Cotidiano

Sem Padilha, Temer assumirá negociações com Congresso

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BRASÍLIA. Sem seu principal articulador no Congresso, o ministro Eliseu Padilha (Casa
Civil), que está de licença médica, o presidente Michel Temer terá que assumir o
comando das negociações das reformas que tramitam na Câmara, em especial a da
Previdência. Com pressa para aprovar as mudanças no sistema de aposentadoria e
pensão, Temer reorganizou na semana pré-Carnaval sua tropa de choque na Casa,
tirando de destaque o então líder do governo, André Moura (PSC-SE). O presidente entregou o
cargo ao PP do deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), um dos maiores partidos da base
aliada e criou a liderança da maioria, cargo que passa a ser ocupado por Lelo
Coimbra (PMDB-ES), para acalmar a bancada do seu partido que reclama
sistematicamente de falta de espaço nos governos dos quais participa. A saída de
Moura da liderança também atende ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
que pediu sua demissão por divergências políticas.

Além de ter se submetido a uma cirurgia em meio ao
feriado de Carnaval, Padilha foi atingido na última quinta-feira por depoimento
do advogado e amigo de Temer José Yunes. À Procuradoria-Geral da República, ele
colocou Padilha em situação delicada ao dizer que foi “mula involuntária” do
chefe da Casa Civil. Segundo declarou Yunes, ele recebeu um pacote em seu
escritório, a pedido de Padilha, do doleiro Lúcio Funaro.

TEMOR DA EQUIPE ECONÔMICA

A volta de Padilha da licença está prevista para a próxima segunda-feira, mas
a depender da sua recuperação, o afastamento poderá se estender por tempo
indeterminado. A equipe econômica já demonstrou preocupação com a condução das
reformas, em especial a da Previdência. Padilha é visto com a ?voz forte? do
governo, capaz de conduzir o andamento dos projetos nas casas legislativas.

O pano de fundo das mudanças feitas por Temer na Câmara está na desidratação
do centrão, que vinha perdendo força desde a cassação de Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), no ano passado, atingindo seu ápice com a reeleição de Maia, em
fevereiro. A insistência do deputado Rogério Rosso (PSD-DF) em se manter
candidato contra o democrata e outro deputado da base, Jovair Arantes (PTB-GO),
assim como Rosso proeminência do ?centrão?, implodiu de vez o bloco. Rosso
desistiu horas antes da disputa e Jovair somou apenas 105 votos, permitindo que
Maia se reelegesse com folga no primeiro turno.

? Seria melhor um nome que estivesse afinado com o presidente da Câmara.
André Moura, sem dúvida, não é ? disse Maia ao GLOBO, acusando Moura, do
centrão, de ter sido “parcial” na disputa em questão.

ENFRAQUECIMENTO DO CENTRÃO AJUDOU PLANALTO

A perda de força do centrão foi uma boa notícia para o Palácio do Planalto em
meio a problemas políticos que Temer enfrenta em função das baixas da Lava-Jato.
Com Padilha licenciado, em princípio, até o dia 6 de março, mas podendo ampliar
o afastamento por mais alguns dias ou semanas, o governo acha mais confortável
tratar diretamente com os presidentes e líderes dos partidos aliados.

? Partidos que integravam o bloco, como PR, PP, PRB e PSD, migraram para a
institucionalidade da Casa. Desta forma, o governo passou a ter dois caminhos:
negociar com a Câmara ou diretamente com os partidos aliados ? afirmou um
interlocutor presidencial.

Quando o centrão dava as cartas nas negociações com o governo, era mais
difícil contemplar todos os pedidos e ainda ver cumpridas promessas de votos em
troca de cargos federais país afora ou de liberação de recursos nos estados,
principais pedidos do bloco.

Desde que Cunha foi cassado, assumiram informalmente a
liderança do centrão Jovair, Rosso e Moura, três parlamentares que, agora,
perdem espaço. Na semana passada, Temer quase nomeou Moura para a liderança da
maioria. Mas entre atender ao centrão disforme e a pressão de seu partido, com
68 deputados, optou por um peemedebista no cargo. Incitados por Jovair,
deputados passaram a difundir que ele estava negociando com Temer assumir como
ministro do Esporte. Interlocutores presidenciais, no entanto, dizem desconhecer
tal possibilidade e reforçam que Leonardo Picciani permanecerá no cargo. Quanto
a Rosso, perdeu o apoio do PSD na disputa a presidente da Câmara e ficou sem
nenhum posto de destaque, como almejava, na Casa.

O enfraquecimento do centrão pode ser visto em uma comparação de três meses:
em dezembro, o bloco fez com que o presidente Michel Temer segurasse a nomeação
de Antonio Imbassahy (PSDB-BA) para a Secretaria de Governo, pasta chave na
articulação política do Planalto com o Congresso. O exigido era que a indicação
viesse só após a eleição na Câmara. No mesmo mês, o centrão aliou-se à oposição
e aprovou, sem contrapartidas, a renegociação da dívida dos estados.

Na ponta do lápis, o centrão representava apoio de mais de um terço dos 513
deputados, mas há meses vinha impondo dificuldades ao Planalto, inclusive
confrontando publicamente aliados fora do bloco.

PADILHA DEVE ESTENDER LICENÇA

O ministro licenciado da Casa Civil, Eliseu Padilha, manteve nesta terça-feira o quadro
estável após se submeter a uma cirurgia na próstata, na tarde de segunda-feira,
em Porto Alegre. De acordo com boletim médico divulgado anteontem, o
procedimento envolveu anestesia geral e não teve intercorrências. “As condições
gerais são estáveis”, diz o texto assinado pelo urologista Claudio Telöken e o
médico intensivista Nilton Brandão.

Padilha, de 71 anos, permanecerá em
recuperação pós-operatória e monitorado pelo menos até hoje. O objetivo da
cirurgia era tratar uma obstrução na região. No dia 20 de fevereiro, Padilha passou mal e foi
internado no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, para tratar de uma
obstrução urinária. Na ocasião, foi diagnosticado com hiperplasia prostática
(aumento da próstata).

Segundo a assessoria de Padilha, seu retorno a Brasília
está previsto para segunda-feira. O presidente Temer e o ministro acertaram uma
licença médica que, em princípio, se encerra nessa data. Mas o período de
recuperação do tipo de procedimento a que se submeteu pode ser maior. Este
poderá ser o argumento para prolongar afastamento do político, enquanto seu
futuro no governo não é definido.