforme a Jucepar, 90% das cidades paranaenses já incorporaram o sistema.
Curitiba foi a cidade priorizada ano passado, o que elevou o total de registros de novas empresas. “Existe uma agilidade maior: se antes era necessário um mês para abrir a empresa, agora precisa apenas uma semana. Isso refletiu nos índices”, afirma o advogado Ardisson Naim Akel, que deixou essa semana a presidência da Jucepar.
Outras grandes cidades já têm esse sistema, como Londrina, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu e Guarapuava. A meta é alcançar todo o Estado. Cascavel e Maringá são alguns dos poucos centros que ainda não estão interligados na Redesim – decisão que depende unicamente da administração municipal. “A meta é atingir 100% das cidades. Mas essa é uma decisão que depende dos prefeitos. Os processos estão em andamento, inclusive em Cascavel, cuja implantação acreditávamos que seria possível em novembro do ano passado”, explica Akel.
Para que seja possível, Cascavel precisa adequar o sistema de dados da prefeitura para que sejam compartilhados com a Jucepar e a Receita Estadual.
Em nota, a Prefeitura de Cascavel informou que tem interesse em integrar a Redesim, mas não apresentou prazos nem metas.
Expectativas positivas para 2019
O consultor do Sebrae Luiz Marcelo Padilha afirma que, apesar das dificuldades do ano passado, a expectativa é de melhores ares para 2019. “As empresas apresentam sinais de fôlego. É possível crescimento positivo, saindo da recessão e aproveitando oportunidades como culinária vegana, gourmetização, hubs de trabalho, produtos orgânicos, cerveja artesanal, aplicativos facilitadores de acesso a produtos e serviços e muitos outros”.
Além disso, há uma tendência para os empreendedores obterem maior apoio das instituições para gerarem riqueza e renda, “principalmente pelos órgãos públicos, em criar melhorias no ambiente de negócios, facilitando acesso ao crédito, desburocratizando procedimentos, incentivos para empreender, melhor forma das aquisições públicas entre outras”.