São Paulo – A confusão envolvendo uma possível saída do ministro Sergio Moro do Governo Bolsonaro sacudiu o mercado financeiro brasileiro. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou em queda de 1,26%, aos 79.673,30 pontos nessa quinta (23) e o dólar terminou o dia com alta de 2,2%, a R$ 5,5287, após bater em R$ 5,53 – novo recorde nominal (quando não considera a inflação) para a moeda americana.
A notícia saiu no meio da tarde e em seguida o Ibovespa, principal índice do mercado de ações do Brasil, chegou a cair mil pontos, mais de 2%, e voltou ao patamar de 78 mil pontos. Antes do anúncio de uma possível saída de Moro, ela subia aos 81.887,56 pontos.
Uma escalada para o ativo já era prevista. Ontem o dólar começou em alta de quase 1%, a R$ 5,42, e recuou para R$ 5,40 somente após uma ação do Banco Central. Já no fim da manhã, ele tornou a subir e ficou acima de R$ 5,45. O movimento de valorização seguiu na parte da tarde e às 16h a moeda subia a R$ 5,49; então, 17 minutos depois ela alcançou os R$ 5,50. A nova máxima de R$ 5,53 foi atingida às 16h58, minutos antes de encerrar o pregão.
Além das incertezas envolvendo o ministro, também influencia a moeda a possibilidade de redução de 0,75 ponto da Selic – a taxa básica de juros da economia. É importante destacar que a diminuição drástica da taxa, hoje em 3,75% ao ano, afasta o investidor estrangeiro do País, pois interfere diretamente nos rendimentos.
A valorização da moeda dos Estados Unidos é superior a 35% este ano. A alta brusca dos valores também afeta o euro, atualmente cotado a R$ 5,93 – valorização que já ultrapassa os 30% somente em 2020.
Cenário local
O mercado brasileiro também foi impactado pelo anúncio do plano Pró-Brasil, projeto que visa estimular os investimentos no País. A iniciativa, que ficará sob o comando do ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, não tem o aval do Ministério da Economia, que afirma não ter verba para o programa – ideia que é compartilhada pelo secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Nesse cenário, o Planalto já considera pedir a ajuda dos Estados Unidos para financiar a ideia.
Também preocupam os investidores as incertezas em torno do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600. Na noite da última quarta, o Ministério da Cidadania recuou da ideia de adiantar o pagamento da segunda parcela devido a limites no orçamento. Ontem, o “fantasma das pedaladas” começou a rondar a equipe do governo, que teme o mesmo fim do Governo Dilma Rousseff.
Afinal, Moro sai ou fica?
Uma semana após a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde, uma nova bomba no Palácio do Planalto. Logo após a informação de que o presidente Jair Bolsonaro pretende substituir Maurício Valeixo no comando da Polícia Federal, o ministro da Justiça, Sergio Moro, teria avisado que também deixaria o cargo.
O problema não é exatamente a saída de Valeixo, a qual já vinha até sendo tratada entre ele e Moro desde o início do ano, a pedido do próprio Valeixo, que relatou um 2019 tenso na direção da corporação.
Contudo, Moro pretende (ou pretendia) escolher o substituto. A confusão então se deu quando Bolsonaro avisou que ele mesmo escolheria o substituto. É a segunda vez que o presidente ameaça trocar a cúpula do órgão e em ambas a reação foi igual.
Bolsonaro defende a indicação de Anderson Torres, atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, para o comando da PF, mas o nome encontra resistência de Moro. Além disso, o presidente quer que o indicado não seja escolhido pelo ministro.
Um nome alternativo para assumir o posto é do diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem, aprovado por Bolsonaro e visto por Moro como a solução “menos pior”. Só que o ministro ainda tenta emplacar o nome do secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Pontel.
O que não faltou foi especulação em torno do assunto. Uma delas é que Bolsonaro se irritou por Valeixo ter mantido a equipe que investiga a CPI das Fake News no processo que vai apurar os atos antidemocráticos do último fim de semana; além disso, especula-se que a PF chegou perto do “gabinete do ódio”, comandado pelo filho do presidente Carlos Bolsonaro, e que teria ligação com a disseminação de fake news.