BOGOTÁ ? Isidro Montiel espera enriquecer com o cacau após anos de cultivo de coca no “Triângulo do Mal”, antigo reduto do cartel de drogas de Medellín, no Leste da Colômbia, onde a pasta base de cocaína ainda é moeda.
Ele mudou-se em 1982 para a região de Guérima, Chupave e Porto Príncipe, no sul do departamento de Vichada, na fronteira com a Venezuela e às portas da Amazônia.
? Me disseram que plantar coca era bom – destaca, em entrevista à AFP em Guérima, onde vivem menos de mil habitantes. A região, que já contou com 12 mil moradores, é conhecida como o Triângulo do Mal, devido a seu difícil acesso.
Neste departamento, que tem o tamanho da Guatemala mas é quase despovoado, Carlos Lehder construiu pistas clandestinas para enviar cocaína para os Estados Unidos. O rumor de que precisava de mão de obra para o seu império se espalhou pela Colômbia, principal cultivadora mundial de folha de coca e maior produtora de cocaína, segundo a ONU.
O domínio do Lehder ? primeiro senhor das drogas colombiano extraditado para os Estados Unidos por narcotráfico em 1987 ? terminou depois de ele ser entregue pelo sócio Pablo Escobar. O setor, então, foi controlado pelas Farc, a principal guerrilha da Colômbia, que em novembro assinou um acordo para encerrar confrontos contra o governo que já duram 52 anos.
Segundo as autoridades, os guerrilheiros mantiveram seu domínio a partir de “um imposto” sobre a produção da pasta base de cocaína.
? Era uma questão de humilhante: paga ou paga. Isso não é justo, você tem que trabalhar e dar o produto ? conta Montiel, que precisava entregar às Farcs cerca de US$ 240 do que ganhava com um quilo da pasta, avaliado em US$ 760.
Montiel, então, inscreveu-se em 2012 em um programa de governo para a substituição de cultivos ilícitos, que abrange atualmente 240 famílias.
Como ele, que plantou 8 mil plantas de cacau, outros deixaram seus trabalhos após a queda do valor da coca, que enfrentava problemas em diversas etapas, da produção aos riscos de ilegalidade do transporte.
? O dinheiro vai para os grandes traficantes de drogas ? explica Jesus Sanchez, produtor de coca entre seus 16 a 59 anos de idade.
Segundo a AFP, a pasta base de cocaína em Guérima vale US$ 690, enquanto em Bogotá seu custo chega a US$ 12 mil.
Os cultivadores de cacau, por sua vez, recebem até US$ 1.700 em cada uma das duas colheitas anuais, já que a iniciativa do governo inclui subsídios e convênios com as principais empresas de chocolate do país.
A meta oficial é que Vichada, que tem 683 hectares de coca (eram 10 mil em 2002), esteja livre dessas culturas em três anos. No entanto, mesmo com os elogios ao programa, a insegurança ainda é uma ameaça ao departamento, por onde passam traficantes da Venezuela e do Brasil.
? Nós ainda temos uma economia de coca ? disse Camilo Florido, assessor do governo.
A pasta base de cocaína, no entanto, ainda pauta a economia da região. Uma grama do produto equivale a um valor entre US$ 0,62 e US$ 0,69. Um almoço, por exemplo, custa cinco gramas (US$ 3,40).
Agora, os ex-produtores de coca encaram o cacau como um seu seguro de pensão.
? Pode não fazer muito dinheiro, mas podemos ter uma vida mais ou menos estável, e ninguém nos incomoda ? conta Sánchez.