
Cascavel - Você sabe ver as horas em relógio de ponteiros? Se você achou que a pergunta é absurda, certamente você não é “século passado”. Faz pouco tempo que esta vos escreve foi surpreendida com a constatação de que os mais jovens, em sua maioria, não são dotados de tal capacidade – tal qual habilidade em passar um fax, datilografar um ofício ou ainda usar o orelhão.
Eis que uma jovem fazia bolos e atrasava todas as encomendas. Os clientes chegavam e os pedidos nunca estavam prontos. Um dia, a patroa a chamou para e entender o motivo dos repetidos atrasos e então ela, esbanjando colágeno do alto de seus vinte e poucos anos, revelou que não sabia ver as horas no relógio analógico da cozinha da confeitaria. Assustada, porém focada em resolver o problema, a dona da empresa substituiu os ponteiros pelos dígitos e não houve mais registro de freguês descontente por ali.
Longe de este periódico usar o “etarismo” – esta sim, palavra moderna, que está inclusive em alta por aí que é traduzida por preconceito ou discriminação contra pessoas com base na idade – para distinguir seus leitores, até porque, não foi pela dificuldade de ler os ponteiros que os relógios marcadores do consumo da energia elétrica estão sendo substituídos em todo o Paraná.
Passamos para o assunto economia, tutu, bufunfa – que não faz distinção de idade e quando alguém se sente lesado, saem cobras e lagartos na tentativa de “acertar os ponteiros”.
A última moda
O fato é que a Companhia Paranaense de Energia – a Copel – está implantando no Paraná uma rede de distribuição de energia mais moderna. É o programa REI (Rede Elétrica Inteligente), o reinado da tecnologia que automatiza o sistema, tornando-o mais eficiente, seguro e confiável, segundo assegura a própria companhia.
Sem nenhum custo para o consumidor, essa nova tecnologia promete reduzir o tempo de desligamento provocado por intempéries e outros fatores externos. Isso porque, quando houver quedas de energia, o medidor inteligente avisa imediatamente a Copel. E o consumo ainda pode ser controlado pelo cliente por meio de um aplicativo de celular.
Os equipamentos inteligentes substituem os medidores convencionais de energia, também chamados de relógios e, por estarem conectados a uma rede de telecomunicações, são capazes de identificar falhas ou interrupções de maneira imediata. Os principais objetivos do programa são a redução das quedas de energia, o aumento da autonomia dos clientes por meio do acompanhamento do consumo e a agilidade operacional nos atendimentos comerciais, com a automação de serviços como leitura e religação, por exemplo.
Em Cascavel, as trocas iniciaram em junho do ano passado e a nova tecnologia já cobre 80% das unidades consumidoras do município.
Conta alta e a ‘boca no trombone’
A companhia teve de fazer campanha – parece trava-língua – mas a expertise da Copel parece ter previsto que muitos consumidores iriam olhar torto para a mudança. Dito e feito. Diante da primeira fatura após a troca de medidores, começaram a surgir na imprensa e também nas redes sociais as primeiras reclamações de que os valores aumentaram, em muitos casos, consideravelmente.
A ‘Eve’ é uma das consumidoras de Cascavel que usou as redes sociais no último dia 3 para colocar a ‘boca no trombone’ e reclamar da novidade: “Sobre o aumento da fatura da Copel, que veio uma mudança absurda no valor, alguém tem uma orientação sobre? A fatura de abril já está lançada no sistema com o valor de R$ 576,11”. Na postagem de Eve, até o fechamento desta edição, 175 comentários de outros clientes locais compartilhavam experiências de quem também já foi surpreendido. Alguns incitavam um protesto em frente à sede da Copel na cidade, outros apelavam pelo lado político e outros ainda sugeriam um processo judicial coletivo.
