Saúde

Avanço da pandemia: Em dia de recorde, governador decreta quarentena no Paraná

Medida atinge sete regionais de saúde, num total de 134 cidades, inclusive todas do oeste do Estado

 Foto: Arquivo
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Reportagem: Cláudia Neis

 Cascavel – Um dia depois de promotores de Saúde do Estado pedirem medidas mais duras para o enfrentamento da pandemia no Paraná, o governador Ratinho Junior decreta medidas restritivas, o que chamou de “quarentena rigorosa” para 134 municípios que estão localizados nas sete Regionais de Saúde que têm mais incidência de casos de covid-19. O decreto entra em vigor nesta quarta-feira (1º).

A decisão foi anunciada ontem (30), dia em que o Paraná atingiu o recorde diário de novos casos, com 1.536 confirmações, e de mortes, com mais 36 registradas em apenas 24 horas.

O governador deixou claro que, ao contrário das outras medidas adotadas até então, em que “recomendava” aos prefeitos as ações, essa nova é “determinada” e deve ser cumpridas pelos municípios. “No início da pandemia, nós não determinamos medidas, pois as realidades dos municípios são diferentes. Mas, nesse momento, é preciso tomar decisões coletivas, pois, nesses locais, os casos vêm crescendo de forma semelhante e isso requer ações conjuntas”, afirmou.

Contudo, o governador frisou que o Paraná não está em lockdown: “É uma quarentena mais restritiva em algumas regiões onde a curva está fora do controle normal. Nossas decisões serão pontuais e regionais, um trabalho de acupuntura. Se conseguirmos frear a velocidade da propagação, teremos tranquilidade para atender bem a população e não colapsar”, reforçou Ratinho Junior. “Não dá para tratar com normalidade esse momento anormal. Infelizmente, teremos que conviver com essas medidas para diminuir o ritmo do vírus”.

Outras regionais de Saúde poderão ser alvo de medidas similares, a depender da evolução dos casos e do cálculo epidemiológico. O governo do Estado também pode editar normas específicas para atividades econômicas nas quais surjam focos da doença.

Faltam medicamentos, leitos e profissionais

O secretário de Estado da Saúde, Beto preto, citou uma previsão feita pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) que mostra que, se não adotar medidas agora, o Estado pode chegar a 30 mil casos de covid-19 na próxima sexta (5).

Ele alerta que, apesar dos esforços e da ampliação dos leitos de UTI no Estado, há falta grave de medicamentos necessários para a intubação e manutenção dos pacientes em respiração mecânica, além de falta de profissionais intensivistas. “Não há mais profissionais no mercado, assim como não há medicamento. Temos um estoque reduzido, suficiente para os próximos dias. São medicamentos que estão em falta e todos os estados e a compra tem ficado cada vez mais difícil”, admite.

Com as medidas, a taxa média de isolamento do Estado deve ficar entre os 52 e 55%, acima da média atual, de 36%.

Confira quais regiões são afetadas

O Decreto Estadual 4942/2020 entra em vigor imediato aos 134 municípios das seguintes regiões: 2ª Regional de Saúde (abrange Curitiba e Região Metropolitana); 9ª Regional de Saúde, de Foz do Iguaçu; 10ª Regional de Saúde, de Cascavel; 13ª Regional de Saúde, de Cianorte; 17ª Regional de Saúde, de Londrina; 18ª Regional de Saúde, de Cornélio Procópio; e 20ª Regional de Saúde, de Toledo.

O que muda?

  • Ficam restringidas as atividades econômicas não essenciais (shoppings, galerias, comércio de rua, feiras, salões de beleza, academias, bares, casas noturnas);
  • Transporte público poderá atender somente trabalhadores dos serviços essenciais e a lotação fica restrita à quantidade de assentos;
  • Funcionamento dos mercados de segunda a sábado, das 7h às 21h, limitado a 30% da capacidade total; acesso limitado a uma pessoa da família e está proibida a entrada de menores de 12 anos;
  • Fica suspenso o funcionamento de serviços de conveniência em postos de combustíveis (exceto nas rodovias);
  • Restaurantes e lanchonetes poderão atender somente no sistema drive-thru, delivery ou take away (retirada no balcão);
  • Reuniões profissionais ou pessoais devem ser realizadas virtualmente e, quando necessário, com até cinco pessoas;
  • A abertura de parques, praças e demais áreas coletivas ao ar livre fica a critério de cada prefeitura.

A fiscalização será realizada pela Polícia Militar em parceria com as Guardas Municipais, sob pena de multa em caso de descumprimento.

Prefeitos são contrários

Apesar de o governador Ratinho Junior ter recebido o apoio da maioria dos prefeitos para as novas medidas, na região oeste o decreto não foi bem recebido.

Toledo, que horas antes havia baixado novo decreto municipal flexibilizando as medidas restritivas impostas por dez dias no Município, permitindo a reabertura de grande parte das atividades comerciais, informou por nota: “Ainda não há nenhuma decisão com relação ao Decreto Estadual. Permanece o Decreto Municipal publicado pela manhã”.

Em Cascavel, o prefeito Leonaldo Paranhos usou as redes sociais para anunciar que vai recorrer da determinação estadual. “O nosso procurador jurídico, Luciana Braga Côrtes, já prepara a documentação administrativa e o secretário de Saúde, Thiago Stefanello, também está finalizando uma planilha de dados que mostram que Cascavel tem feito o dever de casa com responsabilidade no enfrentamento ao novo coronavírus. Assim, até quinta-feira (2) vamos recorrer à Secretaria de Estado da Saúde em relação às medidas. Nós, desde o início, temos trabalhado para salvar vidas, mas também garantir que o setor econômico sobrevivia”, argumentou o prefeito.

Cascavel é a segunda do Estado em número de casos e a terceira em total de mortes. Paranhos atribuiu os números à quantidade de testes aplicados. Até ontem, Cascavel tinha 2.970 infectados e 50 mortes por covid-19.

Na fronteira, os principais atrativos turísticos de Foz do Iguaçu informaram que voltam a fechar as portas para os turistas a partir de hoje. O prefeito Chico Brasileiro afirmou que o decreto será “cumprido rigorosamente” diante da gravidade da situação e que não entra no mérito do posicionamento de outros municípios.

Já a Amop (Associação dos Municípios do Oeste do Paraná) deve reunir os prefeitos para discutir quais medidas poderão tomar.

Clique aqui e leia o decreto na íntegra.