Na região oeste, a produção deve cair 11,5% conforme números apurados junto aos núcleos da Seab de Cascavel e Toledo
Toledo – Agonizando diante da inexistência de uma política pública nacional e produção e comercialização eficientes para subsidiar o produtor no campo, o trigo apresenta a cada ano drásticas reduções em sua área plantada e de produção na região oeste. Comparando os números da safra passada com a estimativa de colheita atual, a redução na produção será de 11,5%.
O Paraná é considerado atualmente o maior produtor de trigo do Brasil, com uma safra estimada em 2,8 milhões de toneladas e um consumo interno anual de 700 mil toneladas. Porém, a realidade é bem diferente quando o assunto envolve a indústria moageira, detentora de uma capacidade de armazenamento de 3,7 milhões de toneladas de trigo, ou seja, o Estado precisa importar 34% de trigo para fazer os moinhos trabalharem com sua capacidade máxima, ampliando o fornecimento de farinha e demais subprodutos a outras regiões do Brasil. Boa parte deste trigo importado é proveniente do nosso país vizinho, a Argentina. Os números acima foram apurados junto ao presidente da Coopavel, Dilvo Grolli.
“Dependendo do ano, o Brasil precisa recorrer a 20% do trigo de outras regiões para atender sua demanda”, salientou. Em algumas situações, os moinhos são obrigados a importar um pouco de trigo para fazer a combinação dos grãos e chegar a uma qualidade específica da farinha. “O trigo sempre será um bom produto para o Estado, pois desfrutamos de boas condições para produzir e contamos com uma excelente capacidade de moagem, além de garantir a geração de renda no campo e na cidade”.
Já em relação ao Brasil, o déficit de demande de seis milhões de toneladas. A produção estimada desta safra é de pouco mais de 5 milhões de toneladas, para uma carência de 11,3 milhões de toneladas.
Dilvo Grolli diz que a propriedade agrícola precisa ser aproveitada ao máximo, com duas safras de verão ou uma de verão e outra de inverno. “Não podemos deixar o nosso solo ocioso”. Segundo ele, a queda na produção de trigo na região é consequência do aumento de plantio da segunda safra de milho.
Queda na produção regional será de 11,5%
No oeste do Paraná, a área plantada, somando as regionais da Seab de Cascavel e Toledo (ambas cobrem em sua totalidade os municípios da região), a área total plantada é de 117.420 hectares, com uma produção estimada de 380.418 toneladas. A produção no ano passado somando as duas regionais foi bem superior, alcançando 429.056 toneladas. Esses números foram obtidos em uma área total de plantio de 134 mil hectares. Diante desses indicadores, a queda na produção será de 11,5%.
Na regional de Toledo, a expectativa é de colher 67.938 toneladas em uma área de 17.420 hectares. Na safra passada, a Seab de Toledo registrou área plantada de 23.180 hectares e uma produção de 72.056 toneladas.
Na regional da Seab/Cascavel, é possível ainda notar a força de produtores tradicionais do trigo, dispostos a lutar contra as adversidades e continuar apostando no plantio. Para essa safra, a expectativa de produção é de 312.480 toneladas em uma área de 100 mil hectares de plantio. No ano passado, a regional colheu safra recorde, chegando a 357 mil toneladas, extraídas de uma área de 111 mil hectares.
Segundo o técnico do Departamento de Economia Rural da Seab/Toledo, Paulo Oliva, na região de Toledo a predominância é a segunda safra do milho safrinha. Esse é um dos fatores que faz o trigo perder espaço a cada ano no campo. “O trigo só sobrevive na nossa região por conta dos tradicionais produtores, que usam a cultura para promover a rotatividade no solo e para o controle de pragas, como a buva”, destacou Paulo Oliva. “Precisamos urgente de uma política de incentivo a essa cultura”.
Outro especialista na área, o analista de mercado, Camilo Motter, comenta que o Brasil é o segundo maior importador de trigo do mundo, ficando atrás apenas do Egito. Ele aponta uma irregularidade climática verificada em países importadores como Estados Unidos, Canadá e países do leste europeu, como Rússia, Ucrânia e também a Austrália. Hoje, a saca está cotada a R$ 35, bem abaixo do preço mínimo praticado, que é de R$ 38 a saca de 60 quilos. “Esse ano a comercialização está lenta e os preços ruins, embora o mercado agora comece a apresentar um novo perfil, de preços em alta por conta das intempéries climáticas e outros países”.
Conforme o técnico do Deral, J. J. Pertille, o trigo presente hoje no campo apresenta baixa qualidade. Atualmente, na região de cobertura da Seab de Cascavel, 70% do trigo mostra estado vegetativo, 20% em floração e 10% em frutificação. A colheita na região deverá iniciar em no máximo 40 dias.