“Já vi várias pessoas postando sobre o assunto, e em todas as publicações inúmeras pessoas comentando o mesmo, que vieram aumentos incomparáveis com o que vinha antes, e não vi nenhuma pessoa dizendo ao contrário, que veio a mesma coisa. Impossível isso aí estar certo. Algo tem que ser feito. Agora você imagine: a pessoa acostumada a pagar 50, 60 reais e de repente vem mais de 500? Um rombo no orçamento… Não tem como”, resumiu a Bruna em seu comentário no grupo de reclamações.
A Copel afirma que a instalação do novo equipamento não teria custo para o cliente, mas quando a esmola é demais o santo desconfia e pelos aumentos já estão concluindo que o valor está sendo cobrado de forma ‘embutida’, como apontou a postagem da Suellen: “Esse novos medidores que foram trocados, alguém vai pagar e no caso nós, falaram que não tinha custo pra a população, tudo mentira”.
Nas considerações que ganham repercussões nas redes, ainda tem quem aponte que os relógios antigos eram muito antigos mesmo e poderiam não estar fazendo seu serviço de medir direito. Será? Sabemos que relógio não trabalha de graça, mas com preguiça, ainda não tinha ouvido falar.
Teve quem achou supimpa!
Você já ouviu dizer que quando um cliente gosta de um serviço ele comenta com duas pessoas e quando ele não gosta comenta com 20? Pois então, com o novo equipamento da Copel não poderia ser diferente, não é mesmo?
Entre as publicações sobre o assunto, são poucas as que reconhecem algum benefício do equipamento. Mais fácil é ouvir o amigo do vizinho do cunhado do primo relatando que com o medidor inteligente a conta de luz baixou. Até a redação do Hoje Express chegaram casos de diminuição dos valores, como o relato de um dos diretores: “Pra mim a conta baixou 30% pelo menos, no meu pai baixou, lá na casa da minha madrasta baixou, no meu vizinho baixou, para todo mundo que eu conversei, pra todo mundo baixou a conta”.
Lé com crê
A reportagem do Hoje Express foi perguntar o que a Copel tem a dizer sobre as reclamações dos consumidores e foi informada de que “os medidores inteligentes instalados pela Copel garantem a integridade na medição do consumo de energia. As variações que possam ocorrer refletem exclusivamente o uso real de eletricidade, como se dá em períodos de maior calor, por exemplo, sem nenhuma interferência do novo equipamento”.
Ah! Mas tá muito calor! O aumento registrado pelos termômetros nesta estação, também faz a conta ficar mais cara e a companhia corroborou esta afirmação.
“A variação de temperaturas é um dos fatores de influência sobre o uso da energia nas residências. No Paraná, de 2021 a 2024, a Copel observou um aumento médio de 9,5% no consumo de energia elétrica das residências paranaenses nos meses mais quentes, de outubro a março, em comparação com os meses mais frios do ano, o período de abril a setembro. A variação é mais expressiva na região Oeste paranaense, onde o consumo residencial médio nesta mesma comparação subiu 20,6%. O Noroeste aparece em seguida, com um crescimento médio de 17%, e o Norte, com aumento médio de 10,7%. Já nas regiões Leste e Centro-Sul do Paraná, o impacto das altas temperaturas no consumo residencial foi mais discreto, com variações médias de 1% e 2%, respectivamente”, afirmou a assessoria da Copel.
Se não tem remédio…
Se você está entre os consumidores que ficaram grilados com a conta de luz depois da troca de medidores, antes de botar pra quebrar, a Copel recomenda que para verificar a fatura pode usar o aplicativo e o próprio histórico de consumo presente na conta de luz. Para dúvidas, pode contatar o atendimento presencial ou ligar para o 0800 51 00 116. Nas regiões em que a instalação do sistema da rede inteligente está concluída, os consumidores podem observar o consumo da sua região, para efeito de comparação. No site www.copel.com, também é possível utilizar um simulador de consumo para comparar o peso de cada aparelho na conta de luz. A ferramenta está disponível em “Para sua casa”, no item 7 – Simule seu consumo.