Educação

Inclusão no ensino superior passa por superações pessoais e psicológicas

Estudantes falam sobre suas “lutas internas” em ocasião ao Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência, celebrado em 21 de setembro

Inclusão no ensino superior passa por superações pessoais e psicológicas

O desafio de inclusão da Pessoa com Deficiência (PCD) na sociedade passa, também, pelo ensino superior. A Unopar Cascavel possui um histórico de recepção de alunos com deficiência em cursos presenciais e a distância, seguindo uma tendência identificada pelo Censo da Educação Superior 2018.

De acordo com a pesquisa divulgada nessa quinta-feira (19) pelo Inep, o número de matrículas de portadores de necessidades especiais chegou a mais de 43 mil em 2018, o maior na série histórica e que representa um amento de mais de 30% nos últimos cinco anos.

Mas o caminho da inclusão é complexo e não envolve apenas limitações sociais e de recursos. Segundo os alunos da Unopar, a superação para quem chegou a esse estágio da educação está muito ligada aos aspectos pessoais e psicológicos, envolvendo autoestima e confiança em si mesmo. “Além do apoio, é importante termos essa discussão e sensibilização dentro das instituições, especialmente em datas como 21 de setembro, Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência”, afirma Dariny Schoder, coordenadora acadêmica da Unopar Cascavel.

Confira a história de dois alunos da faculdade que desafiaram a si mesmos para dar seguimento aos seus projetos de vida com a ajuda da educação superior.

José Felipe Pavan Oliveira, 26 anos, aluno de processos gerenciais

José Felipe faz o curso EAD de processos gerenciais tecnólogo, cursa engenharia e ainda é atleta, cuja atuação lhe rendeu recentemente uma medalha de prata nas Paralimpíadas Universitárias, representando a equipe de basquete da Unopar Cascavel.

Antes de se acidentar de moto, há seis anos, e enfrentar uma amputação de coxa, ele nem cogitava fazer faculdade por conta de suas condições financeiras. Inusitadamente, o trauma e a superação lhe abriram um novo caminho que o esporte adaptado apresentou.

“Quando esse tipo de coisa acontece é um choque. Muda completamente nossa vida. A gente passa um tempo em depressão, buscando aceitar. Quando percebi que isso ia me atrasar, mudei a chave. Minha primeira atitude foi entrar para uma academia, onde conheci a associação de paratletas de Cascavel. Uma coisa puxou outra e, graças ao esporte, hoje tenho bolsas que me permitem trilhar uma profissão”, relata.

Para José Felipe, as barreiras no acesso ao ensino superior afetam a todos. No caso da pessoa com deficiência, o desafio é vinculado à própria aceitação e à maturidade psicológica. “Depois da formatura a gente consegue quebrar ainda mais essas questões e mostrar que é tão capaz quanto qualquer outro profissional”, diz confiante.

Felipe Bento da Silva, 27 anos, recém-formado em Pedagogia

 

Felipe teve visão perfeita até os 21 anos. Porém, uma inflamação no nervo óptico lhe fez perder um dos principais sentidos do corpo num intervalo de apenas três meses. Na época, ele já havia concluído o Ensino Médio e trabalhava com próteses dentárias, sem planos de cursar uma graduação.

“O contato com a associação de deficientes físicos me despertou o interesse pela área de educação. É uma profissão cuja deficiência visual não limita seu exercício. Encontrei na faculdade outros alunos cegos e fiz também grandes amizades. Nunca passei por limitações que me impedissem de prosseguir com os estudos”, relembra Felipe.

Recém-formado, o profissional sempre manteve uma atitude proativa e positiva perante sua condição. Para Felipe, não basta um deficiente entrar na faculdade e já se considerar incluído. É preciso se desenvolver nas mesmas condições que os demais.

“Eu nunca encarei a minha formatura como algo especial. Apesar da limitação visual, meu processo de aprendizado é igual ao dos demais. Para quem está de fora, pode parecer um exemplo de superação, mas não vejo dessa forma. É claro que foi uma realização pessoal, pois sou o primeiro da minha família a ter um curso superior, mas nem por isso precisei usar a deficiência para me vitimizar e encurtar caminhos. O sucesso acadêmico vai da dedicação pessoal”, declara.