Saúde

Ala de desintoxicação do Huop transborda sentimentos de esperança e gratidão

O processo de desintoxicação demora em média de 30 a 40 dias

Ala de desintoxicação do Huop transborda sentimentos de esperança e gratidão
O corredor em silêncio dá acesso a entrada principal de um ambiente cheio de esperança. Por aqui, os pacientes são adolescentes e jovens, internados na Ala de Desintoxicação do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (Huop). A maioria deles carrega traumas e riscos por conta do uso de drogas. Uma realidade complicada, mas com um tratamento esperançoso. Ricardo* buscou o atendimento por conta própria e foi encaminhado para a internação no hospital. Essa é a segunda vez que ele está na ala. Há três anos, foram os familiares que fizeram o pedido do internamento, porém, ele não chegou a fazer o acompanhamento posterior e precisou voltar. “Agora quero dar orgulho para a minha família”, diz. Ele fez 18 anos recentemente e ganhou uma comemoração da equipe de internamento. Motivo que o deixou ainda mais animado pela recuperação longe das drogas. “Teve alegria no meu coração nesse dia. Aprendemos muitas coisas aqui dentro, que temos que ter amor a vida. Essas pessoas aqui são especiais para mim, pois sem elas ou ia morrer ou ia viver na cadeia”, diz. Rodrigo* continuou o tratamento contra as drogas em uma comunidade terapêutica. “Quero sair feliz e longe das drogas”, comenta.

O sentimento de esperança também transborda entre os familiares, que são atendidos nesse processo. Andreia* é mãe de um dos pacientes, atendido pela segunda vez no Huop. Ela reitera o trabalho realizado pela equipe multidisciplinar, que a tem confortado nos dias mais difíceis do processo. “Fiquei impressionada pela humanização da equipe. Não medem esforços para acolher e estou muito feliz que exista esse tipo de tratamento ainda”, comenta.

O processo de desintoxicação demora em média de 30 a 40 dias. Os pacientes internados na ala, são encaminhados devido à gravidade do uso de drogas, muitas vezes com risco pessoal, social e familiar. “Nesse período é realizada a adaptação medicamentosa, e o atendimento de base para pensar na abstinência e redução do uso de drogas”, destaca a psicóloga e coordenadora da Ala de Desintoxicação, Monica Stelmach.

*Nomes fictícios dos personagens.

Rotina da Ala de Desintoxicação envolvem atividades essenciais de convívio social e familiar

A rotina na Ala de Desintoxicação envolve medicamentos, mas vai além disso. Por aqui, os pacientes, participam também das aulas ofertadas pelo Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar (Sareh), entre outras oficinas que envolvem práticas físicas e motoras. “Retomamos algumas atividades essenciais para a formação e desenvolvimento deles, que muitas vezes haviam perdido por conta da dependência química. E a gama de oficinas é extensa, e auxiliam muito nas questões físicas, motoras, de concentração, e criatividade”, diz o assistente social, Anderson Tosti.
Além das atividades, há também visitas semanais, para que eles possam resgatar o convívio familiar. “Muitas vezes eles entram aqui com revolta dos familiares por buscarem essa alternativa, mas com o passar do tempo, se sentem à vontade, observam que o espaço oferece coisas boas e percebem então que essa decisão foi feita por amor. Ou seja, não é apenas trabalhar a dependência como um problema de saúde, mas também de conseguir resgatar o convívio social e familiar”, comenta Anderson Tosti.

Ala de Desintoxicação recebe mais de 350 pacientes anuais

São em média mais de 350 pacientes recebidos anualmente na Ala de Desintoxicação do Huop encaminhados via Central de Leitos. Os pacientes são oriundos de todos os municípios da região, contemplando cerca de 25 regionais. “São pacientes com uso exacerbado de drogas e que o município não consegue mais tratar de modo individual e específico”, explica a psicóloga e coordenadora da ala, Monica Stelmach. No Huop, pacientes até 18 anos incompletos podem ser atendidos. Mas a preocupação também é com os mais jovens. Nos últimos três anos, pacientes de 11 anos foram recebidos na unidade hospitalar por conta do uso de drogas. Todos são atendidos em grupo na unidade. “Cada paciente tem um tipo de adaptação, mas normalmente fazemos a entrada em grupo, e todos saem juntos. Percebemos que em grupo, devido a fase de desenvolvimento humano, eles começam a se compreender e trabalhar juntos. De forma individual, havia uma recaída por conta da frustração e a dificuldade em lidar com o trauma”, explica Monica.

Logo após o processo, o paciente então é encaminhado via Regional de Saúde, e com acompanhamento do Ministério Público, para um serviço de referência do município onde reside. Em alguns casos, segundo Monica, o adolescente acaba voltando para o hospital. “Temos alguns casos reincidentes, em que o paciente tem uma recaída e uma dificuldade no autocontrole. Então eles retornam para a desintoxicação, pois são casos em que há uma gravidade no uso de drogas”, destaca.

De acordo com a psicóloga, é necessária uma desmistificação da ala, tendo em vista que os pacientes acometidos pelo uso de drogas, nem sempre apresentam características de outro problema relacionado à saúde mental. “Quando o usuário de drogas é colocado junto à pacientes psiquiátricos, ocorre uma diferença no tratamento. Portanto, a Ala de Desintoxicação não é uma unidade psiquiátrica convencional, pois aceitamos apenas dependentes químicos”, ressalta Monica.